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28 de novembro de 2015

A Visita - O melhor filme de Shyamalan em 10 anos




A Visita (The Visit, 2015), novo filme de M. Night Shyamalan, marca as pazes do cineasta com o sucesso e o retorno ao gênero que o consagrou e que, convenhamos, é sua especialidade.  A Visita não chega nem perto da perfeição de suas produções mais famosas como O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais, mas é uma notável exceção se considerarmos os fiascos que ele realizou nos últimos anos – os terríveis A Dama na Água, Fim dos Tempos, O Último Mestre do Ar e Depois da Terra.


No novo trabalho, Shyamalan adere ao estilo “found footage”, aquele estilo de obra filmada pelos próprios personagens, como Atividade Paranormal, e nos conta a história de dois irmãos que vão passar uma semana com os avós, que eles ainda não conhecem. Aos poucos, os queridos e amáveis velhinhos mostram-se problemáticos e assustadores. Agora, olha que curioso, Shyamalan pode ter “criado” um novo subgênero do cinema, o "suspense geriátrico" (rs), e que particularmente, acho muito promissor. Vale considerar que o cinema já nos deu uma personagem idosa aterrorizante, lembram-se da velhinha em Arrasta-me para o Inferno?



Devido ao uso do “found footage”, Shyamalan renuncia as sequências bem elaboradas de suspense que apreciamos em suas obras conhecidas e põe o espectador para focar o olhar no canto da tela - é daí que vem o susto, é daí que vem o medo. Outro fator aterrorizante do filme é a atuação de Deanna Dunagan, a vovó, cuja personagem é daquela que sentimos medo e incômodo mesmo que ela esteja fazendo algo inocente, como assar uns biscoitos. Fiquei com o "coração na mão" quando ela pediu à neta para entrar no forno e limpá-lo...


A Visita também é um dos filmes mais divertidos do diretor, quer dizer, é o primeiro filme em que o terror e o humor “trabalham” em equilíbrio, isso graças à química entre os protagonistas, Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould). A jovem, é uma garota inteligente e aspirante à diretora de cinema, enquanto Tyler, é hilário, um aprendiz de “rapper” e responsável pelo alívio cômico no filme.



Com uma história simples, sem reviravoltas mirabolantes - marca registrada do cineasta - e um suspense crescente, A Visita, além de mostrar que o lugar de Shyamalan é mesmo à frente de filmes de baixo orçamento, sem grandes estúdios tomando as rédeas ou interferindo na sua criatividade, também pode ser vista como uma obra (pessimista) sobre o envelhecimento ou sobre o “fazer” cinema, melhor que isso, é o filme mais relevante do Shyamalan em 10 anos, desde A Vila,  lá de 2004, o que já é grande coisa...Confira o trailer AQUI


NOTA: 8,0

16 de novembro de 2015

Garota Sombria Caminha Pela Noite




Em 2009, o filme sueco Deixa Ela Entrar surpreendeu os cinéfilos por lançar um novo e ousado olhar sobre o tema “vampirismo” , este ano, uma obra peculiar chama a atenção por também apresentar uma outra reinvenção do vampiro, personagem icônico do cinema de horror. Garota Sombria Caminha Pela Noite (A Girl Walks Home Alone At Night, 2014), é uma produção iraniana realizada em parceria com os Estados Unidos, mesclando características do cinema noir com o terror, é uma das obras mais estranhas e belíssimas do ano.

Dirigido por Ana Lily Amirpour, Garota Sombria Caminha Pela Noite é considerado o primeiro filme iraniano de vampiro, é todo filmado em um estonteante preto em branco e traz um balé de sombras e contrastes que nos deixam maravilhados, tem toda aquela cara de filme estrangeiro e “artístico”, é dessas obras que já nascem “cults”, destinadas a quem gosta de apreciar um cinema diferenciado.


Na trama, uma garota sombria (interpretada por Sheila Vand) caminha com um xador – aquele traje que cobre quase todo o rosto das mulheres muçulmanas – preto pelas ruas da cidade opaca de Bad City à procura de vítimas para sugar o seu sangue. O filme é todo estranho, mas é uma estranheza fascinante e curiosa, a cidade, por exemplo, é quase um personagem, com suas ruas vazias, uma vala cheia de cadáveres e habitada por pessoas marginalizadas – prostitutas, cafetões, traficantes, parece então ser o cenário ideal para hospedar uma vampira, de bom gosto musical e que segue uma conduta própria. Quando a garota conhece Arash (Arash Marandi), um jovem traficante - em uma sequência de encher os olhos, tamanha a beleza - um novo sentido é dado à sua vida, até então, solitária e limitada a encontros furtivos e violentos com gente problemática. 


Garota Sombria Caminha Pela Noite é mais um filme de valor estético e menos de conteúdo, há possibilidades para muitas leituras, é verdade, mas a sua história é bem simples, o desenrolar da história segue numa linha plana que incomoda e pode inquietar o espectador mais exigente, no entanto, as cenas de suspense e da garota caminhando pela noite são de arrepiar, e a fotografia preto e branco potencializa ainda mais essa sensação desconfortável.

A produção iraniana pode ser dedicada a um público muito específico, alguns desavisados podem não gostar do filme, mas Garota Sombria Caminha Pela Noite tem a seu favor o fato de ser uma obra original, o visual impecável, a reinvenção de uma das criaturas mais famosas do cinema de horror e o principal, uma estranheza que fascina e aquele senso de “novidade” que não vemos no cinema mainstream.  Assista AQUI o trailer.

NOTA: 8,0

8 de novembro de 2015

Que Horas Ela Volta?




É sabido que o estado de São Paulo foi durante décadas o destino preferido de cidadãos nordestinos, o fluxo era tanto que São Paulo ganhou o título de maior capital nordestina do Brasil. Embora nos últimos anos esteja ocorrendo o movimento inverso - muitos estão voltando às suas origens - a presença de pernambucanos, cearenses e baianos na região ainda é significativa. O elogiado filme Que Horas Ela Volta? (2015) faz um recorte dessa realidade por meio da história da doméstica Val (Regina Casé), que assim como muita gente desse Brasilzão, deixou o lugar de raízes e foi para São Paulo em busca de melhores condições de vida.

Na história de Que Horas Ela Volta?, a pernambucana Val trabalha na casa de uma família de classe média, não vê a filha há 10 anos,  mas tem na figura do Fabinho (Michel Joelsas), filho de seus patrões, a chance de ter uma relação maternal.


A chegada da filha Jéssica (Camila Márdila), que vai a São Paulo para prestar vestibular, provoca um furacão de emoções envolvendo a sua mãe e também os patrões, o depressivo solitário Carlos (Lourenço Mutarelli) e a megera falsa Bárbara (Karine Telles), figura muito fácil de se encontrar por aí no nosso dia a dia.... 

A diretora Anna Muylaert realizou uma obra simples, emocionante, sensível e muito transformadora do ponto de vista de quem a assiste. Além disso, o filme tem o mérito de não cair nas armadilhas do clichê, por se tratar de uma história envolvendo personagens de classes sociais distintas habitando o mesmo mundo, pois o embate patroa x doméstica não é novidade para ninguém, já foi bastante discutida nas novelas brasileiras, no cinema, o chileno A Criada é um dos exemplares que muito tem em comum com Que Horas Ela Volta?. 


As atuações inspiradas de Regina Casé - que sempre foi talentosa, lembram  do filme Eu Tu Eles? – encarnando uma nordestina sem cair no estereótipo ou “ofender” o povo representado e da intérprete de sua filha, Camila Márdila, são o maior trunfo da película, elas são responsáveis por provocar reações diversas no espectador, o desconforto de Jéssica, por exemplo, por estar vivendo em uma casa de estranhos, é sentido por nós de forma profunda.

Com doses bem equilibradas de drama e humor, Que Horas Ela Volta? apresenta situações vividas por pessoas comuns, suscetíveis a erros, com seus medos e arrependimentos particulares e de pessoas como a Val, uma mulher forte, batalhadora, sonhadora e que descobre que nunca é tarde para desfrutar das coisas simples da vida, momento representado na cena em que ela adentra na piscina e sente-se a pessoa mais realizada do mundo. Um inspirador e belíssimo momento!

NOTA: 9,0
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