Quantos retornos “à boa forma” M.
Night Shyamalan terá? Meus caros, o diretor de O Sexto Sentido já fez as pazes com o sucesso e o “bom cinema” em
2015, quando lançou o ótimo suspense A Visita, seu filme mais relevante em 10 anos. A sua nova obra, Fragmentado
(Split, 2017), apenas dá sequência à boa fase de Shyamalan e reafirma que ele percebeu
que o seu forte são filmes pequenos, mais autorais e com menos interferência de
estúdio.
Em Fragmentado, James McAvoy interpreta
Dennis, Barry, Patricia, Hedwig, Kevin, Jade, Orwell e muito outros. É um homem que possui 23 personalidades distintas
e sequestra e mantém em cativeiro três jovens garotas para um fim “macabro”. Nem preciso comentar que McAvoy está estupendo
em cena, poucos atores possuem a versatilidade e a expansão como ator para encarar
esse desafio (né Mark Wahlberg!), mas McAvoy traduz esse desafio em uma atuação
que impressiona a cada personalidade que surge.
A câmera em primeiro plano de
Shyamalan, usada aqui para causar intimidade com o público, ressalta também as
mudanças de personalidades do protagonista, bem como os gestos faciais e
corporais, olhares, modo de falar e entonação. Um trabalho complexo de James
McAvoy e que merece reconhecimento em premiações.
Dentre as garotas sequestradas,
Casey (Anya Taylor-Joy, de A Bruxa) é
a que mais ganha destaque no texto de Shyamalan, por compreender que está
lidando com várias pessoas num corpo de uma só. Como já tinha dito na crítica
de A Bruxa, essa atriz é uma baita
descoberta, seu desempenho aqui é igualmente excepcional, transmitindo toda sua
vulnerabilidade e tomando decisões que vislumbramos apenas olhando em seus
olhos.
Assim como na maioria de sua
filmografia, Shyamalan cria uma fábula (perturbadora) sustentada pelo poder da
dúvida, na qual nunca sabemos o que realmente está por vir. Em Fragmentado, não há aquele plot twist com o qual o diretor mal acostumou
o público, há apenas a preocupação de atender à expectativa e dar um
significado ao mistério. O humor, bastante usado em A Visita, também é recorrente nesse thriller psicológico, demonstrando
a habilidade de Shyamalan em dosar drama, suspense e humor. Ah, por fim, para os fãs, o
diretor deixou umas autorreferências que farão a alegria de muita gente.
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