Uma história profunda e humana
sobre a perda na vida de três homens, este é Praia do Futuro (2014), novo longa
do cearense Karim Ainouz,
responsável também pelos elogiados Madame Satã e O Céu de Suely.
Orquestrado de forma que as imagens e atitudes
dos personagens dizem mais que os (poucos) diálogos, Ainouz traz à tela a
história de Donato (Wagner Moura, muito à vontade no papel, inclusive nas cenas
de sexo e nudez), um salva-vidas que atua na tal praia do título situada em
Fortaleza. O início do filme já mostra Donato perdendo para o mar, ao não
conseguir salvar um homem do afogamento. O ocorrido faz com que ele conheça o
alemão Konrad (Clemens Schick, o ator participou de Cassino Royale), amigo da
vítima, a quem o salva-vidas vai levar a má notícia.
Logo após a conversa entre eles, abruptadamente
somos surpreendidos com a cena seguinte, um momento de sexo agressivo entre
dois homens másculos e claramente bem resolvidos sexualmente. Impressionado, eu
disse, não pela cena em si, mas pela forma natural com a qual o diretor decidiu
abordar esta relação na telona. Ao invés de seguir o caminho óbvio, mostrar
momentos de sedução entre os protagonistas antes do sexo, Karin espertamente
preferiu “pegar” o espectador “no pulo” ao mostrar de cara, o ato físico cheio
de testosterona e desejo entre eles.
Uma das cenas marcantes do longa
Donato e Konrad então iniciam um
romance e ambos se mudam para a Alemanha. Donato então troca a ensolarada Fortaleza
pela gelada e enevoada Berlim. Praia do
Futuro é dividido em três capítulos no qual acompanhamos o deslocamento do
salva-vidas numa cidade sem praia, o sufoco da sua nova vida e a culpa que
carrega consigo por ter abandonado sua mãe e seu irmão Ayrton, vivido por
Jesuíta Barbosa (Tatuagem).
Praia do Futuro é uma obra
bastante introspectiva, daquelas que o espectador precisa se colocar no lugar
do personagem para entender suas motivações e seus sentimentos, e como já disse
antes, é bom prestar muita atenção no estado de espírito dos protagonistas e
decifrá-los, pois não haverá diálogos para esclarecer tudo, como por exemplo, a
cena em que os dois cantam e dançam é de uma beleza ímpar e demonstra o quanto
eles estão felizes um com o outro. Pra
que palavras?
Com muita sutileza, o diretor fala sobre a
reconstrução do homem, ou melhor, a reconstrução de uma vida, que no caso de
Donato, tal transformação foi movida pelo medo, e no caso de Ayrton, seu irmão,
movido pela coragem.
O elenco: Schick, Barbosa e Moura
A linda fotografia que contrasta
o azul de Fortaleza e o cinza de Berlim, a predileção pelo visual em vez do
verbal, a preferência por longos planos sem cortes e as muitas cenas marcantes
como a do reencontro dos irmãos e a sequência final dos três homens viajando de
moto desaparecendo em meio a uma densa névoa fazem de Praia do Futuro, uma obra
humanizada e delicada, com um roteiro tão abstrato que chega a ser inadequado
para o público que “urra de prazer” ao ver um Velozes e Furiosos ou Jogos
Mortais, e deve ser exatamente esse tipo de gente que saiu do cinema “chocado”
ao ver as cenas de sexo entre Wagner Moura e Clemens Schick. Olha, há cenas
mais picantes que estas protagonizada por Lázaro Ramos em Madame Satã, e
ninguém se deu conta né!
Homofobia e ignorância à parte - isso
é assunto do meu próximo post – apenas espero que toda essa polêmica sirva para
levar mais pessoas, esclarecidas espero, às salas de cinema e fazer de Praia,
um filme de sucesso.
NOTA: 8,0
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