Páginas

26 de março de 2012

Paraíso Perdido: a justiça falha e tarda


Documentário mostra a conturbada jornada de três jovens condenados a prisão perpétua por um crime que não cometeram, culpa de uma sociedade que exigia justiça às pressas




Paraíso Perdido 3: Purgatório (Paradise Lost 3: Purgatory, 2011), indicado ao Oscar de Melhor Documentário este ano,  é a terceira parte que trata sobre o caso do assassinato de três crianças que chocou os Estados Unidos nos início dos anos 90. Porém, aviso que não é necessária assistir aos primeiros documentários para entender a história, as sequências apenas acrescentam novas informações  acerca do caso, e considerando isto, Paradise Lost 3, é o que oferece uma visão mais abrangente.

O documentário começa com cenas fortes advindas de gravações da polícia. Stevie, Christopher e Michael, meninos de 9 anos de idade, são encontrados mortos num rio, nus, com mãos e pés amarrados. Alguns deles tiveram seus órgãos reprodutores arrancados. Se uma criança é vítima de um crime brutal já é o suficiente para chocar a comunidade, imaginem o que acontece se o número de vítimas infantis sobe para três.

Os três de West Memphis!

Bom, o que aconteceu na pequena cidade de West Memphis colocou em prova a credibilidade do sistema jurídico e da polícia local, ainda revelou os medos e preconceitos de uma sociedade que, apavorada e indignada pelo evento, clamava desesperadamente por justiça e pressionava as autoridades para encontrar os culpados.

Com a mídia em peso na cidade para reforçar a pressão em cima das autoridades, a polícia chegou a três suspeitos: Damien, Jason e Jessie. Bem, ninguém tinha nada concreto contra os três jovens, mas eles foram interrogados por motivos rasos assim mesmo, baseados no histórico e no comportamento “incomum” que tinham.

Damien, vida interrompida por 18 anos!

Damien era o típico cara que se vestia de preto e adorava heavy metal. Era o suficiente para afirmarem que ele fazia rituais satânicos no quintal de casa. Jason,  era seu amigo, os dois viviam sempre juntos, o bastante para a polícia prendê-lo também. O terceiro, Jessie, o mais conturbado, devido a uma “deficiência mental”, foi interrogado por 12 horas pela polícia, um ato desonesto e injusto, já que ele era menor de idade e estava sem a presença de um advogado.  

A essa altura, a polícia estava completamente satisfeita com os jovens suspeitos e não estava procurando mais ninguém, com isso, a cidade toda estava nervosa querendo a condenação dos três o mais rápido possível, sem deixar vazão para refletirem se eles realmente eram os culpados, apenas queriam culpar alguém.

Todos foram vítimas!

Em resumo, mesmo com provas tão duvidosas e artificiais,  os três  foram condenados. Damien foi condenado à morte por injeção letal, Jason seu amigo, pegou prisão perpétua, assim como Jessie, que após ficar 12 horas num interrogatório, deu um depoimento afirmando que seus companheiros tinham realmente matado os garotos, o que depois provou ser uma mentira e mais uma artimanha das autoridades para encerrar logo o caso.

Após o julgamento, a história dos três condenados de West Memphis  ganhou notoriedade pública. Eddie Veder,  Johnny Depp e  várias  bandas de  rock comentaram sobre o assunto e tiveram papel fundamental na jornada dos jovens e na sua libertação. O primeiro documentário da HBO sobre o acontecimento apenas trouxe mais “luz” sobre  o caso e incentivou a realização de um novo julgamento, pois novas  provas  iam surgindo frequentemente e  cada vez  mais a responsabilidade dos três jovens pelos crimes era colocada em dúvida.

Em 2010, os três tiveram um novo julgamento. Provas de DNA revelaram que nenhum deles tiveram relação com o assassinato. Em setembro de 2011, após 18 anos presos, Jason, Damien e Jessie foram libertados.

Jason, no meio, após a libertação, com os diretores do doc.

Paraíso Perdido 3: Purgatório é emocionante, conta algo inacreditável, mas felizmente real. O doc vai além da saga dos três jovens acusados de um homicídio triplo, fala de preconceito e desmascara  aquela convenção de que a justiça (principalmente a americana) é perfeita e que a polícia é competente. Mas a culpa  não se restringe somente às autoridades. O povo que, apesar de terem suas razões para culpar os jovens, se torna uma ameaça “nuclear” quando consumido pela fúria. A sociedade fica cega e irracional, e piora quando um “suposto” ritual satânico, como neste caso, é envolvido no processo.

Daí tudo ocorre como um efeito dominó. O poder público se revolta e comove, a mídia potencializa estes sentimentos e as autoridades se sentem pressionadas a agirem com rapidez - e consequentemente com maior tendência a cometer erros e ilegalidades no caminho. Bom, foi isso o que aconteceu.  A justiça falhou, e quase acabou com a vida dos três jovens, que somente agora, (re)começam a viver plenamente suas vidas. VEJA um vídeo.

Para ajudar os “três de West Memphis” com as despesas judiciais, foi criado o site WM3 (clique aqui e conheça),  feito por  pessoas simpatizantes  com a causa e revoltadas  com a condenação injusta. 

21 de março de 2012

Shame e o cinema sem vergonha


Com a estreia de Shame, filme que trata sobre compulsão sexual, me senti inspirado a escrever algo sobre o tema, sexo. Então selecionei algumas películas "picantes", outras nem tanto, que abordam a sexualidade  seja de uma forma direta ou indireta, mas que têm aquelas cenas bem sensuais e bastante sem vergonha que a gente gosta de ver. Atenção: Os próximos filmes contêm cenas inadequadas para menores de 18 anos, como por exemplo, sexo explícito, nu frontal, atores "pornôs", violência sexual, intrigas, libertinagens em grupo e o beijo lésbico mais invejável do cinema.



Shame (2011) – Michael Fassbender (X Men: Primeira Classe) em certa cena protagoniza um dos momentos mais perturbadores do filme, em um ménage à trois, seu personagem faz sexo com intensidade e raiva, sua feição demonstra um misto de prazer e de dor, pois é neste momento que ele percebe que realmente tem um problema, um vício que é mais forte que ele. Brandon (Fassbender) é viciado em sexo, do tipo que contrata prostitutas diariamente, se masturba em todos os lugares possíveis e tem o PC sujo, repleto de obscenidades. Sua solidão e privacidade acabam quando ele recebe a visita inesperada de sua irmã Sissi (Carey Mulligan, de Drive). As causas dessa compulsão sexual de Brandon é implícita (eu tenho alguns palpites bem controversos), porém  os efeitos deste comportamento foram priorizados pelo diretor Steve McQueen (Hunger, também com Fassbender, tem crítica AQUI) que os estampam na tela. Provocante, forte, reflexivo, Shame ainda apresenta atuações intensas de Fassbender e Mulligan, ambos bem à vontade nas cenas de nu frontal.



Segundas Intenções (1999) – Kathryn (Sarah Michelle Gellar) é mimada, sexy, dissimulada e perigosa.  Num dado momento ela se deita em cima de Sebastian (Ryan Phillippe) e se esfrega  nele, em meio a gemidos e conversas sussurradas ela faz movimentos sensuais e bem sugestivos, levando-o à loucura. Em outra cena inesquecível, Kathryn ensina a inocente Cecile (Selma Blair) a beijar, algum tempo depois elas protagonizam uma das cenas de beijo lésbico mais bacanas e sensuais do cinema. Este thriller cheio de intrigas ainda conta com Reese Whiterspoon, como objeto de desejo de Sebastian e de repulsa de Kathryn, the bitch. Segundas Intenções tem a trilha sonora cheia de hits dos anos 90 como a música Bitter Sweet Symphony, do The Verve. Vem ver o beijo AQUI!



Boogie Nights: Prazer sem Limites (1997) – Mark Walhberg interpreta Eddie, um lavador de pratos sem perspectiva de vida. Seu encontro com um magnata da indústria pornográfica transforma radicalmente sua vida. Eddie muda de nome, passa a se chamar Dirk Diggler e se converte num dos maiores atores pornôs da década de 70. Ele é dono de um enorme talento, se é que me entendem. Ah, e sim, não se preocupem, o seu “instrumento de trabalho” é mostrado, não se assustem. Num mundo regado a muito sexo, drogas e disco music, acompanhamos a trajetória de Eddie, os seus tempos de glória até a sua decadência. Wahlberg prova que é um bom ator quando se tem um diretor exigente e não é ofuscado em nenhum momento pelo elenco estelar que inclui Julianne Moore, Burt Reynolds, Don Cheadle, Philip Seymour Hoffman e muitos outros. Assista ao trailer.



De Olhos bem fechados (1999) - Num certo momento deste drama bizarro de Stanley Kubrick, o personagem de Tom Cruise chega numa mansão luxuosa, ele está usando máscaras, assim como todos os outros convidados dentro do casarão. O que parece ser um culto satânico, logo se transforma numa orgia sexual generalizada protagonizadas por homens da alta sociedade, desnudos e apenas com máscaras tapando seus rostos para preservarem suas identidades, realizam sexo em duplas, em grupos e estão despidos de qualquer racionalidade.  Toda essa cerimônia sexual começa a atormentar o Dr. Bill (Cruise) deixando-o reflexivo, confuso, mais atento ao mundo de intrigas, sexo e repleto de mistérios que ele antes não conseguia enxergar. De Olhos bem Fechados não é um filme fácil, seu ritmo é lento e seus personagens complexos, em sua essência trata-se de uma obra sobre desejo, traição, relacionamentos e mostra como a natureza humana pode ser sombria. Tem trailer AQUI!



Anticristo (2009) – No prólogo deste polêmico filme de Lars Von Trier somos agraciados com uma cena belíssima de sexo explícito em câmera lenta e em preto e branco entre os personagens de Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg. No entanto, as cenas de sexo na meia hora final do longa  já não nos excita, nos repugna, choca e nos faz querer desviar os olhos da tela. Este thriller psicológico conta a vivência do casal numa cabana perdida no meio do mato, levada lá pelo marido com o propósito de curar a depressão da personagem de Charlotte, devastada após a morte do filho. O estado emocional e psicológico da mulher agrava lentamente e ela começar a forçar o marido a fazer sexo para compensar a dor que está sentindo. Anticristo é um filme corajoso, violento, com uma carga emocional fortíssima, cenas brutais de sexo que permearão sua mente por semanas. A fotografia, o clima melancólico e quase sufocante, culpa também do ambiente onde se passa a trama, além das atuações dos protagonistas são os pontos fortes do filme. VEJA o trailer.

15 de março de 2012

A Fabulosa Amélie Poulain


 “Sem você a emoção seria pele morta 
de uma emoção do passado”.






 

É por causa dessa atmosfera poética presente em cada frame de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain que o filme nos encanta. É impossível manter-se imune à protagonista de olhos arregalados, à deliciosa trilha sonora e aos efeitos visuais delirantes que também arregalam nossos olhos.



O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux destin d`Amélie Poulain, 2001) é uma obra sobre os pequenos prazeres da vida, sobre aqueles  pequenos gestos ou manias, que gostamos ou não, mas que revelam bem mais que nossas preferências, mas o nosso modo de pensar, agir, sentir, revela o caráter. No início do filme, o narrador de uma forma bem-humorada ilustra bem isso, apresentando o “jeito de ser” dos pais de Amélie, veja:

Raphaél Poulain não gosta:
De urinar ao lado de alguém.
Sair da água e sentir seu calção de banho grudar.
Raphaél Poulain gosta:
Enfileirar seus sapatos e engraxá-los com esmero.
Esvaziar a caixa de ferramentas, desarrumá-la e arrumar tudo novamente.

Amandine Poulain não gosta:
Que seus dedos enruguem quando está no banho.
Que os lençóis marquem sua bochecha de manhã.
Amandine Poulain gosta:
Das roupas dos patinadores.
De esvaziar a bolsa, limpá-la bem e arrumar tudo de novo.

Amélie quando criança no seu mundinho fantástico!

E Amélie? Bom, a menina de olhos expressivos gosta de ir ao cinema e olhar o rosto dos outros para ver suas expressões, adora alguns pequenos prazeres da vida como enfiar a mão no saco de cereais e sentir a maciez dos grãos. É por essa e outras milhares de razões que nos apaixonamos pela personagem principal, ela é autêntica, meiga, e tão doce quanto uma caixa de chocolates da Garoto.

Amélie (atuação inspirada de Audrey Tautou) foi criada em casa, e por isso foi privada do contato com outras crianças, com a morte prematura da mãe e o pouco afeto que recebia do pai, a menina tornou-se uma sonhadora, uma pessoa bondosa, cheia de manias esquisitas (no bom sentido) e sem qualquer ambição de vida.

Amélie e seu interesse romântico!

12 de março de 2012

Doctor Who



Finalmente encontrei um bom "gancho" para falar de Doctor Who, uma das séries mais fantásticas e divertidas de todos os tempos, sem exageros. A produção inglesa da BBC finalmente será exibida por um canal aberto brasileiro, a TV Cultura, a partir do dia 19 de março. Vocês sabem por quanto tempo esperei isso gente? rsrs. Devido a esse "fantastic" acontecimento, vou fazer um breve resumo sobre a origem da série, e revelar alguns bons motivos para você que ainda nao assiste ao programa, não perdê-lo de jeito nenhum.  


Doctor Who “nasceu” lá nos anos 60, ao longo dos anos teve várias versões e muitos atores interpretaram o misterioso protagonista, um viajante do tempo que atende apenas pelo nome de Doctor.  A série saiu do ar nos anos 90, e voltou reformulada em 2005, com Christopher Eccleston (foto) no papel principal. Resultado: sucesso absoluto.  É a partir desta temporada (a  primeira da retomada da série) que a TV Cultura vai exibir.  Esta versão contemporânea caminha agora para a sua sétima temporada, prevista para estrear este ano.


Por que Doctor Who é tão legal?

– Para quem gosta de aventuras, história, mistérios e criaturas medonhas, DW é um prato cheio e infalível.  Viajar pelo tempo e espaço com o Doctor pela Tardis, a sua cabine estilo anos 60 que funciona como uma “máquina do tempo”,  é sempre empolgante. Nunca sabemos o que nos aguarda. Adentrar-se em mundos estranhos,  conhecer alienígenas bizarros, visitar épocas diferentes e históricas da nossa sociedade e encontrar figuras conhecidas envolvidas em tramas misteriosas, como o autor Charles Dickens, que o Doctor encontra quando ele volta para o ano de 1869,  é  um motivo  a  mais para não perder a série.  Ah, até Shakespeare já participou do programa.

Rose e Doctor! Feitos um para o outro.

- A dupla principal. Doctor e sua companheira Rose Tyler possuem uma química irretocável. A relação dos dois provoca os momentos mais cômicos e emocionantes do seriado. Tyler (Billie Piper)  está presente nas primeiras 2 temporadas, a “humana” se envolve nas mais perigosas aventuras com o Doctor, ainda é carismática, esperta e dona de um belo sorriso. Impossível não se render ao charme da moça.

Olha a Tardis lá atrás...adoraria me deparar 
com essa cabine!

- O humor britânico. A série pode parecer estranha àqueles que não estão acostumados com o “jeito inglês” de se fazer séries e achar esquisito o humor sarcástico dos personagens. Mas, como a TV Cultura vai exibir Doctor Who na versão dublada, isto não representa empecilho algum, pois maiores serão as chances de você curtir a série, caso não curta legendas. Porém, com a dublagem, muitos não terão a chance de saborear o áudio original, e consequentemente, não poderão se deliciar com o sarcasmo genuíno do protagonista e os diálogos divertidos, afiados e inteligentes dos personagens incrementados pelo sotaque inglês. Isto é certamente um dos grandes diferenciais do show.

David Tennant: meu doctor preferido!

- O querido e simpático David Tennant. OK, Christopher Eccleston foi meu primeiro “doctor” e adoro a sua “personificação” do personagem. Mas é do David Tennant, o meu “doctor” preferido.  Com a saída de Eccleston no fim da primeira temporada, é David quem assume o seu posto na segunda temporada, e mesmo que você estranhe a mudança de ator no início, você vai cair nas graças desse “novo” Doctor rapidinho. Tennant é super descolado e como não poderia deixar de ser, é super engraçado e carismático. Graças ao seu estilo próprio dado ao personagem,  seu “DW” durou três temporadas.

The Cyberman: um dos vilões mais terríveis da série.

Então, querem mais motivos? Sim, eu tenho mais, mas deixo para vocês descobrirem a  partir do dia 19 de março, quando Doctor Who começará a ser exibido na TV Cultura, de segunda a sexta, às 20h20 da noite no canal e via streaming pelo site da emissora também hein! Suas noites nunca mais serão as mesmas.

Espero muito que o público brasileiro adote esta série tão antiga e tão divertida e  que entretém os ingleses há tanto tempo. Além do mais, o possível sucesso do seriado aqui com certeza irá impulsionar a venda de produtos "doctorianos" como DVDs e Blu-Rays, pois infelizmente ainda não há nada lançado aqui no Brasil, e para nós que somos fãs da série há bastante tempo, isso é um crime intergaláctico, não é gente?! Vida longa ao Doctor.



Ok David, nós sabemos que você é o Doctor (não disse que ele era super descolado!), mas tem uma camiseta dessa pra emprestar?

Quer saber mais sobre a série? Visite DoctorWhoBrasil.

6 de março de 2012

Não pergunte, Não fale!




Quero lutar pelo país, protegê-lo, mesmo que ele não faça o mesmo por mim”. Oficial dispensado por ser gay.





A Estranha História de Não Pergunte, Não Fale (The Strange History of 
Don´t Ask, Don´t Tell, 2011) é um documentário produzido pela HBO que narra a complicada e absurda evolução da lei que proibia homossexuais de se alistarem no Exército ou na Marinha, obrigando-os a mentirem sobre sua orientação sexual.

A produção traz depoimentos emocionantes de oficiais dispensados e revelam situações constrangedoras e desumanas. O doc inclui também a discursão no senado americano sobre a DADT (Don´t  Ask, Don´t Tell) e mostra também o esforço enorme de pessoas que lutaram por muitos anos para a  lei ser revogada, o que aconteceu apenas em  2010.




A proibição de homossexuais começou na Segunda Guerra Mundial, mas ganhou espaço na mídia apenas nos anos 90. Em 1993, depois de muita polêmica, o presidente americano da época, Bill Clinton, aceitou o alistamento de gays e lésbicas nas forças armadas, e declarou  que eles seriam julgados pela conduta moral, não pela orientação. Mas nesta lei havia uma condição,  os soldados homossexuais não poderiam falar sobre sua orientação. Bom, a  lei era um mito.

As declarações dos soldados neste documentário mostram que a lei DADT apenas piorou a vida deles, pois tornaram-se alvos de perguntas pessoais constantemente, conviviam com a desconfiança dos colegas caso não possuíssem um anel de noivado, não fossem casados, ou qualquer outra questão semelhante. A perseguição continuou, os  soldados  começaram a viver como se estivessem realmente em um campo minado, pensamentos suicidas surgiam, e não poderiam confiar mais nos colegas,  pois qualquer um poderiam demonstrar atitudes anti-gays e deletá-los.

“A lei força a mentira, a não-integridade”, diz um oficial.

Nome: Patrick Murphy: Objetivo: Abolir a lei do DADT.

Um dos momentos mais chocantes e tristes do doc é o depoimento no senado de uma lésbica que foi dispensada por admitir sua homossexualidade.  A cena é revoltante. A mulher, que serviu duas décadas no exército, é humilhada por engravatados intolerantes que a tratavam como criminosa. “Lembro-me de ficar calada num instante, porque aquilo foi doloroso”, diz ela.

A Estranha História de NPNF, ainda acompanha a trajetória de Patrick Murphy, um ex-militar e agora político, e que ao lado de Barack Obama,  faz  o "impossível" para  revogar a lei.  Outro personagem-real  apresentado aqui é o oficial da alta patente Victor Fehrenbach.  Seus mais de 10 anos de serviço militar e sua participação nas guerras no  Iraque e no Afeganistão, arriscando a  sua vida para proteger o país, não valeu de nada quando começou a ser investigado e descobriram sobre sua orientação sexual. Ele foi expulso de imediato, e seu histórico militar totalmente ignorado.

Oficial Victor: Anos de serviço militar, mas não escapou da intolerância...

Em apenas pouco mais de uma hora de documentário, adentramos em um mundo doente,   estranho,  que nos dá até um certo desgosto  de morarmos nele e sentir desprezo pela raça humana. Constantemente ficamos espantados com as revelações e pensamos “O que? Não, eles não fizeram isso! Sério? Isso é injustiça”.  Injustiça como a do soldado que luta pelo país, indo à guerra,  sofre, sangra, fica longe de sua família,  e quando volta para casa, é dispensado por ser gay. Pois é, isso também aconteceu. Outras informações bombásticas e  polêmicas são apresentadas em A Estranha História do NPNF, mas é melhor que você veja por si mesmo, e  reflita.

Quase duas décadas depois, a lei DTDA foi abolida em dezembro de 2010, às  vésperas do Natal. O presidente Barack Obama assinou o documento e disse: "Seu país precisa de você, seu país quer você, e teremos a honra de recebê-lo nas posições dos melhores militares que o mundo já conheceu".

Obama assina a revogação da lei em dezembro de 2010.

Bom, é um assunto espinhoso e delicado que suscita questões diversas e infinitas. Com a revogação da lei nos EUA, será que as coisas melhoraram para os oficiais gays? E aqui no Brasil? O Exército brasileiro aceita homossexuais?  Se o assunto ainda não “pipocou” de  forma intensa na mídia nacional, talvez as Forças Armadas do Brasil seja mais flexível à essa questão, ou escondem bem este assunto da imprensa, ou talvez os soldados tenham adotado a lei do Não Pergunte, Não Fale. Mas algo me diz  que esse tema ainda vai ser discutido no país, e muito.

Quem tiver assinatura do canal HBO, não perca esse incrível documentário, que não apenas fala sobre os gays e a luta contra a repressão nas Forças Armadas, mas é um estudo impressionante sobre o ser humano, política,   intolerância, persistência, injustiça, preconceito, e  acima de tudo, aceitação.

4 de março de 2012

Poder sem limites




Grandes poderes exigem grandes responsabilidades, e limites também.  Os adolescentes Matt, Andrew e Steve não sabem disso – eles nunca viram Homem-Aranha - mas aprendem essa lição da pior forma possível. No ótimo Poder sem Limites (Chronicle, 2012), os três garotos ganham poderes extraordinários ao encontrar um objeto luminoso e estranho enterrado numa floresta.

Poder sem Limites é mais um filme que tem como característica aquele estilo documental, com os próprios atores usando a câmera, que vem sendo incansavelmente explorado em produções de terror de baixo orçamento como Atividade Paranormal, Apollo 18 e outras bem ruinzinhas. Mas surpreendentemente essa ficção pseudo-documental  traz um novo fôlego a um gênero que supostamente estava fadado à mesmice e à falta de originalidade.


Após o contato com o tal objeto misterioso, os jovens ganham poderes telecinésicos e começam a brincar uns com os outros. A primeira parte da película mostra Matt (o metido a sábio), Andrew (o nerd tímido) e Steve (o esportista e garanhão) treinando suas novas habilidades, como mover e destruir objetos e parar uma bola no ar.  As cenas em que eles usam seus poderes para fazerem “pegadinhas” com as pessoas são hilárias.

A segunda parte se revela um filme de super-herói de qualidade impressionante, cenas de ação intensas e muito bem filmadas e “planejadas”, considerando a estética adotada, como por exemplo, no momento em que a ação é mostrada através  das câmeras de rua, dos celulares e de imagens televisivas. Um sequência incrível.



Josh Trank, o diretor que é novato no ramo cinematográfico, certamente depois desse competente trabalho, no qual conseguiu efeitos especiais espetaculares com um orçamento tão apertado (estimados 10 milhões), receberá  milhares de convites para comandar filmes de grande orçamento, ou no mínimo, vai ensinar aos executivos de Hollywood como criar efeitos especiais decentes e convincentes com pouco dinheiro. Apenas não entendo como ainda existem megaproduções de 200 milhões de dólares com efeitos tão medíocres. Aprendam com Josh gente!

Não pensem que Poder sem Limites é apenas sobre adolescentes irresponsáveis com superpoderes. Existe sim uma carga dramática envolvida. Acompanhamos também o amadurecimento e a dolorosa transformação dos personagens. Impossível não se identificar ou não gostar dos protagonistas, e mesmo quando um deles ruma para caminhos tortuosos, torcemos pelo seu happy end, afinal, nem todo herói é super.


Assista ao filme sem expectativas, e sairá da sala satisfeito. Descontraído, engraçado, despretensioso, o filme mais divertido do ano.

Quatro filmes no estilo "gravação amadora", que você precisa ver antes de morrer:


A Bruxa de Blair (1999) – O precursor do gênero. Você nunca mais vai acampar depois desse filme. E o final aterrorizante, você nunca mais esquecer.






Cloverfield: Monstro (2008) - A primeira ficção do gênero e produzida por J.J. Abrams (Lost). Godzilla “comeu poeira” depois desse thriller realista e caótico sobre um monstro que destrói a cidade de Nova York.





REC (2007) – A versão  espanhol original.  A perfeita combinação de câmera tremida,  zumbis surgindo na escuridão claustrofóbica, resulta num dos filmes de horror mais assustadores da década.






Atividade Paranormal (2009) – Apesar da premissa batida, câmeras escondidas  numa casa para gravar acontecimentos estranhos e sobrenaturais, o suspense cumpre o que promete, assusta, e muito. Você nunca mais vai olhar para uma porta aberta do mesmo jeito. Ah, não veja o filme sozinho.

1 de março de 2012

DRIVE



Sabemos que o ator é realmente bom na arte da interpretação quando seu personagem consegue expressar seus sentimentos e comunicar algo, sem precisar utilizar nenhuma ou pouquíssimas palavras. Se é assim, Ryan Gosling é um ator diferenciado, e une-se a Brad Pitt e ao ganhador do Oscar 2012, Jean Dujardin. Em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Pitt diz muito apenas com o seu olhar melancólico. Já o francês, sua expressividade em O Artista lhe valeu uma estatueta. Talvez pelo filme ser mudo e exigir bem mais de suas expressões faciais, ele não deveria estar aqui, seria injusto com seus colegas não? Mas o tema aqui não é este, e  sim o elogiado Drive.

Como dito, Ryan Gosling é um ator ímpar, mesmo com poucos diálogos, ele atribui uma dimensão tremenda ao seu personagem -  sem nome -  em Drive, produção  aguardadíssima que estreia – definitivamente -  esta semana no Brasil. Drive é dirigido pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn, o mesmo diretor do surreal Bronson, aquele filme com o Tom Hardy que comentei aqui num post mês passado. Nicolas ganhou o prêmio de Melhor Diretor em Cannes por este thriller.




Gosling é o “driver” (motorista em português).  Seu personagem é um dublê de filmes de ação, trabalha como mecânico e ainda atua como motorista de fuga de roubos quando é solicitado. E ele tem as suas próprias regras: “Não me envolvo no serviço, me fala a hora e o lugar e eu estarei lá. E me responsabilizo apenas em levá-lo a um lugar seguro. Eu dou apenas 5 minutos para o serviço”.



Porém, o controle que ele detinha sobre sua vida solitária e seus serviços é perdido no momento em que decide ajudar o marido de sua vizinha, interpretada por uma angelical Carey Mulligan (Educação). A partir desse momento, tudo é muito imprevisível, violento e intenso. O diretor fez jus ao prêmio recebido em Cannes, pois nas mãos de outro, o filme seguiria num ritmo frenético com cenas de ação pitorescas, aqueles momentos clichês típicos dos blockbusters hollywoodianos. Não é o que acontece. Drive está mais para uma obra de Tarantino, claro, com bem menos diálogos, mas igualmente visceral.




O “motorista” é um personagem complexo, um cavaleiro solitário, um anti-herói,  sempre com um palitinho no canto da boca e a sua inseparável jaqueta prateada, que é maravilhosa. Tais  características já o torna um dos personagens mais icônicos do cinema. Aliás, pela vestimenta, percebe-se o quão “enrascado” está o protagonista, pois a  jaqueta  vai ficando mais suja cada vez  que os problemas se intensificam.

Além de Gosling e Mulligan, o elenco secundário é bem respeitoso e com rostinhos bem conhecidos da telinha, como o Bryan Cranston (o protagonista de Breaking Bad), Christina Hendricks (a ruiva voluptuosa de Mad Men) e Ron Perlman (o Hellboy).


Coadjuvantes de luxo: Mulligan, Cranston e Hendricks.

Drive é  cult, original, contundente,  uma obra obrigatória para quem quer fugir do  “cinema lugar-comum” que infesta os multiplexs. Gosling, mais uma vez, está soberbo, ele assusta e cativa ao mesmo tempo.  Suas cenas quando está atrás do volante são tão tensas e admiráveis quanto aquelas em que não diz uma palavra sequer. Os enquadramentos em primeiro plano e os closes quase estáticos em seu rosto e no de Mulligan expressam mais que mil palavras. 

Ah, e a trilha sonora? Fantástica e de grande importância na trama. A  trilha de Cliff Martinez é composta por hits eletrônicos da melhor qualidade e com  melodias  grudentas e suaves, como a faixa Under Your Spell, do Desire, que você escuta aí no vídeo.


Outra coisa. Se você ficou fascinado pela jaqueta prateada. Uma boa notícia.  Ela pode ser adquirida no site da Steady Clothing, clique aqui e seja um driver de verdade.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...