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24 de abril de 2014

Fargo, a série, é sensacional!



 

Um dos melhores filmes da década de 90, Fargo, criação inspirada dos irmãos Coen, agora se tornou uma série de TV. Independente se você viu o longa-metragem ou não, só tenho uma coisa a dizer: a adaptação de TV do filme sangrento e cínico é, no mínimo, sensacional. Toda esta exaltação levando em consideração apenas o primeiro episódio.


Assinado por Noah Hawley, de Bones, e com os Coen na produção executiva, Fargo terá 10 episódios na primeira temporada. O ótimo Martin Freeman (o Dr. Watson de Sherlock e  Bilbo de O Hobbit) e o experiente Billy Bob Thornton estrelam esta série que chegou com um piloto arrasador e causando um alvoroço na mídia especializada.


Denominado The Crocodile´s Dilemma, o episódio inicial é quase um filme, tem mais de 1 hora de duração. De início somos apresentados ao protagonista, Lester Nygaard (Freeman, no papel que foi de William H. Macy na obra original), um homem deprimido, sem ambições, que vem sendo diminuído por todos que topam com ele, da mulher que não perde uma oportunidade em compará-lo ao irmão, salientando sempre a sua decepção com o marido, até o colega valentão da escola que ressurge em sua vida apenas para agredi-lo moral e fisicamente. 

 Martin e Billy: dupla improvável!


Depois de uma “leve” discussão com o colega grandalhão, Lester vai parar no hospital com o nariz quebrado. Lá, ele encontra com Lorne (Thornton), um homem tão frio quanto as paisagens geladas de Minnesota. Um breve conversa entre os dois homens é o bastante para transformar a rotina da pequena cidade gelada de Bemidji e dos homens envolvidos, então  segue-se após o encontro, uma sequência de mortes intermináveis e inesperadas - para um primeiro episódio -  deflagradas por Lester e Lorne. 


Algo que você precisa saber antes de ver Fargo: não se apegue a nenhum personagem - exceto o protagonista - pois provavelmente ele estará morto até o final do episódio. A trama intrincada e repleta de surpresas avança tão rapidamente, acontecem tantas coisas, que dá a impressão que não sobrará mais nada a ser contado nos próximos capítulos. Embora a inspiração da minissérie seja o longa de 1996, o seriado do FX toma emprestado da obra original a ambientação gelada da pacata cidade, o estilo dos personagens do interior, o humor negro e a violência não gratuita. Os protagonistas e as situações envolvendo os mesmos, e por fim o desenrolar da história, são totalmente diferentes, mas não muito menos envolventes que no filme.



Martin Freeman e Billy Bob Thornton já são motivos suficientes para conferir o drama, ambos estão soberbos em seus papéis. Frio, monossilábico e misterioso, Lorne (Billy) é do tipo que quer mesmo ver o circo pegar fogo, ainda assim, nos faz rir muito em alguns momentos. Já Lester (o Martin), é o introspectivo, tem medo de tudo e todos, é um personagem incômodo, cômico, e mesmo escolhendo seguir um caminho mais perverso, ainda  vamos torcer muito por ele.


Com apenas um episódio exibido, Fargo já é uma baita surpresa da televisão, e ainda que os próximos episódios não sejam excelentes e tão inteligentes como este primeiro, a série vai passar longe, mas bem longe, da mediocridade e do convencional.

15 de abril de 2014

O alternativo Elijah Wood



 


Quem tem pouco mais de 20 anos, assim como eu, praticamente viu crescer este que hoje é um dos mais respeitados e talentosos atores da atualidade, Elijah Jordan Wood.  Ainda criança, Elijah já demonstrava desenvoltura em cena protagonizando filmes de sucesso como Radio Flyer e O Anjo Malvado, cuja produção contracenou com Macaulay Culkin, e ao contrário do astro de Esqueceram de Mim, nosso querido Frodo construiu uma carreira sólida e marcada pela versatilidade em papéis inusitados em filmes independentes, caminho que ele seguiu após tornar-se mundialmente famoso como o protagonista da trilogia O Senhor dos Anéis. Na tela acompanhei cada uma das fases da vida de Elijah Wood, separei os principais trabalhos do astro dos penetrantes olhos azuis, desde a época da infância, passando pela adolescência até a vida adulta.



Os filmes de Wood ainda criança, eram presença constante 
na Sessão da Tarde



Radio Flyer (1992) Esta pérola dos anos 90 é um dos filmes mais inesquecíveis da minha vida. E de muita gente também. Dirigido por Richard Donner, ninguém menos que o cara que comandou Os Goonies e Superman: O Filme, a história acompanha dois irmãos que são abusados por um padrasto alcoólatra. Para fugir de casa e dos maus tratos, eles decidem construir uma espécie de uma aeronave que podem levá-los para bem longe dali. Uma obra emocionante.



O Anjo Malvado (1993) – Antes de falar do filme tenho que perguntar: você já viu O Anjo Malvado? Por favor, diga que sim. Do contrário, está esperando o quê? Este é um dos melhores suspenses já feitos. É verdade que hoje em dia já existem muitos filmes com a estrutura narrativa semelhante, como o recente A Órfã, no qual uma criança atormenta uma familia, este aqui não foge muito a regra, mas ver Macaulay Culkin interpretando um psicopata/homicida e Wood sendo alvo das brincadeiras maldosas do menino, não tem preço. Culkin pode ter chamado mais atenção na época por ser o vilão da história, mas sem dúvida a atuação notável de Elijah no suspense adulto fez muita gente perceber que ele era um ator mirim acima da média e prenunciava uma carreira promissora.


Menções honrosas de filmes do ator quando criança: Day-O  - Um Amigo de Infância, Eternamente Jovem,  As Aventuras de Huckleberry Finn.



O jovem Elijah



Impacto Profundo (1998): Após contracenar com um golfinho em Flipper, Wood na sua adolescência ganhou destaque maior neste ótimo drama sobre a queda de um cometa na Terra, e que ao contrário do exagerado Armageddon, a Terra realmente é atingida matando milhares de pessoas. Wood vive um dos astrônomos que descobre o meteoro se aproximando da Terra e corre contra o tempo para salvar a sua família e a sua namorada buscando um lugar alto o suficiente para sobreviver ao impacto do meteoro. Boas atuações e efeitos especiais bem especiais são o destaque deste drama feito para chorar mesmo.





Prova Final (1998): Um dos meus filmes preferidos do gênero suspense/ficção científica. Dirigido por Robert Rodriguez (Sin City) e com um elenco mais conhecido nos dias atuais, além de Elijah, Salma Hayek,  Famke Janssen, Josh Hartnett e Jordana Brewster estão na produção. Wood interpreta Casey, o tipo nerd bobalhão da escola e que desconfia que a instituição esteja sendo tomada por alienígenas. A tensão é crescente, as reviravoltas são muitas e a diversão é garantida. Uma pequena obra com toques de filmes B no melhor estilo de Rodriguez.


Menção Honrosa: Ainda nesse período, o astro ainda teve a oportunidade de trabalhar com o aclamado diretor Ang Lee, no denso Tempestade de Gelo.



A vida adulta chega com o personagem 
que iria transformar a sua vida



A trilogia  O Senhor dos Anéis (2001-2003): Bem, preciso falar muita coisa? Não né? Só que o mundo descobriu o que muita gente já sabia, inclusive o cineasta Peter Jackson: Elijah Wood tem carisma, experiência e talento de sobra para carregar uma obra deste porte e isto foi suficiente para que Elijah fosse escolhido para interpretar Frodo Bolseiro e protagonizar a trilogia milionária, considerada um divisor de águas na história do cinema. Devido ao sucesso estrondoso dos filmes, Wood ficou conhecido mundialmente e fez com que ele escolhesse seus futuros papéis com mais cuidado. Ou seja, a sua carreira pós-Frodo é caracterizada por papéis excêntricos, seres marginalizados e sanguinolentos, o moço queria evidenciar a sua versatilidade e não ficar marcado por um só personagem.



Hooligans (2005): O papel mais significativo de Elijah após a franquia milionária de Peter Jackson. Com uma atuação intensa do ator, Hooligans é um brutal e poderoso filme sobre o submundo violento das torcidas do futebol inglês. Wood vive Matt, um estudante que vai para Londres passar uns dias na casa de sua irmã. Lá, conhece Peter (Charlie Hunnam, de Círculo de Fogo e da série Queer as Folk UK) que o introduzirá ao mundo do hooligans. Se Elijah queria se desvencilhar de qualquer jeito do seu papel em O Senhor dos Anéis, ele já consegue este feito nesta produção, não somente pela sua atuação centrada, mas pelo tema explorado no longa, não são muitos os filmes que relatam a crueldade e a crueza de torcedores radicais e violentos no universo do futebol. Ainda nesta época, Wood apareceu em Sin City, como um serial killer canibal chamado Kevin, mais um personagem para a galeria e que se distancia bastante do inesquecível e dócil Frodo.



Wilfred (2011-2014): Atraído por papéis excêntricos e desafiadores, Elijah Wood entrou para o elenco desta série de humor negro do canal FX. Ele protagoniza o seriado que leva o nome de um cachorro, na verdade, é um misto de cachorro e homem. Wood é Ryan, um jovem deprimido que após tomar vários comprimidos com o intuito de se matar, começa a ter alucinações, então ele vê um cachorro que parece mais um homem vestido de roupa de cachorro, e ainda fala e lhe dá conselhos. Wilfred é uma série irreverente e engraçada, para quem curte piadas sexuais e um humor negro e rasgado. O seriado deve terminar este ano em sua quarta temporada.




O Maníaco (2012): Se você pensava que Kevin, o canibal de Sin City era o personagem mais assustador da carreira de Wood, errou. Em O Maníaco, o ator dá vida a um verdadeiro maníaco com sérios problemas mentais. Sua atuação é hipnótica e amedrontadora. Kevin sai nas ruas de Nova York em busca de belas mulheres para assassinar e escalpelar suas cabeças para usar o cabelo em seus manequins. É um filme pra quem tem estômago forte. A fita de terror é um remake de um clássico dos anos 80, e se diferencia de outras obras do gênero pela sua trilha nostálgica e o uso da câmera subjetiva, ou seja, durante todo o filme acompanhamos os acontecimentos através dos olhos do protagonista, restringindo a aparição do maníaco apenas em reflexos em janelas ou em espelhos, e só por este elemento, esta é uma obra bastante interessante e atraente principalmente para os fãs de terror, e claro, para quem aprecia o talento do alternativo e destemido Elijah Wood.


Menções honrosas:  Após O Senhor dos Anéis, Elijah participou de outros bons filmes como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças,  Happy Feet, Uma Vida Iluminada e o novo Toque de Mestre, um suspense bem eficiente.








6 de abril de 2014

Noé



Não tinha expectativa alguma sobre Noé, vi o trailer uma vez somente, mas em se tratando de uma obra de Darren Aronofsky, eu já aguardava por um blockbuster não convencional, pois narrar a dolorosa missão de um protagonista e discutir a moral de um ser complexo cheio de conflitos, parece mesmo um trabalho para o cineasta. Acredito eu, este foi o motivo maior que levou Aronofsky a comandar esta que é a sua primeira produção milionária.

Noé (Noah, 2014) é antes de tudo, um drama psicológico, um épico com toques de fantasia, e tem muito pouco de filme bíblico. Russell Crowe – numa interpretação notável e que exigiu muito mais nuances do ator que em Gladiador - interpreta Noé, homem que recebe de Deus a missão de salvar todos os animais de um dilúvio iminente. Em uma de suas visões, Noé nota que os humanos são castigados e entende que ninguém, além dos integrantes de sua família, deve ser posto na Arca. Para ele, o Criador se arrepende de ter criado os homens, seres destrutivos e maldosos. Em razão disso o protagonista toma decisões controversas, questionáveis, capaz de resultar em discussões acaloradas entre os amigos por várias semanas.

Noé foge da escória da humanidade.

A frase “O mal está em todos nós” do início do filme, me manteve atento durante todo a projeção, já previ que alguns personagens iam titubear entre ser bom e mau, como o imprevisível Cam (Logan Lerman) e o próprio protagonista. No terceiro ato, Noé torna-se um ser detestável e cego em sua obediência ao Criador, ou seja, um fanático religioso.

A parte “fantástica” do drama épico e que lembra muito O Senhor dos Anéis em algumas sequências, fica por conta das criaturas gigantescas de pedras, os Guardiões, são elas que ajudam Noé a construir a Arca. A inserção das criaturas rendem bons momentos na trama, mas parece mesmo que elas estão ali por decisão do estúdio, com o intuito de fazer de Noé, uma obra com apelo mais comercial, numa tentativa de vender a produção mais como fita de aventura e menos como um filme bíblico, pois como a história confirma, obras baseadas em escritos religiosos geram sempre polêmicas.

Noé tem boas cenas de ação, um elenco respeitado e competente, um visual soturno impressionante, um roteiro que, se não é perfeito em sua estrutura, é ousado ao trabalhar o psicológico dos personagens e apimentar as discussões sobre religião, fé ou criacionismo. É enquanto todos estão dentro da embarcação que se passam os momentos mais tensos da produção. A cena entre Ila (Emma Watson, deslumbrante) e Noé na beira da Arca em um instante definitivo da narrativa, é uma das passagens mais bonitas e agonizantes do ano.

Watson brilha no épico.

Mas o filme padece em alguns aspectos. Com um orçamento de 120 milhões, alguns efeitos visuais mereciam um capricho maior, os animais nas sequências em que caminham para a Arca deveriam  ter mais destaque, os bichos são mostrados sem detalhe algum e não impressiona. Logo se nota que os animais não foram muitos priorizados nos efeitos especiais.  Quanto ao elenco, o personagem de Anthony Hopkins é o único ali que, se fosse retirado na edição final, não faria falta.

Aronofsky realizou um épico decente para quem não esperava muito, mas fez também um blockbuster com substância. Noé pode ter seus escorregões, mas é uma obra imperdível, polêmica, te faz pensar e Aronofsky merece muito nosso respeito por ousar em tocar em temas espinhosos. No entanto, ainda prefiro o cineasta conduzindo produções menores.


NOTA: 8,0
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