
No ano de 1974, Nixon foi o primeiro presidente americano a renunciar o seu cargo, deixando a população indignada e revoltada por ele não ter tido o julgamento que merecia, além de nem sequer pedir desculpas aos seus eleitores. E ainda foi perdoado pelo seu sucessor Gerald Ford, pelas suas transgressões. Quase três anos depois de sua abdicação, no dia 19 de maio de 1977 , Nixon falou à imprensa pela primeira vez depois de abandonar a Casa Branca, protagonizando uma das entrevistas mais bem-sucedidas da história. Essa outra parte da vida do polêmico Richard Nixon é o tema de outro filme tão indispensável quanto aquele dos repórteres: Frost/Nixon (2008) de Ron Howard, diretor de filmes de grande apelo comercial como O Código Da Vinci, Anjos e Demônios do vencedor do Oscar Uma Mente Brilhante e do emocionante A Luta pela Esperança.
David Frost (Michael Sheen) é um apresentador de um programa de auditório na Austrália, ao assistir a dramática saída do presidente na televisão, ver a chance de "reacender" sua carreira nos Estados Unidos, entrevistando uma das personalidades mais controversas da época. Nixon (interpretação magnífica de Frank Langella) ainda atormentado pelo Watergate, sente que essa entrevista é a oportunidade de melhorar a sua imagem e de se tornar "presidenciável" novamente nas próximas eleições. Pagando do seu próprio bolso e recebendo "não" de todas as emissoras e de patrocinadores que não confiam no seu "projeto", Frost não se detém e não desanima, e segue em frente com a tal entrevista, mesmo a imprensa não acreditando no seu potencial como entrevistador, e achar que ele será "bonzinho demais" com o entrevistado.

Chega o dia da entrevista. O duelo de gigantes começa. Parece até uma luta de gladiadores. Para o povo americano, a entrevista é o julgamento que Nixon nunca teve e a oportunidade de dizer finalmente a verdade. As cenas da entrevista são o ponto alto do filme. Não que o restante do longa seja descartável. Pelo contrário, Howard e sua direção segura, somado a um roteiro ágil, resulta num trabalho surpreendente, longe de ser chato e sonolento, como se presume quando o tema do filme é sobre política ou envolve personalidades do meio.
A humanização do ex-presidente na produção é outro destaque. Langella faz um trabalho exemplar livrando o seu personagem de cair na caricatura, como torná-lo o vilão da história. Mas o ator dá vida a um homem comum, educado, de aparência tranquila, mas cansada, ambicioso, manipulador, ora irônico e ora engraçado, porém, é um homem que cometeu erros, graves erros.
E é a imagem de homem devastado, com uma expressão de derrota em sua face, que Nixon mostra diante das câmeras no ato final. É a imagem que fala mais que as palavras que o povo gostaria que ele dissesse. É a expressão de alguém que carregará consigo um fardo imenso por toda a sua vida.