A menos de um ano do lançamento
de seu filme anterior, Os Suspeitos, um novo trabalho do elogiado diretor Denis
Villeneuve chega às telonas. O cineasta se junta novamente com Jake Gyllenhaal
em O Homem Duplicado (Enemy, 2014), suspense psicológico e enigmático baseado
na obra do autor português José Saramago. O resultado, quero deixar você
avisado, é bizarro e soturno.
A primeira cena já nota-se que O
Homem Duplicado vai trabalhar muito com o surrealismo e metáforas, isso
significa que, o filme não é de gosto fácil. Gyllenhaal interpreta Adam, professor
de história, um homem preso em uma rotina monótona e repetitiva que envolve
trabalho, correção de provas e sexo com a namorada. Adam tem sua vida transformada
quando descobre em um filme, um homem fisicamente idêntico a ele. Transtornado
com a descoberta, ele sai em busca do seu “outro eu”, um ator cujo nome é Anthony.
Me, myself and I.
Conforme Adam e Anthony vão se
conhecendo, uma relação perigosa entre eles vai se desenvolvendo, e a partir daí
se vislumbra nitidamente uma trama mais ambígua e complicada. Villeneuve teceu
uma teia de aranha - aliás, a aranha é presença constante na história e dá o
toque surreal ao enredo - no qual o espectador, e não os personagens, é quem
terá dificuldade de sair dela. O cineasta realizou uma obra que permite que a
imaginação do espectador voe alto para entender o que realmente está
acontecendo, não espere por respostas, a sua interpretação individual sobre a
história do homem duplicado é o que deve bastar.
Preste atenção nos detalhes, na
reação dos personagens femininos e principalmente nos diálogos, especificamente
na cena em que Anthony conversa com a sua mãe. Daí, quem
sabe você tenha a resposta para algumas questões como “Eles são irmãos ou são as
mesmas pessoas? É um sonho ou realidade alternativa? E se for um sonho, quem
está sonhando, Adam ou Anthony?”.
Em 90 minutos bem trabalhados, O
Homem Duplicado é bem menos sobre a tal “coincidência” e mais pela derrocada
moral do homem em situações perturbadoras. A trilha sonora caótica e o visual incômodo
potencializam ainda mais a estranheza que sentimos durante toda a narrativa. Gyllenhaal
merece duas vezes o nosso respeito pela atuação dupla, mesmo com pouquíssima
diferença física entre Adam e Anthony, Jake encarna com eficiência seus papéis
utilizando-se de gestos sutis e pontuais para realçar as particularidades de
cada um.
Assim como Donnie Darko, O Homem
Duplicado atrai mais por não ser autoexplicativo e por permitir várias interpretações. Saramago não é um escritor de fácil leitura, então, saiba de antemão
que esta adaptação também pode ser indigesta, para quem não está habituado a
usar o cérebro obviamente.
NOTA: 7,5