“Glee é sobre abrir a si mesmo para a felicidade” , diz uma
personagem no último episódio de Glee e foi justamente este sentimento que a
série provocou no público nas seis temporadas. A produção da Fox marcou e
mudou vidas de uma geração e mostrou aos jovens razões de ser diferente e
aceitar a si mesmo, mais que isso, alegrou a vida de muita gente - incluso a
minha - com muita música boa.
Após seis anos, Glee (2009-2015) terminou esta semana nos EUA
e deixou a sua marca na história da TV. A comédia/drama musical se sobressaiu
pela coragem e ousadia de tratar temas fortes e polêmicos como o bullying,
homossexualidade e gravidez na adolescência para uma audiência bem jovem, mas a
partir de um roteiro muito adulto para o público ao qual se destinava. Se hoje há mais abertura para personagens gays
nos seriados americanos, Glee contribuiu bastante nessa questão.
O coral canta Don´t Stop Believin: O início de tudo
Com um elenco sincronizado e incrivelmente talentoso,
personagens cativantes, músicas populares e um humor irônico e tão sádico a
ponto de tirar sarro até do próprio universo da série, a criação de Ryan Murphy conquistou
a todos de imediato. A estreia aconteceu em 2009 e assistindo aos dois últimos
episódios é impossível dizer Adeus e não se emocionar. Vendo os últimos
capítulos, recordei do início da série, me lembro onde eu estava seis anos
atrás, dos meus sonhos naquela época e percebo que muitos deles eu não
alcancei, percebo que hoje, tenho planos distintos daqueles que eu tinha, mas como diz aquela música: "Don´t Stop Believin".
Sobre as temporadas, bem, é certo dizer agora que o autor Ryan Murphy não consegue manter a qualidade de uma história por muito tempo, mesmo que ela tenha
ótimos personagens e uma premissa com bastante potencial. Glee foi vítima dessa
“inabilidade” de Murphy. Consciente do seu problema com enredos a longo prazo, Ryan teve a ótima ideia de criar uma série de
terror chamada American Horror Story, com uma história que se limitava a apenas 13 episódios. Foi bom durante os primeiros anos, mas a julgar pela fraca temporada de Freak Show, ele já está perdendo a “mão” aí. Mas eu gosto do Ryan, ele é
inteligente, corajoso e mais importante, muito criativo.
Lea Michele homenageia Britney Spears
Bem, voltando a Glee, as duas primeiras
temporadas foram excelentes, cheio de momentos antológicos como o Kurt dançando
Single Ladies no estádio de futebol, o seu primeiro beijo, os
episódios especiais de Madonna e Britney Spears, sem falar na homenagem ao
filme The Rocky Horror Picture Show - que eu nem sabia de sua existência até ver o episódio. No entanto, a
ideia de colocar novos personagens no Glee Club não agradou o público e a
partir da terceira temporada Glee virou uma bagunça, histórias mal desenvolvidas
e preguiçosas e para piorar, a morte trágica de Corey Monteith deixou todos os produtores sem saber o que fazer com o universo glee. A sexta e última temporada tirou os veteranos de Nova York e colocou-os
de volta no McKinley High School e nos trouxe aqueles bons e divertidos episódios
novamente, além de um desfecho perfeito e emocionante.
A respeito das músicas. Ah, as músicas. As versões de Glee,
ás vezes, eram até melhores que as originais. Quanta cultura musical eu absorvi,
quantos artistas eu conheci através da série e quantas bandas ficaram conhecidas mundialmente depois que
suas canções ganharam as vozes do clube do coral, como a banda indie Fun., por exemplo, dona do hit We
Are Young.
Alguém conhecia o
Journey aí? Pois é, Don´t Stop Believin do Glee chegou ao topo das paradas e ninguém
conhecia a versão original do grupo dos anos 80, não importa, a versão do coral
até hoje encanta e emociona. A sequência
com a música Bohemian Rhapsody até hoje me arrepia, ainda me divirto muito com
o clipe de Run Joey Run e a coreografia sensual de Push it, adoro o mashup de Rumor Has It/Someone Like You da Adele, a
linda versão de Keep Holding On – versão original é da Avril Lavigne mas
ninguém sabia - e a já clássica
versão de Sue Sylvester para Vogue, da Madonna. Bom, impossível descrever
tantos momentos inesquecíveis aqui.
Os personagens eram o maior trunfo do seriado. Um grupo de
desajustados e “perdedores” que rapidamente me encantou: o deficiente físico
Artie Abrams (Kevin McHale), a gótica Tina (Jenna Ushkowitz), a loira burra
Brittany (Heather Morris), a negra com vozeirão Mercedes (Amber Riley), o
sofisticado e gay Kurt Hummel (Chris Colfer), o quarterback popular e
grandalhão Finn Hudson (Cory Monteith) e tantos outros. Mas o que segurou mesmo a série nos
seus momentos mais difíceis foram o carisma e o apego a personagens como a
irritante/egoísta e aspirante a diva Rachel Berry (Lea Michele) e a impagável e
sádica vilã Sue Sylvester (Jane Lynch), sempre com seus comentários ácidos e nonsenses.
Glee conquistou o público principalmente por valorizar e mostrar perfis não
populares e excluídos da sociedade - gays, japoneses, cadeirantes, gordos - e
ofereceu a eles um olhar otimista sobre a vida.
Adeus: elenco se reúne para a última foto
A série inovou em seu formato e vai deixar saudades por tudo o que significou para TV - trouxe o gênero musical de volta ao
mainstream, abrindo caminho para séries semelhantes como a ótima Empire, atual
sucesso da Fox americana - e principalmente para a audiência, os 45 minutos
de duração do episódio significavam mais que um simples momento de escapismo, era um instante de alegria, um sopro de esperança, um afago para toda a audiência, especialmente para aqueles desajustados que se viam representados ali dentro
do seriado.
E a última performance foi assim:
E a última performance foi assim:
Nenhum comentário:
Postar um comentário