Se há um filme capaz de tirar o
Oscar de Melhor Filme de La La Land, na premiação deste ano, ele se chama Moonlight:
Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016). A obra de Barry Jenkins sobre um rapaz
negro e solitário em busca do seu eu verdadeiro possui uma delicadeza de partir
o coração (esse termo pode ser piegas, mas é honesto).
A história do protagonista Chiron
é dividida em três capítulos, “Little”, “Chiron” e “Black”, cada parte
representa respectivamente a infância, a juventude e a vida adulta do personagem.
Introspectivo e de poucas palavras, Chiron é também alvo de valentões. Moonlight
inicia com o menino correndo de agressores e se trancando em uma casa
abandonada. Logo, o garoto é libertado por Juan (Mahershala Ali, de Luke Cage), que logo se torna uma
espécie de pai para Chiron. A ausência de uma figura paterna e o descaso da
mãe, mais interessada em drogas, contribuem para que a relação entre Juan e
Chiron se fortaleça, mas não diminui, portanto, a solidão do protagonista
durante a sua vida.
Dúvida, Descoberta, Aceitação,
assim também poderia se chamar os três capítulos de Moonlight: Sob a Luz do
Luar, já que essas três palavras representam momentos importantes e definitivos
na vida do personagem. Há, em cada uma dessas partes, ao menos um diálogo/cena
memorável.
No primeiro capítulo, um diálogo marcante mostra por que, para
Chiron, Juan representa o oposto de tudo aquilo que a sociedade à sua volta é:
preconceituosa, machista, hipócrita e cercada de pessoas sempre dispostas a
julgar. “O que é ‘boiola’?”, pergunta o garoto. “É
uma palavra que as pessoas usam para fazer
os gays se sentirem mal”, responde Juan. “Eu sou um ‘boiola’?”.
“Não. Você pode ser gay, mas não pode deixar
ninguém te chamar de ‘boiola’” (O termo
usado é o mesmo da legenda, rs).
No
segundo capítulo, numa belíssima cena sob a luz da lua, Chiron vive um desses
momentos que irá definir a sua vida a partir daí, mas o melhor o diretor – e
também roteirista – deixa para o clímax: belo, humano e impactante ao mesmo
tempo. Moonlight é uma obra tão introspectiva quanto o seu protagonista, sendo
assim, o não dito, o silêncio, emerge tão poderoso e profundo, tornando supérfluas
ações e palavras.
Moonlight: Sob a Luz do Luar usa
o seu personagem principal para tratar de questões difíceis como bullying,
sexualidade, masculinidade, solidão, busca da identidade, sem impor um ponto de
vista, sem exageros, com muita sinceridade e delicadeza. Outro acerto do filme
é o trio de atores que interpreta Chiron nas três fases da vida, Alex Hibbert, Ashton
Sanders e Trevante Rhodes, todos, com muita competência, constroem um só personagem,
ímpar e complexo, de modo uniforme e coerente à fase retratada.
Barry Jenkins, também responsável
por dirigir um episódio da polêmica série Dear White People, da Netflix – cujo trailer escancarou (ainda mais) o racismo da sociedade – realizou uma obra irretocável,
devastadora, comovente e atemporal, ademais, as questões sociais expostas no longa bem como a jornada de Chiron ecoarão por muito tempo em nossas mentes.
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