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19 de fevereiro de 2017

Moonlight: Sob a Luz do Luar


Se há um filme capaz de tirar o Oscar de Melhor Filme de La La Land, na premiação deste ano, ele se chama Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016). A obra de Barry Jenkins sobre um rapaz negro e solitário em busca do seu eu verdadeiro possui uma delicadeza de partir o coração (esse termo pode ser piegas, mas é honesto).

A história do protagonista Chiron é dividida em três capítulos, “Little”, “Chiron” e “Black”, cada parte representa respectivamente a infância, a juventude e a vida adulta do personagem. Introspectivo e de poucas palavras, Chiron é também alvo de valentões. Moonlight inicia com o menino correndo de agressores e se trancando em uma casa abandonada. Logo, o garoto é libertado por Juan (Mahershala Ali, de Luke Cage), que logo se torna uma espécie de pai para Chiron. A ausência de uma figura paterna e o descaso da mãe, mais interessada em drogas, contribuem para que a relação entre Juan e Chiron se fortaleça, mas não diminui, portanto, a solidão do protagonista durante a sua vida.


Dúvida, Descoberta, Aceitação, assim também poderia se chamar os três capítulos de Moonlight: Sob a Luz do Luar, já que essas três palavras representam momentos importantes e definitivos na vida do personagem. Há, em cada uma dessas partes, ao menos um diálogo/cena memorável. 

No primeiro capítulo, um diálogo marcante mostra por que, para Chiron, Juan representa o oposto de tudo aquilo que a sociedade à sua volta é: preconceituosa, machista, hipócrita e cercada de pessoas sempre dispostas a julgar.O que é ‘boiola’?”, pergunta o garoto. “É uma palavra que as pessoas usam para fazer os gays se sentirem mal”, responde Juan. “Eu sou um ‘boiola’?”. “Não. Você pode ser gay, mas não pode deixar ninguém te chamar de ‘boiola’ (O termo usado é o mesmo da legenda, rs).

No segundo capítulo, numa belíssima cena sob a luz da lua, Chiron vive um desses momentos que irá definir a sua vida a partir daí, mas o melhor o diretor – e também roteirista – deixa para o clímax: belo, humano e impactante ao mesmo tempo. Moonlight é uma obra tão introspectiva quanto o seu protagonista, sendo assim, o não dito, o silêncio, emerge tão poderoso e profundo, tornando supérfluas ações e palavras.


Moonlight: Sob a Luz do Luar usa o seu personagem principal para tratar de questões difíceis como bullying, sexualidade, masculinidade, solidão, busca da identidade, sem impor um ponto de vista, sem exageros, com muita sinceridade e delicadeza. Outro acerto do filme é o trio de atores que interpreta Chiron nas três fases da vida, Alex Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, todos, com muita competência, constroem um só personagem, ímpar e complexo, de modo uniforme e coerente à fase retratada.

Barry Jenkins, também responsável por dirigir um episódio da polêmica série Dear White People, da Netflix – cujo trailer escancarou (ainda mais) o racismo da sociedade – realizou uma obra irretocável, devastadora, comovente e atemporal, ademais, as questões sociais expostas no longa bem como a jornada de Chiron ecoarão por muito tempo em nossas mentes. 

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