Uma mulher esnobe, instável,
neurótica, desesperançosa, mas irresistível de uma forma que não consigo
explicar. Seria uma personagem apenas detestável se a personagem não fosse de
um filme de Woody Allen. Cate Blanchett
é então, esta mulher plural e complexa em Blue Jasmine (2013), nova dramédia do
cineasta septuagenário.
Falando em Cate Blanchett, essa
brilhante atriz de talento ímpar, é de se esperar que Allen tenha escrito o
papel de Jasmine especialmente para ela. Blanchett encarna a personagem com
tamanha perfeição e dedicação que é difícil visualizar outra atriz em seu
lugar. Jasmine é uma mulher sofisticada, acostumada com o luxo e as festas enquanto vivia com Hal (Alec Baldwin). Após o marido ser preso por fraude, ela perde tudo e tem
início a sua decadência social. Sem ter
para onde ir, ela vai morar com a meia-irmã Ginger (Sally Hawkins, ótima
também) e seus dois filhos em um muquifo desconfortável - para os padrões de
Jasmine - numa área não muito nobre da cidade de São Francisco.
Os novos "amigos" sem glamour de Jasmine.
Sem o requinte da sua antiga
vida, Jasmine terá que reconstruir a sua vida em uma nova cidade, arrumar um
emprego e viver ao lado da irmã cafona e ter que aguentar seus amigos truculentos.
É nesse ambiente que Allen nos mostra o quanto a personagem poderia ser desprezível.
Ela critica o estilo de vida, o emprego e os namorados de Ginger, tem crises de
superioridade, esnoba os amigos da irmã e tem constantes ataques nervosos.
Porém, Blanchett, com sua sutileza e
experiência, humaniza Jasmine de tal jeito que não há como odiá-la
totalmente, e tem momentos que realmente
torcemos para que ela encontre um homem bem rico e seja feliz novamente.
Blanchett: uma mulher de talento
Blue Jasmine tem um compasso
agradável, algo notável em outros filmes do diretor como Meia Noite em Paris e
Scoop: O Grande Furo, os flashbacks constantes contribuem para isso. Como de
praxe em uma obra de Woody Allen, aqui também estão os diálogos espertos e sarcásticos e a trilha composta de muito jazz,
no entanto, São Francisco não ganha
muita força na história, ao contrário do que aconteceu em Vicky Cristina
Barcelona e Meia Noite em Paris, em ambas as produções, a cidade e a cultura dos
lugares se tornam tão importantes quanto os protagonistas.
Nesse drama, o holofote está mesmo
em Cate Blanchett - certamente ela será lembrada nas próximas premiações - e na
triste jornada de sua protagonista por um novo sentido na vida. Woody Allen, em
seu trabalho mais dramático que suas produções anteriores, mostra que está
disposto a experimentar - seja nas escolhas narrativas ou de novas locações - e aos 77 anos, ainda se encontra no auge de sua lucidez.
NOTA: 8,0
Woody Allen essencial
Meus filmes preferidos do cineasta:
- Match Point (2005): Um dos
filmes mais bem sucedidos e idolatrados do diretor. Este é um thriller
demasiadamente sensual protagonizado por Scarlett Johansson e Jonathan Rhys Meyers.
Um romance adulto, inesperado e repleto de intrigas, desses que você precisa ver antes de morrer.
- Scoop: O Grande Furo (2006):
Depois do denso Match Point, Allen optou voltar às comédias românticas e
recrutou, novamente, a bela Scarlett Johansson. A loira vive uma jornalista que
acredita saber a identidade de um serial killer que tem aterrorizado a cidade. Daí durante
a sua investigação ela se apaixona pelo tal suspeito, vivido por um charmoso Hugh
Jackman. Engraçadíssimo e divertido filme.
- Vicky Cristina Barcelona
(2008): Muita sedução, a apaixonante Barcelona como pano de fundo e um caloroso
beijo lésbico entre Penélope Cruz e Scarlett Johansson nessa dramédia acima da
média. Vicky (Rebecca Hall) e Cristina
(Johansson) estão em Barcelona de
férias quando conhecem Juan
Antonio (Javier Barden) um homem sedutor que vai “sacudir” o mundo das
duas amigas.
- Tudo Pode Dar Certo (2009): Uma comédia bem gostosa de ver
e que nos ensina tanto. Boris (Larry David) é um senhor meio hipocondríaco e sincero demais. Um dia ele conhece a linda e ingênua Melody (Evan Rachel Wood). Nova na cidade, a garota pede a Boris um lugar para
passar a noite. A relação dos dois vai se intensificando até se transformar num casamento. A relação desse casal
tão improvável e os diálogos hilários são o ponto forte da fita.
- Meia Noite em Paris (2011): Uma
cativante comédia romântica ambientada em Paris e com uma história bastante
ousada. Gil (Owen Wilson no melhor papel de sua vida, rs) é um roteirista que
visita a cidade da luz com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e seus pais.
Tudo está muito monótono na vida do rapaz até que, certa noite, ele é
transportado para a década de 20. Lá, ele conhece seus maiores ídolos, como Picasso,
Hemingway, Fitzgerald, Gertrude Stein, entre outros. O filme aborda a inevitável insatisfação da época
em que vivemos, e assim, sempre pensamos que nascemos na década errada ou que em
outros tempos, a vida era melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário