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17 de dezembro de 2013

As Melhores Séries de 2013



Como de costume, chega o final de ano e é aquele momento para fazer a lista dos melhores do ano da TV e do cinema. Primeiro, vou contar para vocês as séries que me fizeram vibrar em 2013, foi um ano péssimo para a TV, muita coisa ruim apareceu, temporadas horríveis - Dexter, por exemplo - mas tivemos boas surpresas também. Segue abaixo, as minhas séries favoritas do ano.


1- In the flesh: Esta produção britânica sobre zumbis que recebem tratamentos médicos e estéticos e são reinseridos a sociedade é, não somente a melhor série do ano, da década também. O drama traz uma visão inovadora sobre os mortos-vivos, os zumbis aqui são vítimas e os vilões, somos nós, humanos. In the Flesh é corajosa em termos narrativos, é veemente na sua crítica social e o tom intimista e melancólico do seriado torna-o ainda mais especial e obrigatório.


2- Breaking Bad: A saga de Walter White teve um desfecho exemplar. Na verdade, a série toda foi fundamentada pela excelência em todos os seus aspectos. Decisão muito acertada do criador Vince Gilligan em finalizar a série no momento certo, sem querer estendê-la para incontáveis temporadas, algo comum na TV nos dias de hoje. Breaking Bad mostrou que é possível realizar algo original e de qualidade e ainda assim conquistar o público.


3- Les Revenants: Esta série estreou na França no final do ano passado, mas só ganhou repercussão mundial em 2013, logo, ela tinha que figurar nessa lista.  De maneira elegante, a produção nos mostra a rotina de uma pequena cidade onde alguns moradores, mortos anos atrás, ressurgem na cidade inexplicavelmente e começam a levar a vida como nada tivesse acontecido. Com um clima de mistério crescente, um roteiro bem construído e envolvente Les Revenants é um suspense classudo e surpreendente.  A série vai ganhar um remake britânico e um americano  - óbvio  - e começou a ser exibido no Brasil em novembro pelo canal Max.


4- Game of Thrones: A cada ano fica melhor. A terceira temporada desta produção impecável da HBO foi devastadora, no bom sentido. Como não lembrar o chocante episódio Rains of Castamere no qual praticamente metade do elenco teve sua morte decretada. Um episódio daqueles para ficar na memória a vida inteira. Coisas que somente GOT proporciona a você. Alguns podem reclamar do excesso de tramas e personagens, é difícil mesmo lembrar o nome de todos eles, mas é isso que faz GOT ser desafiadora, grandiosa e diferente de tudo que há na TV.


5- Bates Motel: A temporada das boas estreias de seriados americanos passou do período da fall season - entre setembro e novembro nos EUA - para o primeiro semestre do ano. Bates Motel estreou em março e desde então não foi difícil reservar um lugarzinho para ela no TOP 10 das melhores séries de 2013 e uma das grandes estreias do ano. A introdução de um personagem clássico do cinema, Norman Bates, em um mundo moderno me causou estranheza no início. Mas os roteiristas provaram ser uma boa ideia e então, me apaixonei pela história, pela louca Mãe Bates de Vera Farmiga - numa atuação digna de Emmy – e claro, Norman Bates, complexo e bipolar, surpreendentemente bem representado por Freddie Highmore.


6- Please Like Me: Esta delícia de comédia australiana – viu só, a lista tem seriados de diversas nacionalidades – é uma grande surpresa da TV este ano. A série é escrita e estrelada pelo comediante Josh Thomas. A comédia é baseada na vida e nas situações vividas pelo ator. Please Like Me discute temas tabus como homossexualismo, sexo na terceira idade, depressão e muitos outros com muito bom humor, ironia e simplicidade. Uma série gostosa de ver, felizmente ela foi renovada para a segunda temporada.


7- Masters of Sex – A melhor estreia da fall season na TV americana. Michael Sheen (Frost/Nixon, A Rainha) e a lindíssima Lizzy Caplan  protagonizam esse drama envolvente sobre os primeiros estudos sobre o sexo realizado nos anos 50.  Com um roteiro que avança a passos largos a cada episódio e atuações notáveis, a série também se destaca por falar de comportamento sexual de forma adulta e espontânea, e apesar das muitas cenas de nudez e de sexo, o drama passa longe do vulgarismo.  Aconselho muito a ver a série, você fará descobertas impressionantes. 


8- The Fall – Um novo olhar sobre a figura do serial killer, um retrato familiar e íntimo de um assassino em série, é isso que The Fall, produção da BBC Irlanda, proporciona aos espectadores. Gillian Anderson - de volta às telinhas - vive uma detetive na busca de um assassino de mulheres, Paul, interpretação ímpar de James Dornan (Once Upon a Time),  oscilando entre a sutileza e a ferocidade de seu personagem. O mais bacana da série é acompanhar Paul em sua vida dupla, de dia faz o papel de chefe de família e marido, e à noite, sai em busca de belas mulheres para matar. A primeira temporada tem apenas cinco episódios e a segunda já foi confirmada.


9- Banshee – A segunda temporada de Banshee vai começar logo, em janeiro, se você curte ação e duelos sangrentos, corre que dá tempo de conferir a primeira temporada. A série é mais uma cria do Alan Ball, o criador de True Blood, então, espere muita violência e sexo né. Na trama, Lucas Hood (Antony Starr) é um ex-condenado, procurado por gângsters e que substitui o xerife de uma cidade próxima de uma comunidade Amish. Obviamente que a vida de Lucas na cidade não será tão tranquila assim, então, situações extremas envolvendo muitas lutas e cenas de ação vão pipocar na sua tela constantemente. A história às vezes é comprometida pela previsibilidade e clichês, mas Banshee cumpre bem o que propõe, diverte e empolga.

Menções honrosas a outras séries como Nashville, The Following, The Americans, Homeland, Revenge e a nacional O Negócio.

15 de dezembro de 2013

Somos o que Somos



Sem causar sustos, aberrações ou banho de sangue, Somos o que Somos (We Are What We Are, 2013) é um suspense bizarro, mas bem mais importante que isto, é dizer que o filme é um bom exemplo de uma história muito original e promissora, mas que não foi bem sucedida na sua execução. 

Refilmagem do longa mexicano Somos lo que Hay, Jim Mickle (Stake Land) dirige o suspense sobre uma família reclusa e apática que vive como se estivesse ainda no século 19. Após a morte da matriarca da família, o pai, Frank (Bill Sage, numa performance limitada e irritante), incumbe as suas duas filhas de ser responsáveis em manter uma tradição antiga e mórbida. Costumes cujas provas estão prestes a ser descobertas pelos moradores da cidade em razão de uma forte e constante chuva, deixando Frank no limite da racionalidade e gritando aos ventos citações bíblicas sempre que possível.

Iris tem uma refeição indigesta.

O início do filme é instigante, há o clima de mistério, uma atmosfera assustadora se edifica nos primeiros minutos, o final surpreendente e indigesto (adorei o desfecho) também funciona, no entanto, o seu miolo é decepcionante, sonolento. Somos o que Somos não prende a atenção, mesmo com aquela expectativa para saber o verdadeiro segredo da família Parker, e quando nossas suspeitas se confirmam, não sentimos nada, culpa do diretor que não soube construir aqui um momento de impacto.

A fotografia sérpia, o ambiente opressor da casa da família e as boas atuações de Julia Garner e Ambyr Childers, que interpretam as irmãs Rose e Iris respectivamente, são os acertos deste suspense macabro. Somos o que Somos pode não ser perfeito e nem deve agradar a muitos, mas ainda tem a seu favor, a abordagem de um tema pouco explorado no gênero, o canibalismo, e isso é algo positivo, considerando as tantas produções de terror com temas pra lá de batidos que infestam os cinemas. 

NOTA: 6,0

3 de dezembro de 2013

No Rastro da Bala



Paul Walker - que agora vai brilhar lá no céu, cedo demais até - não “sobrevivia” apenas da série Velozes e Furiosos,  ele atuou também em bons filmes como Ladrões, e outros ótimos como A Vida em Preto e Branco e No Rastro da Bala, este último, considero um dos melhores do astro.  Dirigido por Wayne Kramer (The Cooler; Território Restrito), No Rastro da Bala (Running Scared, 2006) é uma fita de ação e suspense eletrizante e violenta e lembra muito os primeiros filmes de Guy Ritchie.

Após um tiroteio sangrento entre mafiosos e policiais, Joey (Walker) é encarregado de se livrar da arma usada na carnificina, mas ele a leva para sua casa. No entanto, o revólver é roubado pelo amigo de seu filho, Oleg (Cameron Bright), que deseja matar o seu padrasto, e que para piorar a situação, é da máfia russa. O garoto acerta no padrasto e logo depois foge com a arma. Começa então uma busca frenética de Joey, às vezes acompanhado de seu filho,  para tentar encontrar a arma antes dos mafiosos e da polícia.

Walker em versão desbocada e agressiva

A partir daí, o filme segue rumos inesperados e vários personagens bizarros e marginais entram na história, destaque para um casal de pedófilos. A sequência em que a mulher de Joey, Teresa (Vera Farmiga, muito sensual) chega à residência colorida e exagerada do casal é de roer as unhas. Kramer construiu o cenário perfeito de um filme de suspense e faz o espectador ficar aterrorizado.

No Rastro da Bala é extremamente bem produzido, a edição fantástica e ousada, movimentos de câmeras engenhosos e as cenas fora de ordem cronológica dão um tom mais vertiginoso à trama, na verdade, a fita é exageradamente eletrizante e ágil, do tipo que hipnotiza o espectador, não que isto seja uma falha, não para o gênero, por conta disso, No Rastro da Bala se distingue de tantas produções bobas de ação que subestimam a nossa inteligência.

Aquele momento sensual que a gente curte ...

Paul Walker está bem diferente de seu personagem em Velozes e Furiosos. Em vez dos sorrisos largos e do charme visto na franquia, o ator interpreta com intensidade um mafioso agressivo, desbocado, descuidado, mas que não é mau, porém sua performance é bonita de ver.

Mesmo com alguns clichês e um clímax caótico (demais), No Rastro da Bala é filme de ação de qualidade - merece mais atenção do público – empolga, surpreende e não deixa você nem respirar.


NOTA: 8,0

27 de novembro de 2013

Meus 533 Filhos (Starbuck)



David Wozniak já passou dos 40, não tem muita coisa na vida, exceto algumas dívidas e um emprego que não exige muito de si. Sua pacata existência muda quando descobre que tem “apenas” 533 filhos, fruto de sua excessiva e inconsequente venda de esperma na juventude. Este é o plot de Meus 533 Filhos (Starbuck, 2011), uma deliciosa comédia franco-canadense que vale a pena assistir.

Após descobrir ser pai de praticamente metade dos jovens da cidade, por meio de um advogado que lhe informa que 142 dos 533 filhos entraram na justiça para saber a sua identidade, David decide conhecer os “filhos”, anonimamente. A relação entre Starbuck - nome que David usava nas clínicas de doação de esperma - e Valerie (Julie LeBreton), que está grávida dele, também o incentiva a procurar seus descendentes, mesmo que a princípio seja apenas por curiosidade. E então, tem início os momentos mais mágicos e engraçados do filme.  

David entre os cento e tantos filhos.

David começa a ajudar os filhos da forma que pode, fazendo-o ter o gostinho da paternidade pela primeira vez na vida. Um dia, ele colabora com o jovem que canta na estação de metrô, no outro, repreende os caras que flertam com sua filha quando esta passa por um canteiro de obras.

O longa, do diretor Ken Scott, tem muitos acertos, entre os principais estão a escolha do ator Patrick Huard para viver o protagonista. Wozniak é um ser humano incrível, cheio de vida, bondoso, alto astral, divertido e quando uma personagem agrada tanto ao espectador, o mérito é todo do intérprete, o canadense Huard encarna o quarentão com tanta destreza que faz você querer ser um dos seus filhos. Outro acerto é o roteiro leve e cômico, mas com toques dramáticos sem nunca parecer uma novela mexicana.  Ah, a sequência final é simples e emocionante.

"I´m your father".

Meus 533 Filhos transmite lições de moral sem didatismo, discute a paternidade de um jeito descontraído e outros temas atuais como a criação de uma família incomum, mas sustentada por um amor e cumplicidade proporcional à sua grandeza, em termos numéricos. 

Como é de se esperar quando aparece um sucesso em língua estrangeira - o filme é falado em francês e os americanos não gostam muito de legendas - Meus 533 Filhos ganhou uma refilmagem. O remake hollywoodiano se chama Delivery Man e tem Vince Vaughn como o protagonista. A boa notícia é que, Ken Scott, diretor do original, é quem comanda a nova versão, em razão disso provavelmente não haverá muitas mudanças entre as produções. No entanto, Vaughn não tem o mínimo de simpatia e carisma de Patrick Huard, para mim, isso é motivo suficiente para eu preferir este à refilmagem, mesmo que ainda não a tenha visto, mas claro, há a possibilidade de eu estar enganado. Veja o trailer do filme original!


NOTA: 8,5

24 de novembro de 2013

Doctor Who: The Day Of The Doctor



A experiência

Antes de falar do episódio, tenho que comentar a experiência incrível de ver Doctor Who no telão gigante do cinema. Há alguns anos eu nunca imaginaria que veria um episódio especial da série no cinema, em 3D, e junto com centenas de fãs pra lá de entusiasmados. Jovens, filhos, pais, avôs e avós, lotaram a sala do cineplex.  Foi bonito de ver. Não há jeito melhor de comemorar os 50 anos deste clássico da TV do que acompanhado de gente que gosta tanto da série quanto você. Foi uma decisão acertada da BBC lançar The Day of The Doctor também nos cinemas, especialmente no Brasil.

Eu, particularmente, não sabia que Doctor Who tinha tantos fãs aqui no Brasil, ingenuidade minha, suponho também que a BBC America também não tinha ideia da imensa demanda que estava por vir quando anunciou o evento. De início, apenas poucas salas de cinemas exibiriam o especial, mas com a impressionante campanha dos fãs nas redes sociais e os pedidos para expandir o número de cinemas para outros estados, ficou claro que o seriado tem um público fiel, relevante e muito animado.


De dentro da sala do Cinemark do Shopping Mueller, aqui em Curitiba, a empolgação e as reações do público – aplausos, risadas e sonoros e constantes “ooooohh” a cada aparição de um personagem – fizeram deste evento uma experiência única, divertida e inesquecível. E aquela sensação de que Doctor Who é uma série para poucos brasileiros – nunca conheci ninguém que ao menos ouvisse falar do programa, triste, eu sei – foi desconstruída para sempre, agora sei que esta maravilha da TV britânica tem muitos admiradores aqui no país. Isso me deixa contente.

O “filme”                                            
Cuidado, possíveis spoilers!



Luzes apagadas. Os trailers ficaram para trás. Chegou a hora. Depois de uma apresentação hilária do Sr. Strax explicando as regras de conduta no cinema, é a vez do 11º e 12º Doctor, Matt Smith e David Tennant respectivamente, entrarem em cena para divertir um pouquinho mais a platéia. Memorável. E o episódio especial nem tinha começado ainda.

Com o roteiro de Steven Moffat e direção de Nick Hurran, The Day of the Doctor é nada mais que um episódio que homenageia a própria série, uma viagem saudosista, divertida e repleta de momentos emocionantes.  A trama envolve linhas temporais distintas. Há a ação ambientada em 2013, quando algo misterioso invade uma galeria, a trama envolvendo a destruição do planeta natal do Doctor, Gallifrey, e por terceiro, tem o mistério envolto da Rainha Elizabeth I. Em cada linha do tempo, há um Doctor, e para resolver esses problemas em tempos e espaços diferentes e que envolvem o passado do Lorde do Tempo, será preciso a soma das forças de três Doctors.

John Hurt, participação mais que especial

Inegavelmente, a maior força do episódio está na interação entre o 11º Doctor, o 12º Doctor e o Doctor de John Hurt. Tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes, Matt Smith, David Tennant  -  o meu DW favorito -  e John Hurt juntos em cena é um deleite, os diálogos entre eles soam tão naturais e em perfeita sincronia, transbordam sarcasmos e piadinhas inteligentes.

Billie Piper também retorna à série. Não como Rose Tyler, mas como Bad Wolf, cujos diálogos se restringe  apenas ao DW de John Hurt. Vou confessar, senti falta da jovem interagindo com o seu amigo David Tennant, certamente seria um reencontro do tipo difícil de expressar apenas com palavras.

DW: Reencontro de gerações

The Day of the Doctor é surpreendente, um presente aos fãs, um episódio cheio de momentos icônicos como as três Tardis enfileiradas, o bate-papo singelo entre 11º Doctor e Tom Baker, o 4º Doctor, ou mais para o final, a cena que apresenta todos os Doctors juntos em um plano geral. Não há como sair do cinema apreciando ainda mais esta série magnífica - de uma longevidade invejável - e que continua fazendo jus a tudo que ela representa para a ficção científica, para a cultura pop, para a história.



17 de novembro de 2013

Blue Jasmine



Uma mulher esnobe, instável, neurótica, desesperançosa, mas irresistível de uma forma que não consigo explicar. Seria uma personagem apenas detestável se a personagem não fosse de um filme de Woody Allen. Cate Blanchett é então, esta mulher plural e complexa em Blue Jasmine (2013), nova dramédia do cineasta septuagenário.

Falando em Cate Blanchett, essa brilhante atriz de talento ímpar, é de se esperar que Allen tenha escrito o papel de Jasmine especialmente para ela. Blanchett encarna a personagem com tamanha perfeição e dedicação que é difícil visualizar outra atriz em seu lugar. Jasmine é uma mulher sofisticada, acostumada com o luxo e as festas enquanto vivia com Hal (Alec Baldwin). Após o marido ser preso por fraude, ela perde tudo e tem início a sua decadência social. Sem ter para onde ir, ela vai morar com a meia-irmã Ginger (Sally Hawkins, ótima também) e seus dois filhos em um muquifo desconfortável - para os padrões de Jasmine - numa área não muito nobre da cidade de São Francisco.

Os novos "amigos"  sem glamour de Jasmine.

Sem o requinte da sua antiga vida, Jasmine terá que reconstruir a sua vida em uma nova cidade, arrumar um emprego e viver ao lado da irmã cafona e ter que aguentar seus amigos truculentos. É nesse ambiente que Allen nos mostra o quanto a personagem poderia ser desprezível. Ela critica o estilo de vida, o emprego e os namorados de Ginger, tem crises de superioridade, esnoba os amigos da irmã e tem constantes ataques nervosos. Porém, Blanchett, com sua sutileza e  experiência, humaniza Jasmine de tal jeito que não há como odiá-la totalmente, e tem momentos que realmente torcemos para que ela encontre um homem bem rico e seja feliz novamente.

Blanchett: uma mulher de talento

Blue Jasmine tem um compasso agradável, algo notável em outros filmes do diretor como Meia Noite em Paris e Scoop: O Grande Furo, os flashbacks constantes contribuem para isso. Como de praxe em uma obra de Woody Allen, aqui também estão os diálogos espertos e sarcásticos e a trilha composta de muito jazz,  no entanto, São Francisco não ganha muita força na história, ao contrário do que aconteceu em Vicky Cristina Barcelona e Meia Noite em Paris, em ambas as produções, a cidade e a cultura dos lugares se tornam tão importantes quanto os protagonistas.

Nesse drama, o holofote está mesmo em Cate Blanchett - certamente ela será lembrada nas próximas premiações - e na triste jornada de sua protagonista por um novo sentido na vida. Woody Allen, em seu trabalho mais dramático que suas produções anteriores, mostra que está disposto a experimentar - seja nas escolhas narrativas ou de novas locações - e aos 77 anos, ainda se encontra no auge de sua lucidez.

NOTA: 8,0

  
Woody Allen essencial


Meus filmes preferidos do cineasta:


- Match Point (2005): Um dos filmes mais bem sucedidos e idolatrados do diretor. Este é um thriller demasiadamente sensual protagonizado por Scarlett Johansson e Jonathan Rhys Meyers. Um romance adulto, inesperado e repleto de intrigas, desses que você precisa ver antes  de morrer.

                                 

- Scoop: O Grande Furo (2006): Depois do denso Match Point, Allen optou voltar às comédias românticas e recrutou, novamente, a bela Scarlett Johansson. A loira vive uma jornalista que acredita saber a identidade de um serial killer que tem aterrorizado a cidade. Daí durante a sua investigação ela se apaixona pelo tal suspeito, vivido por um charmoso Hugh Jackman. Engraçadíssimo e divertido filme.


- Vicky Cristina Barcelona (2008): Muita sedução, a apaixonante Barcelona como pano de fundo e um caloroso beijo lésbico entre Penélope Cruz e Scarlett Johansson nessa dramédia acima da média. Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Johansson) estão em Barcelona de  férias  quando conhecem Juan Antonio (Javier Barden) um homem sedutor que vai “sacudir” o mundo  das  duas  amigas.


- Tudo Pode Dar Certo (2009): Uma comédia bem gostosa de ver e que nos ensina tanto. Boris (Larry David) é um senhor meio hipocondríaco e sincero demais. Um dia ele conhece a linda e ingênua Melody (Evan Rachel Wood). Nova na cidade, a garota pede a Boris um lugar para passar a noite. A relação dos dois vai se intensificando até se transformar num casamento. A relação desse casal tão improvável e os diálogos hilários são o ponto forte da fita.



- Meia Noite em Paris (2011): Uma cativante comédia romântica ambientada em Paris e com uma história bastante ousada. Gil (Owen Wilson no melhor papel de sua vida, rs) é um roteirista que visita a cidade da luz com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e  seus pais.  Tudo está muito monótono na vida do rapaz até que, certa noite, ele é transportado para a década de 20. Lá, ele conhece seus maiores ídolos, como Picasso, Hemingway, Fitzgerald, Gertrude Stein, entre outros.  O filme aborda a inevitável insatisfação da época em que vivemos, e assim, sempre pensamos que nascemos na década errada ou que em outros tempos, a vida  era melhor.

11 de novembro de 2013

Como Não Perder Essa Mulher (Don Jon)



O ator Joseph Gordon-Levitt é talentoso, gente boa e tem carisma de sobra, nós sabemos disso, e ainda é dono de uma produtora colaborativa, a Hit Record. No entanto, ele ousou alçar voos mais altos e mostrar a todos outras habilidades. Com 32 anos, o ator se mostra bastante interessado em experimentar novos projetos e não ficar restrito à carreira de ator. Este ano ele decidiu seguir os passos de seus colegas George Clooney e Ben Affleck, resolveu escrever o roteiro e dirigir o seu próprio filme. Como Não Perder essa Mulher (Don Jon, 2013), é seu primeiro trabalho atrás das câmeras. Joseph também estrela a comédia e divide a cena com Scarlett Johansson - mais estonteante que em Match Point - e Julianne Moore.

De forma sucinta, Como Não Perder Essa Mulher é sobre a vida de um mulherengo antes - baladas, mulheres, sexo casual,  academia, igreja - e depois  de  começar um namoro - jantares, filmes românticos, academia, igreja. Porém, Johnny, o Don Jon, tem um probleminha, é viciado em pornografia, prefere muito mais a liberdade fantasiosa que ele tem assistindo e se masturbando com os pornôs do que o prazer de uma transa de verdade, porém limitada.

Scarlett: Uma mulher quase perfeita.

A fase Don Juan do protagonista acaba quando conhece uma loira extremamente atraente e bela - é ela, a Scarlett. Para Jon, é a mulher perfeita.  Mas em poucas semanas, a loira se mostra uma mulher bastante controladora e começa a comandar a vida do rapaz. Não sei se Joseph se inspirou em algum amigo para criar esta história, mas a figura do protagonista me parece muito com algumas pessoas com quem já me deparei na vida, exceto pela parte do vício em pornografia, claro.  Quem não conhece um cara que vive de academia e baladas à noite? O grande barato do filme é que o público vai se familiarizar muito com os tipos que despontam na tela.

Don Jon é uma comédia simpática, divertida, agradável de assistir (principalmente a dois), mas peca por alguns fatores que infelizmente não passam despercebidos. O roteiro didático e previsível e as excessivas repetições de cenas, que a certa altura, atrapalham o ritmo da trama. Mas a primeira experiência de Joseph na direção também tem seus “brilhos”.  Como a edição vertiginosa e o elenco, a sensualidade de Scarlett e uma despretensiosa Julianne Moore, cuja personagem tem uma relação estranha com o Johnny, e quando juntos, resultam em alguns bons momentos da produção. 


O próprio Joseph está muito à vontade vivendo o mulherengo Johnny, sem nenhum resquício de sutileza e com um tom de voz diferente, a sua performance se diferencia e muito de alguns papéis recentes que tem feito. Destaque ainda para os pais engraçados de Jon. O pai, é a versão futura do filho, marrento e pavio curto, já a mãe, está desesperada para que o filho encontre uma mulher e realize seu sonho de ser avó.

Como Não Perder Essa Mulher estreia em dezembro, se não adiarem. E sobre Joseph Gordon-Levitt atuando como cineasta, eu diria que ele se saiu bem, aposto que se houver um segundo trabalho do astro como diretor, certamente o resultado será superior à sua estreia.

PS: Fique atento para a participação hilária de Anne Hathaway e Channing Tatum.    
                 

NOTA: 7,0

Joseph Gordon-Levitt está sempre marcando presença no blog, Hesher, 50% e Perigo por Encomenda, são três filmes imperdíveis protagonizados pelo ator que eu já comentei aqui e que você precisa ver!

5 de novembro de 2013

Following - O primeiro quebra-cabeça de Christopher Nolan



O cineasta mais prestigiado do cinema atual, Christopher Nolan, cuja filmografia não há um risco sequer, Seja de baixo orçamento (Amnésia) ou blockbusters (A Origem, Trilogia Batman), as obras cinematográficas do inglês são todas imperdíveis, impecáveis do ponto de vista técnico e ousadas em termos narrativos.  

Já que estamos falando em narrativas, o primeiro trabalho do diretor, Following (1998), tem como principal atrativo a história, ou melhor, a forma como ela é contada. A trama é desenvolvida de uma forma não-linear, o que mais tarde se tornaria sua marca registrada. Following é uma espécie de “projeto” do seu filme seguinte, Amnésia, porém, é um “esboço” bem elaborado, intrigante e envolvente até o último minuto.

"Eu sigo pessoas".

O homem, que às vezes diz chamar-se Bill (Jeremy Theobald), é um aspirante a escritor, tem uma vida vazia e sua rotina baseia-se em seguir pessoas aleatórias nas ruas.  Para não ser percebido o jovem tem algumas regras, como nunca seguir o mesmo indivíduo mais de uma vez. No entanto, ele quebra essa regra quando Cobb, um dos “seguidos” vai ao encontro de Bill e lhe pergunta por que ele está sendo vigiado. Cobb (Alex Haw) é um ladrão. Ele entra e sai das residências para roubar pequenos objetos, principalmente coisas pessoais. Não demora muito para que os dois comecem a invadir as casas juntos, e a partir daí iniciam os problemas e as traições.

O primeiro longa-metragem de Nolan tem alguns fatos curiosos que são relevantes mencionar. Como vocês perceberam, Cobb também é o nome do personagem de Leonardo DiCaprio em A Origem. Outra coisa, numa determinada cena, há o símbolo do Batman estampado numa porta. Nem preciso falar mais nada né, certamente no final dos anos 90, Nolan, que lutou bastante para finalizar este filme -  as  filmagens duraram quase um ano, pois o elenco só tinha o fim de semana livre para filmar – não imaginaria que  sete anos mais tarde ele estaria lançando Batman Begins, o primeiro capítulo de uma trilogia mais que bem sucedida, e que se transformaria no cineasta mais requisitado e querido do momento.

Clima noir em Following

Como já disse, Following tem como principal triunfo a narrativa não-linear. O longa foi filmado em preto e branco, a produção é modesta, um traço que apenas ressalta a presença das personagens na produção e permite direcionar o nosso olhar exclusivamente para os dois protagonistas – misteriosos e interessantes  demais - e em suas ações, o que é ótimo.

O thriller é um delicioso quebra-cabeça cujas peças são jogadas na cara do espectador aleatoriamente. E elas somente se encaixam no último minuto da fita, desvendando aí um enredo intrincado - que vai e volta no tempo - e tão esperto que dá vontade de rever o filme assim que sobe os créditos. Como a produção tem apenas 69 minutos, uma reprise é bastante tentadora. Assista o trailer.


NOTA: 8,0

31 de outubro de 2013

The Kings of Summer (Os Reis do Verão)



A adolescência não é um período fácil. É aquela fase em que ansiamos desesperadamente tornarmos adultos para gozar da liberdade e da independência que os pais, pensando no nosso bem estar, tentam frear. É sobre esse rito de passagem que trata o elogiado The Kings of Summer (2013). A produção indie tem sido apontada por aí como uma mistura de Na Natureza Selvagem e Conta Comigo, é verdade, mas o longa juvenil também tem sua própria identidade o que o qualifica como um dos filmes mais simpáticos do ano.

Joe (Nick Robinson, da série Melissa and Joey), Patrick (Gabriel Basso, do filme Super 8 e da ótima série The Big C) e Biaggio (Moises Arias, de Hannah Montana) são três amigos que decidem fugir de casa e resolvem construir uma “casa” no meio de uma floresta. Joe está fugindo da severidade  do pai, que ficou mais rancoroso após a perda da esposa. Já Patrick, foge de casa em razão do comportamento excêntrico e super protetor dos pais.


27 de outubro de 2013

O Conselheiro do Crime



Ao término da sessão do novo filme de Ridley Scott, O Conselheiro do Crime (The Counselor, 2013), a única cena realmente memorável que ficou na minha mente é a da personagem Malkina (Cameron Diaz arrasando) em um momento sexual e bizarro em cima de um carro. Não por acaso, é a loira atriz quarentona que surpreende e se destaca na produção composta por um elenco de peso com nomes como Michael Fassbender, Javier Barden, Brad Pitt e Penélope Cruz.

Bom, já que a obra do prestigiado cineasta é tão morna que dá preguiça de escrever sobre a trama, vou falar mais sobre a Cameron Diaz e sua atuação hipnótica, de longe, a melhor qualidade do filme.  Malkina, sua personagem, exala frieza, agressividade e outras impressões negativas desde o primeiro momento em que surge em cena.  Minhas impressões são confirmadas pouco tempo depois, na cena em que contracena com Penélope Cruz, instantes de muita sensualidade e diálogos ambíguos. Um dos bons momentos da fita.

Diaz: sexy e fatal.

Diaz está incrível, ofusca o seu parceiro de cena Javier Barden - bem caracterizado fisicamente mas numa performance sem muito brilho - e seu desempenho como uma mulher complexa e dúbia bem que poderia lhe render ao menos uma indicação ao Globo de Ouro, este seria um bom momento para a atriz desviar um pouco da imagem de comediante e mostrar a todos sua versatilidade.

Com um elenco invejável, obviamente que este não é o defeito do filme. O Conselheiro do Crime peca pela linearidade do roteiro de Cormac McCarthy (autor de A Estrada) e pelo texto rebuscado. Alguns diálogos são maravilhosos, é verdade, mas há outros que soam forçados demais e destoam da realidade ficcional.

Barden e Fassbender em cena.

Sobre a trama, vamos lá, um conselheiro (Fassbender, competente como sempre) decide participar de um negócio ligado a tráfico de drogas a fim de ganhar dinheiro fácil. Sabemos desde o começo que ele vai se dá mal e todos avisam das consequências que está sujeito a sofrer e dos dilemas morais que enfrentará. Daí quando algo sai errado, o roteiro mostra suas fraquezas, e o efeito disso é que o espectador não sente - e não vê - que ocorreu uma "reviravolta" e fica perdido até o último ato. Não sei, talvez estejamos muitos acostumados com os formatos do suspense hollywoodiano com suas reviravoltas mais incisivas, quem sabe a ideia de McCarthy era justamente entregar uma obra que fugisse do "arroz com feijão". Também penso que se a trama fosse não-linear, a exemplo de 21 Gramas, o resultado poderia ser melhor e a jornada infinitamente mais interessante.

No geral, O Conselheiro de Crime tem bons momentos, que funcionam separadamente, mas em um quadro geral, o resultado é frustrante. E desde Hannibal o Sr. Scott ainda continua devendo um bom filme aos fãs.


NOTA: 5,5

21 de outubro de 2013

Os Suspeitos (Prisoners)


Um suspense engenhoso e intrigante e um elenco com atuações poderosas. Os Suspeitos (Prisoners, 2013), novo filme de Denis Villeneuve (Incêndios) impressiona e mantém o espectador atento em duas horas e meia de filme.

Na trama, Keller Dove (Hugh Jackman) tem a filha desaparecida, inconformado e desesperado com o trabalho da polícia que liberou o único suspeito do sequestro, Alex (Paul Dano, em mais um papel de desequilibrado), o pai resolve fazer a sua própria investigação. Jake Gyllenhaal vive o Detetive Loki, encarregado de resolver o caso.

Apesar de ter atrizes renomadas como Viola Davis, Melissa Leo e Maria Belo no elenco, o suspense se sustenta nos tipos masculinos, nos dois protagonistas interpretados formidavelmente por Jackman e Gylllenhaal. Enquanto o pai se torna prisioneiro de seu desespero querendo fazer justiça a qualquer preço - utilizando-se até de meios violentos - do outro lado, há o detetive sendo escravizado pela sua obsessão em solucionar o caso e encontrar a menina desaparecida.

E o melhor filme de Jackman do ano 
não é Wolverine.

Os Suspeitos (não entendo a razão pelo qual este filme não recebeu a tradução original, que seria Prisioneiros, e ganhou um título que já pertence a outro, o suspense de Bryan Singer protagonizado por Kevin Spacey) é uma produção que precisa ser valorizada não apenas pelas atuações marcantes, mas também pelo trabalho profundo e psicológico em cima dos personagens principais, a ambientação opressora, e o mais importante, o roteiro inteligente, repleto de reviravoltas e que consegue se livrar de soluções fáceis e clichês do gênero.

Jackman, Gyllenhaal e Villeneuve.

Denis Villeneuve obviamente também merece o crédito pela condução da obra e por atribuir à produção um ritmo eficiente e que não cansa o espectador em nenhum momento durante as duas horas e meia de projeção. O cineasta - é novato em Hollywood e você ainda vai ouvir falar muito dele - já tem um novo e intrigante filme finalizado, Enemy, baseado em uma obra de José Saramago e protagonizado, novamente, por Jake Gyllenhaal, ultimamente escolhendo muito bem seus papéis. That´s my boy.



NOTA: 9,0

13 de outubro de 2013

Gravidade



Uma obra de arte. O filme do ano. Da década. Faltam adjetivos e títulos para caracterizar o novo trabalho do cineasta mexicano Alfonso Cuarón. Gravidade (Gravity, 2013) é um ensaio poético e de visual arrebatador sobre o renascimento.

A trama deste drama espacial se concentra na Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e no comandante da missão Matt Kowalsky (George Clooney). Após serem atingidos por uma chuva de lixo espacial, os dois ficam a esmo vagando na imensidão escura do espaço. A situação em si já é desesperadora, mas Cuarón faz tudo ficar dez vezes pior a ponto de nos deixar à beira de um ataque cardíaco.

Oscar para ela!

O diretor usa a chuva de destroços espaciais como uma metáfora para algumas adversidades pelo qual a personagem de Sandra passou na vida. E mesmo que elas sejam dolorosas, sempre há a chance do renascimento, de voltar a viver plenamente. As cenas de “renascimento” são belíssimas e antológicas. Como o momento - cheio de significados - em que vemos pela primeira vez a Dra. Stone sem o traje de astronauta ou a cena comovente da lágrima flutuando. Na verdade, Gravidade é inteiro e tecnicamente lindo. Os longos planos sequência e as coreografias espaciais são outros deleites da ficção científica.

Quanto aos únicos dois personagens do drama, faltam elogios à atuação marcante de Sandra Bullock. Mostrando mais uma vez que seu talento não se restringe a papéis em comédias românticas. A campanha Oscar de Melhor Atriz para Sandra já começou. Já Clooney, está charmoso como sempre, ele é o alívio cômico responsável por deixar a sua colega de trabalho, e o público, um pouco menos aflitos nesta situação aterradora.

Gravidade é mais uma grande obra a figurar na filmografia de Cuarón ao lado de E Sua Mãe Também, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e Filhos da Esperança. Uma perfeição cinematográfica inigualável e uma experiência emocionalmente impactante.

                                                                                                   

 NOTA: 10,0                                      
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