Em 2011 estreou Weekend, um drama independente de temática gay que arrancou elogios da crítica especializada. A
abordagem realista e intimista da relação entre dois homens foi considerada, na
época, seu maior acerto (e é mesmo). Três anos depois, estreia na HBO a série
Looking, do mesmo criador desse filme, Andrew Haigh. Looking possui muito em
comum com Weekend, e isso talvez tenha prejudicado a série, retratar o
universo gay com tanta honestidade não deu certo, a comunidade LGBT não apoiou
a produção, a audiência caiu e a série foi cancelada com apenas duas (ótimas) temporadas, mas o lado bom é que a HBO produziu Looking – O filme
(2016), a fim de dar um desfecho digno
às histórias dos protagonistas e, também, não deixar os fãs na mão.
Contextualizando, Looking é ambientada em São Francisco e narra os sabores e dissabores de três amigos gays,
Patrick (Jonathan Groff), Don (Murray Bartlett) e o barbudo Agustín (Frankie J.
Alvarez). Lá no início da série, cada um deles se encontrava em estágios diferentes
da vida, Agustín estava em um relacionamento aparentemente estável, Don, o mais
“velho”, vivia carente e numa crise de idade, por fim, Patrick, aos 29 anos, tentava
a sorte em aplicativos de encontro (especificamente o Grindr), mas sempre saia frustrado dos encontros casuais.
No último e fantástico capítulo, testemunhamos o final feliz, otimista e
bem novelesco dos três protagonistas. Agustín encontrou o homem de sua vida, mesmo
temendo desapontar o parceiro, casou-se com Eddie (Daniel Franzese), tornando o
tipo gay que ele tanto criticou durante a série. Don, tardiamente, realizou-se
profissionalmente, dedicou-se mais ao trabalho e menos aos prazeres, mas é claro, ele também
se arranjou com um “boy” no final da série.
Já o sonhador
e inseguro Patrick, que se viu envolvido em um triângulo amoroso com o latino
Richie (Raúl Castillo) e o seu chefe, Kevin (Russell Tovey), passou um ano fora
da cidade e retornou para rever seus amigos e resolver as pendengas de sua vida
amorosa. Com ares de comédia romântica – mas com diálogos bem mais inteligentes
– Patrick escolheu Richie, mas antes disso, teve que colocar um ponto final na
sua relação com o Kevin, na cena mais emocionante, dolorida e verdadeira da
série.
Looking era uma série cuja a maior força
eram os diálogos espertos, as cenas de sexo surgiam naturalmente, como
resultado de ações perpetradas pelos personagens, o sexo nunca era gratuito. Andrew Haigh, diretor e roteirista da série, também
apostou na melancolia, na abordagem cautelosa e honesta de questões atuais inerentes
ao público gay, mas por ser “comportada” demais, foi criticada (o que também
aconteceria caso a série fosse tão extravagante quanto a Elke Maravilha).
Looking foi rechaçada pelo seu próprio público-alvo
simplesmente porque eles queriam, não suportaram ver seus discursos
hipócritas escancarados na telinha, bem como o preconceito que os gays têm com eles mesmos.
A série também foi acusada de estereotipar os gays, o que não
é verdade, a diversidade dos personagens está lá para qualquer um ver: tem
o latino cabeleireiro (Richie), o magro baixinho (Agustín), o gordinho barbudo
e soro positivo (Eddie), o quarentão (Don) que ainda não se encontrou na vida,
o nerd (Patrick) inseguro que busca nos aplicativos o “parceiro ideal” e o bonitão (Kevin) que tem namorado, mas adora uma "relação aberta", pois quer variar
o “cardápio” o máximo possível – tipo muito comum e fácil de encontrar por aí.
Bem, se isso não é diversidade, não sei o que é.
O trunfo maior de Looking foi transpor para as telinhas questões vividas pela geração atual, como a já citada relação aberta, os
encontros casuais marcados por aplicativos, o fato de ser gay aos 30/40 anos, o
preconceito dentro do próprio mundo gay, entre outros, mas parece que ninguém
entendeu a abordagem intimista do seriado, o que me faz pensar
que, se a série fosse mais “picante”, talvez agradasse mais o público, mas daí
eu estaria estereotipando esse espectador e o chamando de superficial. Consegue ver a
contradição?
Mas o contraditório mesmo é ter uma comunidade que tanto preza
por representatividade, não apoiar a única série que retratava, em sua totalidade,
o universo LGBT. Reclamaram que os
personagens não faziam jus à realidade, mas aconteceu o inverso, o público esperou uma visão “romanceada” e “ilusória” do mundo gay, para tentar melhorar a
autoestima e “esquecer” por alguns minutos a vida cruel “fora do armário”, ao
invés disso, deparou-se com Patrick, Don e Agustín, personagens muito reais,
com dramas verdadeiros e comuns.
Entre o fim de Queer as Folk - primeira série totalmente gay - e Looking, passaram-se 9 anos,
provavelmente outros dez anos vão passar até surgir mais uma série voltada
a esse público. Looking tinha ainda muito a dizer, foi um fim precoce e deixará
saudades, mas sem dúvida alguma deixou um legado, quer você queira ou não, para a comunidade
gay.
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