Adeus, Pinochet. No, filme
chileno indicado ao Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro, conta o começo do
fim da ditadura do temível Augusto Pinochet.
O longa narra um dos momentos
mais importantes da história do Chile, no ano de 1988, por pressão
internacional, Pinochet estabelece um plebiscito para decidir se ele permanece,
ou não, no poder. Durante quase um mês, a TV exibiria 15
minutos de campanha publicitária para os dois lados, o Sí, que apostava na
continuação do indigesto ditador no poder, e o No, que significava a saída do
general e o fim da ditadura que já durava 15 anos.
Carabineros (polícia) esperam a ordem do general.
O sempre competente Gael García Bernal (O Crime do
Padre Amaro, Diários de Motocicleta) vive
o publicitário René Saavedra, que é convocado para assumir a campanha do No. O
drama acompanha a rotina do publicitário no desenvolvimento das campanhas
contra o general, que ao invés de apelar pelas cenas brutais de tortura e
violência realizadas pelo exército do ditador, faz algo mais criativo e resolve
apostar nas cores e na alegria do povo chileno que eram representadas por
coreografias e jingles com refrões grudentos. Mesmo avessos ao estilo
publicitário de René, os figurões do partido adotam a ideia, revolucionária
para a TV na época e que logo é copiada pelo lado opositor - características
publicitárias em campanhas políticas? Ninguém havia visto ou feito. Quem acompanha a série Mad Men, vai curtir No,
pois suas melhores cenas são aquelas em que os personagens estão trabalhando
nas peças publicitárias. Pode-se dizer até, que o longa faz uma bela homenagem
a esses profissionais tão criativos.
Estilo "velho" do filme é um de seus pontos positivos.
Pablo Larraín, o diretor,
realizou uma obra cheia de significados. No (2012), além da ode aos publicitários,
retrata de maneira fiel um grande momento da história chilena, capta de forma
fidedigna o sentimento de paranoia que afligia a população anti-Pinochet. Tal
realismo é potencializado e justificado por um dos principais trunfos da
película, o estilo de filmagem pelo qual o diretor optou. No, foi filmado com fitas magnéticas de baixa resolução, o mesmo
formato que era usado nas televisões chilenas no período. A escolha por esse
estilo é óbvia, Larraín queria mesclar as imagens de arquivos originais das
campanhas com as do filme, tudo isso para prender o espectador e fazê-lo viajar
no tempo, e sentir como se estivesse em 1988. O resultado é impressionante, as
imagens de arquivos passam despercebidamente aos nossos olhos.
Apesar do tema - política/ditadura - parecer pesado, No não é denso, nem é sério demais, as
cenas de gravação das campanhas até nos divertem, mas é tenso nos momentos que
é preciso, o filme encanta pelas imagens
com luz propositadamente estouradas e pela direção de arte bem cuidada. No é um
drama descaradamente anti-general, obrigatório
para quem gosta de história e política. E
claro, (mais) uma prova de que nossos
vizinhos também sabem realizar filmes de qualidade.
Este não é o primeiro filme chileno que eu comento aqui, La Nana, uma pérola cinematográfica festejada em vários festivais anos atrás, já teve um post aqui no blog. Veja a crítica e dê uma chance ao cinema latino-americano.
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