Há quase três anos eu comentei sobre um excelente filme que
praticamente ninguém viu e que chegou direto em DVD aqui no Brasil, Guerreiro (Warrior, 2011), drama sobre dois irmãos lutadores de MMA
(Artes Marciais Mistas), dirigido por Gavin O´Connor e estrelado por Tom Hardy
e Joel Edgerton. A obra retrata com realismo as cenas de lutas e enfoca bem os dramas da família
disfuncional. A série do canal DirecTV, Kingdom
(2014 - 2016), é muito semelhante ao filme, além de ter no elenco um dos
atores da fita, Frank Grillo, também
relata os percalços de uma família envolvida com o mundo das artes marciais de
forma realista e contundente.
Kingdom foi criada por Byron Balasco,
responsável também pela série Without a Trace.
A primeira temporada, composta por 10 episódios, recentemente chegou ao fim,
mas o canal ficou tão animado com o sucesso da série que ela foi renovada para
mais duas temporadas, cada uma delas contendo 10 episódios.
Nick Jonas vai à luta
Após a conclusão da primeira temporada, posso dizer que Kingdom é uma das boas surpresas de 2014. Apesar
da presença de Nick Jonas no elenco ajudar bastante na divulgação, a chegada do
seriado na TV foi bastante tímida. Crua,
chocante e levemente intimista, Kingdom tem em seus personagens - demasiadamente
humanos, cheios de fraquezas e insatisfações - o elemento mais poderoso.
Frank Grillo, assim
como no filme Guerreiro, interpreta
aqui um treinador. Dono de uma academia em Venice, Alvey é um ex-lutador com um
passado conturbado que tenta agora treinar os mais jovens, incluindo os filhos
Jay (Jonathan Tucker, de Parenthood,
fazendo um ótimo trabalho aqui) e Nate (Nick
Jonas, sim, ele mesmo). Jay é de
longe o personagem mais intrigante e carismático do programa. Encrenqueiro,
instável, louco, perigoso, mas com um coração imenso, o garoto faz de tudo para que sua mãe,
viciada em drogas e imersa no mundo da prostituição, volte para casa. Jay encarna
aquele tipo de figura que mesmo que esteja fazendo coisas erradas, nós
estaremos torcendo por ele.
Frank Grillo vive treinador de jovens promessas do MMA
Já Nate é o atleta jovem e promissor. Introvertido e de poucas
palavras, o garoto parece o personagem perfeito para Nick Jonas, que não
precisa esforçar-se muito dramaticamente, por enquanto, já que seu personagem -
supostamente gay - deve ganhar mais destaque na segunda temporada, no qual a sua
sexualidade deve ser mais explorada. No entanto, Jonas atua bem, Nate é a parte
mais lúcida da família de lutadores e uma bomba-relógio pronta para explodir a
qualquer momento.
Outro personagem de destaque é Ryan (Matt Lauria, de Friday Night Lights), um lutador que foi
preso e agora que está livre, planeja voltar para o ringue com Alvey como
treinador. Acompanhar a trajetória de Ryan na temporada é muito interessante, é
um homem truculento mas muito emocional, busca o perdão da família e enfrenta uma situação difícil, ainda é
apaixonado por Lisa (Kiele Sanchez), agora namorada do seu treinador. Você já pode adivinhar que um triângulo
amoroso está se armando aí.
Lutadores do Reino: Ryan, Jay e Nate
Bem, com todos esses recortes sobre o universo da série e alguns personagens dá para ver
que Kingdom tem “ação” mais fora do que dentro do ringue. O que é muito bom, pois atribui mais
substância à série, tornando - a mais genuína e atraente do que aparenta ser. Antes de ser um seriado sobre lutadores de
MMA, Kingdom é um drama de família que trata de questões pesadas, como uso de
drogas, prostituição, grupos marginalizados e outras bem mais comuns, como
arrependimento e o desejo de fazer parte de uma família normal. Mas é claro que existem os momentos de lutas, e eles são como se esperam, tensos e emocionantes. Nate protagoniza a primeira
delas no início da temporada, e lá no fim, é a vez de Jay e Ryan subirem no
ringue e mostrarem o que aprenderam nos treinos que rolou durante toda a
temporada na academia.
Assim como Guerreiro,
Kingdom também não foi feito para
grandes audiências, tampouco isto significa que você não precise vê-los. A série mais suada e com mais testosterona da
TV atualmente tem seus méritos, um elenco comprometido que não desafina, uma
trilha sonora sempre conveniente e uma
história que, mesmo sucumbindo à previsibilidade em alguns momentos, nos instiga
e impressiona.
NOTA: 9,0
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