É por causa dessa atmosfera poética presente em cada frame de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain que o filme nos encanta. É impossível manter-se imune à protagonista de olhos arregalados, à deliciosa trilha sonora e aos efeitos visuais delirantes que também arregalam nossos olhos.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux destin
d`Amélie Poulain, 2001) é uma obra sobre os pequenos prazeres da vida, sobre
aqueles pequenos gestos ou manias, que
gostamos ou não, mas que revelam bem mais que nossas preferências, mas o nosso modo de pensar, agir, sentir, revela o caráter.
No início do filme, o narrador de uma forma bem-humorada ilustra bem isso,
apresentando o “jeito de ser” dos pais de Amélie, veja:
Raphaél Poulain não
gosta:
De urinar ao lado de alguém.
Sair da água e sentir seu calção de banho grudar.
Raphaél Poulain gosta:
Enfileirar seus sapatos e engraxá-los com esmero.
Esvaziar a caixa de ferramentas, desarrumá-la e arrumar tudo
novamente.
Amandine Poulain não
gosta:
Que seus dedos enruguem quando está no banho.
Que os lençóis marquem sua bochecha de manhã.
Amandine Poulain gosta:
Das roupas dos patinadores.
De esvaziar a bolsa, limpá-la bem e arrumar tudo de novo.
Amélie quando criança no seu mundinho fantástico!
E Amélie? Bom, a menina de olhos expressivos gosta de ir ao
cinema e olhar o rosto dos outros para ver suas expressões, adora alguns pequenos
prazeres da vida como enfiar a mão no saco de cereais e sentir a maciez dos
grãos. É por essa e outras milhares de razões que nos apaixonamos pela
personagem principal, ela é autêntica,
meiga, e tão doce quanto uma caixa
de chocolates da Garoto.
Amélie (atuação inspirada de Audrey Tautou) foi criada em
casa, e por isso foi privada do contato com outras crianças, com a morte
prematura da mãe e o pouco afeto que recebia do pai, a menina tornou-se uma
sonhadora, uma pessoa bondosa, cheia
de manias esquisitas (no bom
sentido) e sem qualquer ambição de vida.
Amélie e seu interesse romântico!
Sua vida toma rumos inesperados quando ela descobre uma caixa
de brinquedos de um morador do prédio, que viveu sua infância há décadas ali.
Ela então decide ir à procura do dono. Depois que ela devolve a caixa ao
proprietário e se sente feliz e recompensada com a reação do homem, Amélie
deixa a sua vidinha sem muitos propósitos e decide ajudar as pessoas que estão
próximas a ela.
Um dos momentos mais prazerosos da obra de
Jean-Pierre Jeunet é acompanhar a trajetória de Amélie e seu interesse
romântico platônico, o Nino, no qual ela
cria situações bem criativas e lúdicas para tentar conhecê-lo, mas por culpa de sua criação sem muito contato
humano, ela sempre acaba desistindo do “olho no olho” com o pretendente. Enquanto isso, Nino vive o maior mistério da sua vida, que é conhecer uma pessoa que lhe ajuda tanto, e que lhe encanta de maneira tão forte e inédita,
mesmo sem nunca tê-la visto.
Uma das sacadas mais divertidas e adoráveis da protagonista é a forma que ela encontra para incentivar seu pai a viver a vida fora das quatro
paredes. Ela rouba o duende de
gesso do jardim, objeto de estimação do pai, e o manda “viajar” o mundo, mas
nunca se esquecendo de mandar um cartão postal dos lugares mais incríveis que ele,
o duende, visitou.
O Fabuloso Destino de
Amélie Poulain é fabuloso mesmo, autêntico, nunca monótono, irreverente,
sincero, uma caixinha colorida de surpresas, uma sequência de exemplos de pequenos momentos e
gestos que podemos (ou não) fazer na nossa vida, um “tapa” para quem acha que a
vida não tem muito a oferecer. O filme mostra que a beleza e a felicidade estão
nos pequenos atos, como numa conversa
descontraída com um amigo, assistir
a O Poderoso Chefão vestido de Don
Corleone acompanhado de um charuto e um copo de whisky, ou assar carne na frente de casa com sua
churrasqueira portátil comprada no Paraguai.
Esse post foi dedicado a alguém que não é frágil como o cara
de ossos de vidro que Amélie ajuda, e por isso pode suportar sim todos os
baques da vida, porém não significa que a companhia de uma “Poulain” na sua
vida seja dispensável. Essa pessoa...
Não gosta:
- de receber de presente objetos de design duvidoso;
- de alimentar-se em ambientes hostis e com grande quantidade
de fenômenos sonoros irritantes, pois considera sua comida bem superior que
aquela produzida em grande escala e com gosto artificial destinada aos
indivíduos com paladares nem um pouco exigentes;
- de Kiss, em todas as suas formas e significados, seja a
banda de rock ou o simples ato de tocar os lábios de outra pessoa carinhosamente.
- de romper com crenças obsoletas e comportamentos antiquados
e desgastados, ou seja, quebrar padrões. Gosta de fazer coisas que a maioria das pessoas não fazem ou não esperam que faça, e o resultado nunca é menos que
surpreendente.
- de se embriagar loucamente com Toddy e chá.
Simplesmente Amelie!
ResponderExcluirSimplesmente Amelie!
ResponderExcluirAlgo estranhamente me puxa para a leitura deste texto, me fazendo sempre repetir a leitura e saborear o momento. Já o li diversas vezes, nunca me cansei, creio que nunca irei me cansar... parabéns pelas palavras.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras. Sim, eu estava muito inspirado quando escrevi esse texto, uma pessoa me inspirou hehehe.
ExcluirAdorei o texto... há algo diferente neste (andei lendo várias resenhas neste blog). Parabéns.
ResponderExcluirQue bom curtiu o texto, essa resenha foi escrita para alguém especial que adora esse filme hehe. Obrigado pelo carinho, volte sempre! ;)
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