Não há criatura de filme de
terror que nos assuste mais do que o ser humano. É chocante quando sabemos de
casos atrozes cometidos por homens aparentemente normais, que escondem suas
perversidades pousando de “marido perfeito” ou “generoso pai de família”. Em O
Clã (El Clan, 2015), filme argentino perturbador, conhecemos a história de um
homem, não, uma família inteira, que se
dedicava a fazer “desaparecer” pessoas na Argentina dos anos 80. O longa de
Pablo Trapero (Elefante Branco) recria essa história real que chocou o país em 1985.
Arquimedes Puccio (Guillermo
Francella, em atuação assombrosa), é um homem comum, à primeira vista, contador
diplomado, vive com quatro filhos e sua esposa em um bairro de classe média. O
que ninguém sabe, é que Arquimedes era um dos responsáveis pelo desaparecimento
dos “inimigos” na época da ditadura militar. Com o fim do regime e a escassez
do “trabalho”, ele percebe que o “negócio” ainda pode ser viável, mas agora,
as vítimas não necessariamente precisam ser inimigas do governo, bastam ser
ricas.
Com a ajuda do filho mais velho
Alejandro (Peter Lanzani), Arquimedes, com aquela ideia de que “faz tudo pela
família”, sequestra, tortura, pede resgate aos familiares do sequestrado, e depois
que é "pago", assassina a vítima. A falta de humanidade e frieza do personagem é
revoltante, de dar náuseas.
O que mais perturba na história é
a condescendência da família, cuja rotina nunca é abalada pelos gritos das
pessoas que ficam presas no banheiro da casa onde vivem. Alejandro, por
exemplo, é o segundo maior personagem da trama. Ele é o único filho que ajuda, diretamente, o
pai no negócio, popular e jogador de um time de rúgbi, é um personagem complexo,
ora passivo e obediente, ora aterrorizado, tentando arrumar um jeito de sair da
“empresa do desaparecimento”. Alejandro é um tipo de personagem em que o seu desconforto,
medo, angústia, impotência e outros sentimentos transpassam a tela e nos atingem
de um modo que nos deixa desconcertados.
O Clã é aterrorizante – o filme,
e a família mais ainda – e sem dúvida, uma das melhores películas do ano, destaque
para a trilha sonora marcante repleta de clássicos e a história bem arquitetada
e tensionada, além disso, nos apresentou a um dos vilões mais detestáveis e
repulsivos do cinema, sim, o Arquimedes.
Vale mencionar que esse ano o cinema argentino já nos presenteou com outra obra sensacional, Relatos Selvagens. Quem não viu, eu super indico. Confira o trailer de O Clã AQUI.
NOTA: 9,0
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