“Às vezes, sinto que estou lutando por uma
vida que simplesmente não tenho tempo para viver”. Esta frase dita pelo protagonista Ron Woodroof (Matthew McConaughey)
define bem o enredo do drama Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club,
2013). A luta de Ron em prolongar a sua vida após descobrir ser portador do
vírus HIV é algo impressionante de testemunhar nessa obra do diretor Jean-Marc
Vallée.
Woodroof é um
texano machista, gosta de montar touros e fazer sexo sem proteção com mulheres
em qualquer lugar, sempre que puder. Não por acaso, descobre possuir o vírus da Aids e segundo o médico, ele já deveria estar morto há tempos, e mais, dá-lhe apenas
30 dias de vida. Nos anos 80, a doença era vista como algo restrito apenas a
homossexuais, então, o mundo de Ron parece desabar sob sua cabeça.
Leto e Matthew: atuações de corpo e alma.
Mas é nessa circunstância nebulosa que a vida de
Ron tem uma reviravolta e acompanhamos a partir daqui a riqueza deste
personagem que para nossa maior surpresa, foi um homem da vida real. Em vez de
se prender a um leito de hospital, Ron sai em busca de remédios alternativos,
ilegais e melhores que a droga experimental dada pelo hospital. Com uma visão
empreendedora notável, o homem cria o seu clube de compras traficando medicamentos e lucrando com isto, mas também, começa a ajudar milhares de pessoas que estão na mesma condição que a sua.
A relação
improvável entre o texano e um travesti (Jared Leto), que logo depois se torna
seu sócio é um dos trunfos da fita. Leto e McConaughey, esguios de tão magros
que estão, fizeram um trabalho exemplar, isso é incontestável e merecem o
Oscar este ano nas categorias que estão indicados.
Clube de
Compras Dallas é um filme sobre a luta para viver de um ser humano incrível e perseverante, é sobre a jornada de um homem que se agarrou à
esperança e com isso transformou sua vida.
NOTA: 8,0
Falando
nisso....
Never Wipe Tears Without Gloves
A descoberta e
o impacto da Aids principalmente na comunidade gay nos anos 80 também são
tratados em Never (Don´t Ever) Wipe Tears Without Gloves (Torka
aldrig tårar utan handskar, 2012), minissérie sueca de três capítulos.
A cidade de
Estocolmo é o cenário desta história emocionante que mostra o amor, a doença e
a morte de um grupo de amigos que são separados de forma trágica e penosa. Rasmus (Adam Pålsson) e Benjamin (Adam Lundgren)
protagonizam o drama. O primeiro é um jovem da zona rural que vai à cidade
grande para se libertar sexualmente, o segundo, Benjamim, mais recluso, é testemunha de Jeová
e sai de porta em porta citando passagens da Bíblia. Os dois se encontram numa
festa de Natal e inicia aí uma relação de amor, mas também de muito
sofrimento.
Benjamin assiste a degradação de seu único amor
A estrutura da
minissérie é muito interessante, a história é contada de forma não
sequencial. A infância, a adolescência e a vida adulta dos dois protagonistas são
mostrados durante os três episódios, facilitando para o espectador uma conexão
emocional com os personagens, além de promover a visão da família e mostrar o
preconceito da sociedade sobre esta doença que naquela época, era uma
sentença de morte.
Em tradução
livre, o título é Nunca Enxugue as Lágrimas sem Luvas, que curiosamente deriva
de uma cena bastante significativa no início da minissérie, quando uma
enfermeira é repreendida pela colega porque enxugou as lágrimas de um paciente com Aids, sem
as devidas luvas.
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