Contém spoilers!
Precisamos falar de 13
Reasons Why. Quando Tyler (Devin Druid), o fotógrafo que é vítima
frequente de bullying no colégio, abre uma caixa no seu quarto e vemos nela um
pequeno arsenal, repleto de armas de diversos tipos, logo associei esse momento
a obras cinematográficas que tratam de massacres em escolas, tipo de tragédia
que pode surgir nas cenas da próxima temporada da série 13 Reasons Why (2017), novo
hit do Netflix, que aborda temas difíceis como bullying, suicídio, estupro, entre
outros. É como se 13 Reasons Why
narrasse os bastidores, ou melhor, escancarasse as causas desse tipo de
incidente que, de tempos em tempos, acontece, principalmente, em alguma escola
americana, e que já foi retratado em dois filmes que expõem duas diferentes
perspectivas sobre episódios violentos envolvendo adolescentes. Antes de falar
da série, é importante fazer esse link com outras obras.
O filme Elefante, de Gus Van
Sant, é baseado no massacre de Columbine, que ocorreu em 1999. A produção
acompanha a rotina dos alunos na escola até a chegada de dois alunos, munidos
de metralhadoras, eles causam um banho de sangue atirando para todos os lados e
depois se matam. Já o drama Tarde Demais (Beautiful Boy) retrata a situação através das lentes dos pais de um garoto, que aqui já não é
a vítima, mas o assassino que mata 17 alunos e se suicida logo após. O filme concentra-se na vida dos pais, que
tentam buscar respostas para o ocorrido e refletem se o papel deles, como pai e
mãe, foi falho em algum momento.
Violência física, psicológica e
sexual podem sim ocasionar tragédias como essa de Columbine, bem como o
suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford), e quando se está no Ensino Médio,
os problemas parecem ser maiores do que realmente são. E no caso de 13 Reasons Why, eles são mesmo. A série vai além de questões acerca do
bullying e do suicídio, trata também de famílias disfuncionais (a do Justin,
principalmente) de relações sociais baseadas em interesse, de ser invisível
para outros, de amizades passageiras e frágeis, mentiras, machismo, e como esses
fatores podem acarretar não apenas crises existenciais (isso é sério), mas
atitudes extremas em um adolescente.
No último episódio, é tocante a cena em que
Clay (Dylan Minnette, de Lost e Um Homem nas Trevas), temendo ver em
Skye (Sosie Bacon) a próxima Hannah, convida-a para sair, dando-lhe atenção
e sendo um amigo, evitando ser, dessa forma, um “porquê” na vida da garota. Em
contraponto a essa atitude de Clay, é chocante ver Justin (Brandon Flynn), de
garoto popular e querido por todos no início da temporada, sendo desprezado por
aqueles que ele considerava “amigo” na hora em que ele mais precisa, nos
episódios finais. Esses momentos, assim
como as cenas em que Hannah é abusada sexualmente, são desconfortáveis, difíceis
de ver, impossível não senti-los, no entanto, são necessários, o escritor Jay
Asher acertou ao preferir uma abordagem mais crua e mais próxima da realidade.
Alguns podem achar que a série
pode incentivar ainda mais os que têm “tendências suicidas” a cometer tal ato
(como se 13 Reasons Why fosse a única produção a tratar desse assunto
– o documentário A Ponte e o ótimo drama
As Virgens Suicidas são alguns exemplos
– seguindo essa lógica, novela das 9 pode influenciar o adultério e os videogames,
a violência). Se criticam a produção do Netflix por evidenciar assuntos como
bullying e suicídio, escondê-los, ignorá-los, certamente não trará nenhuma vantagem.
A sociedade precisa lidar com isso, não é algo que só existe na ficção, acontece a toda hora em qualquer escola, nesse exato momento em que escrevo esse post, na hora em que você estiver o lendo. As estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito do aumento de casos de suicídios e as notícias cada vez mais recorrentes acerca de bullying nas escolas, que nos EUA geralmente culminam em massacres, justificam o importante papel que 13 Reasons Why vem tendo atualmente, provocando debates e reflexões sobre essas questões tão espinhosas, mas que devem ser escancaradas e encaradas.
A sociedade precisa lidar com isso, não é algo que só existe na ficção, acontece a toda hora em qualquer escola, nesse exato momento em que escrevo esse post, na hora em que você estiver o lendo. As estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito do aumento de casos de suicídios e as notícias cada vez mais recorrentes acerca de bullying nas escolas, que nos EUA geralmente culminam em massacres, justificam o importante papel que 13 Reasons Why vem tendo atualmente, provocando debates e reflexões sobre essas questões tão espinhosas, mas que devem ser escancaradas e encaradas.
Sobre a série em si, vale
comentar alguns aspectos, como por exemplo, o tom melancólico e a trilha obscura que lembra muito As Vantagens de Ser Invisível, a narrativa lenta, que permitiu que
a trama envolvendo a Hannah, em dado momento, ficasse monótona e a protagonista,
irritante, porém os 13 episódios permitiram também que os personagens secundários
tivessem suas histórias melhor desenvolvidas, como o Justin e a Jessica (Alisha
Boe), que ganharam mais espaço nos últimos episódios, tornando-os mais humanos,
sem restringi-los a “pessoa do bem” ou “pessoa do mal”.
Não só Minnette e Langford, Clay e Hannah, entregaram atuações marcantes, mas todo o elenco de jovens, até então, desconhecidos. Bem mais famosa do que seus colegas de cena, Kate Walsh (Grey´s Anatomy) se destaca na série como a Sra. Baker, mãe que busca respostas pela escolha da filha em meio a muita dor, em uma atuação não caricata, verdadeira, digna de reconhecimento.
13 Reasons Why teve um desfecho
deixando muitas pontas soltas, a segunda temporada precisa ser realizada, esses
“ganchos”, como a cena que citei no início do post, não foram escritos à toa,
eles precisam ser levados adiante, elevando a série a um novo patamar, ainda há
muito a se explorar. Por fim, é isso, gostem ou não, a série já está cumprindo
a sua função (social), que é a de fomentar discussões sobre esses temas controversos e a reflexão individual sobre nossas pequenas atitudes do dia a dia,
que podem não significar nada para mim, para você, mas podem ter um impacto
inimaginável no outro. Lembra da questão do efeito borboleta?
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