Está ficando repetitivo e soando
meio ignorante dizer que os filmes de suspense e terror são todos “mais do mesmo”
e previsíveis, comentários que surgem sempre quando aparece alguma obra do
gênero que se sobressai pela sua originalidade - eu mesmo já disse algo assim.
Mas tenho constatado também que, em se tratando desse estilo de filme, a
criatividade está nas produções de baixo orçamento, que dificilmente chegam aos
cinemas brasileiros e muita gente não vê. The Babadook e Garota Sombria Caminha Pela Noite, por exemplo,
são algumas das obras mais originais e impressionantes que apareceram
recentemente. O elogiado Corrente do Mal (It Follows, 2014),
felizmente, também é uma grata surpresa e mais uma confirmação de que este gênero não
está restrito a remakes e sequências vazias com intenções puramente comerciais.
Escrito e dirigido pelo novato
David Robert Mitchell, Corrente do Mal
tem uma premissa um pouco absurda, à primeira vista, não parece um filme para
ser levado a sério, mas engana-se quem pensar assim, o longa possui muitas qualidades
que o distanciam dessas produções ordinárias de terror/suspense que infestam os
cinemas dos shoppings. Sobre a trama, bem, basicamente é sobre uma garota que,
após transar com um garoto, começa a ser perseguida por “estranhos”, e para se
livrar dessa maldição, ela tem que fazer sexo com alguém e passar o mal para ele.
Com uma história dessas, Mitchell
poderia facilmente fazer um filme corriqueiro sustentado por sequências com
muito sexo e banhos de sangue, no entanto, quase não há sangue na tela, e o
elenco jovem não está ali apenas para preencher o espaço em cena à espera de
uma morte brutal e sanguinolenta. Outro ponto positivo do filme é que a
entidade que persegue Jay (Maika Monroe, ótima), assume a forma de pessoas
diferentes, deixando o espectador aflito pela próxima representação do mal.
A trilha sonora envolvente, sinistra e oitentista
- referência aos filmes de suspense dos anos 70 e 80 – e o cenário desolado
potencializa a sensação de desconforto e medo, já os planos abertos, nos deixam angustiados à procura de fantasmas
por todo o quadrado da tela. Todos esses
pontos que mencionei faz desse suspense uma obra que foge do “convencional”, e
só por isso, tem o seu valor.
NOTA: 7,5