No início da nova obra de Tim Burton, O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrines home for peculiar children, 2016), há uma cena em
que o protagonista percorre pelas ruas escuras de um subúrbio, que logo nos remete ao cenário
de Edward, Mãos de Tesoura, representando um bom indício do que vem a seguir, correto?
Não. Infelizmente, o filme é menos burtoniano
do que se esperava, é mais uma aventura infantil/juvenil de super-herói previsível,
cujo roteiro segue à risca a cartilha de filmes do gênero.
Tim Burton parecia o sujeito perfeito para transpor o
material literário de Ransom Riggs para o cinema, a história de tom macabro sobre
crianças marginalizadas com poderes extraordinários, parece mesmo uma obra com
a qual ele se envolveria, mas O lar das
crianças peculiares não tem a bizarrice típica do cineasta, é divertida e
infantil – isso fica claro na sequência de luta entre esqueletos e os monstros
Etéreos –, Burton dá o seu “toque” apenas em momentos pontuais.
As crianças são cativantes apenas por suas características peculiares,
mas o roteiro não se preocupou em desenvolvê-las, enquanto personagens, focando
nos poderes delas em momentos de ação – aí a comparação com a saga X-Men é
inegável.
Faltou empatia, substância e ritmo nessa história. Jake (Asa
Butterfield) e Emma (Ella Purnell) têm química e formam um belo casal, mas não
deveria ser o cerne do roteiro (o cenário de guerra, a relação problemática de
Jake e seu pai, a autoaceitação e até uma abordagem mais psicológica dos
personagens seriam bem mais atraentes), a relação entre os jovens apenas
evidencia a insistência de Hollywood em colocar um par romântico em qualquer
filme, julgando ser sempre o único elemento de ligação afetiva com o público.
Eva Green é o maior acerto do filme, sua presença em cena cativa de um jeito que ofusca qualquer outro elemento
que esteja ali com ela, seja humano ou não. Já a escolha de Samuel L. Jackson
para ser o vilão, foi infeliz, caricato, o ator está numa “fenda” e está se
repetindo há anos. Triste.
O lar das crianças peculiares tem uma estética de encher os
olhos e bons momentos que devem agradar muito as crianças, mas aviso que não é
um filme genuinamente burtoniano. Saudades de Sleepy Hollow...
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