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26 de agosto de 2013

Reflexos da Inocência



Shake your hair girl with your ponytail
Takes me right back 
when you were young.
(Balance os cabelos, menina, Com seu rabo de cavalo
Isso me faz lembrar
Quando você era jovem.)
Este é um trecho de If There is Something, linda canção do grupo Roxy Music presente em uma das mais belas e saudosistas cenas do cinema. A tal cena faz parte do drama Reflexos da Inocência (Flashbacks of a Fool, 2008) protagonizado por Daniel Craig. Bem, antes de falar do momento “musical”, vou falar um pouco sobre esta obra simplista e tão comovente.
Já vi Reflexos da Inocência umas 3 vezes, mas  não sei por que nunca escrevi sobre ele aqui no blog. Agora é a hora. O longa é dirigido por um expert em videoclipes, Baillie Walsh, é seu primeiro trabalho cinematográfico. A produção também é a oportunidade de Daniel Craig provar que ele sabe encarnar outros personagens além do James Bond. E ele o faz muito bem. Craig vive um astro em decadência, esquecido pela mídia e afogado na cocaína. Joe Scott é pura arrogância. Quando ele recebe a notícia de que seu amigo de infância faleceu, ele se sente obrigado a enfrentar os fantasmas do passado.

Daniel Craig: sem o charme e o carisma do 007.
A partir de então, entra em cena os flashbacks e conhecemos a juventude de Joe, seus amigos, suas aventuras e a tragédia que mudou toda a sua vida de forma inesperada. É dentro destas recordações que está o ponto alto do filme, a tal cena que falei no início. Harry Eden, o Joe jovem, junto com  a esbelta Felicity Jones, que interpreta o interesse amoroso do rapaz, protagonizam um pequeno videoclipe no qual dublam o hit setentista If There is Something. Com maquiagem nos rostos, eles embalam uma coreografia baseada no estalo dos dedos e com o recurso da câmera lenta, o momento fica ainda mais mágico.

Felicity Jones: canta e encanta no ponto alto do filme.

Reflexos da Inocência emociona fácil, a narrativa lenta não diminui em nenhum momento a qualidade da fita, a fotografia distinta nas duas partes do filme e a trilha sonora com muito de David Bowie são pontos positivos do drama que fala sobre auto-destruição, culpa e aqueles bons tempos que não voltam mais. Quanto à performance do ator principal, Daniel Craig convence e mostra que não é limitado.

Aqui está a poética cena que tanto falei, no entanto, ela ganha mais significado se você puder vê-la dentro do contexto, ou seja, veja o filme inteiro e não se arrependerá.



NOTA: 8,0

21 de agosto de 2013

Bling Ring - A Gangue de Hollywood



Sofia Coppola escancara a banalidade jovem e trágica no badalado Bling Ring – A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, 2013). O filme faz uma ode à burrice e ao deslumbramento de um grupo de jovens atraídos pelo estilo de vida de celebridades e que, para se sentirem mais próximos de seus ídolos, passam a cometer furtos nas mansões de Hollywood.

O novo trabalho da cineasta Sofia Copolla (Maria Antonieta e As Virgens Suicidas são meus filmes favoritos da diretora) é um drama cômico, cheio de ironia e ao mesmo tempo uma crítica à sociedade do entretenimento e seus seguidores ávidos por holofotes. Enfim, um retrato da futilidade de muitos jovens da geração atual.


Tudo começa com a líder da gangue Rebecca (Katie Chang) e seu companheiro Zac (Israel Broussard) roubando utensílios de carros estacionados na rua, logo depois, estão invadindo a casa de Paris Hilton. A naturalidade com que Rebecca, Zac e os outros integrantes do grupo cometem os furtos é impressionante, a histeria toma conta de todos a cada item de grife encontrado nas residências de Megan Fox ou de Lindsay Lohan.


Fico mesmo impressionado quando penso que isso realmente aconteceu. Realmente admiro a audácia desses jovens, mas tenho pena também, são jovens perturbados que tomam medicamentos e lidam com a ausência dos pais. Mas, como eram estúpidos. Imagine só, a gangue postava fotos com os acessórios furtados no facebook, o que posteriormente facilitou, e muito, a polícia a encontrá-los. Por causa dos delitos, os integrantes se tornaram sub-celebridades no pequeno ciclo social onde circulavam, conquistando assim o “reconhecimento” que tanto desejavam, ainda que de forma limitada.

Sofia fez um filme menos autoral que o seu último trabalho, o intimista Um Lugar Qualquer. Neste novo trabalho, a trama é mais palatável ao grande público que vai comparecer aos cinemas não pela cineasta, mas pela presença de Emma Watson no filme, a propósito, ela está excelente como a dissimulada Nicki. 


Tecnicamente a fita é impecável,  as cenas  que abusam do brilho e do slow motion são contemplativas, destaque também para a bem elaborada sequência em que acompanhamos por vários minutos, por uma câmera parada longe da mansão,  a gangue entrar, furtar, transitar entre os cômodos e sair da mansão.  A trilha sonora constante com hits pop/eletrônico vai reverberar na sua mente por dias.. Quanto à história, ela segue de forma natural e sem nenhuma pressa.


Bling Ring enfoca o materialismo exagerado e a busca incessante pela fama, mas trata também, ainda que de forma implícita, de questões mais complexas como a disfunção familiar, a falta de personalidade própria (como a personagem Zac, ele é gay e faz tudo que sua amiga Rebecca pede, pois na sua companhia ele pode ser quem realmente é) e a necessidade de se exibir nas redes sociais. Outro assunto que o filme levanta é o descuido tremendo das celebridades que deixam suas casas praticamente “abertas” e com uma segurança bem falha. 


Aqui já caímos em outra questão envolvendo a mídia, pode-se dizer que antes da invasão dos jovens às mansões, a “segurança” de tais residências foi “violada” em grande parte pela cobertura maciça da imprensa em cima das celebridades,  que divulgam sem cansar o passo a passo da rotina dos famosos. Pois é, parece que essas informações, inúteis para as pessoas "normais", se tornaram bastante proveitosas para um grupo de jovens.

16 de agosto de 2013

Perigo por Encomenda (Premium Rush)


Se você é cinéfilo deve conhecer o seguinte “mandamento” da sétima arte: Nunca julgue um filme pela capa ou pelo título dado em português. Assim como aquele ditado clichê que diz, “é nos pequenos frascos que estão os melhores perfumes”, também é sabido que nos pequenos lançamentos diretos em DVD podem estar aqueles pequenos/grandes filmes que inesperadamente podem nos surpreender. O thriller Perigo por Encomenda (Premium Rush, 2012) é um perfeito exemplo do caso. Lançado nos EUA há quase um ano, a produção chega timidamente agora em DVD no Brasil – e também no canal HBO. Perigo por Encomenda é um esperto e ágil filme de ação sobre as duas rodas de uma bike e protagonizado pelo versátil e carismático Joseph Gordon-Levitt.

Aliás, antes de falar sobre a produção devo mencionar algo curioso. O ator de 500 Dias com Ela se tornou o “rei” dos bons filmes que têm o lançamento direto em DVD no país. Os dramas 50% e Hesher– Juventude em Fúria também passaram longe das salas dos cinemas nacionais, mas isso não quer dizer nada em relação à qualidade dos filmes, são duas obras imperdíveis protagonizados pelo Gordon-Levitt e que, assim como Perigo por Encomenda, merecem toda a atenção do público.

Ops, bike sem freios dá nisso.

Joseph vive um entregador de encomendas chamado Wilee. Montado numa bike, Wilee percorre as ruas de Nova York à toda velocidade para entregar as correspondências  no prazo certo, com manobras muito radicais, o rapaz dribla carros e pedestres e fura os sinaleiros de forma rápida e um pouco inconsequente. Já nos primeiros minutos sabemos que Wilee sente aversão à escritórios, se sente um homem livre e sortudo com o emprego que tem já que adora pedalar e a condição só melhora quando ele ainda é pago para fazer isso.

As coisas  se  complicam  para Wilee  quando ele é chamado para entregar um simples envelope. A partir daí, o ciclista é perseguido desesperadamente por um policial corrupto e perturbado interpretado por Michael Shannon, visto recentemente em Homem de Aço. Vou te contar algo, o papel foi feito na medida para Shannon, o ator lida muito bem com personagens erráticos e transtornados, talvez  por ter uma feição não muito simpática.

Joseph em perigo.

Perigo por Encomenda é dirigido por David Koepp, uma autoridade em roteiros de filmes de ação como Jurassic Park, Homem-Aranha, Missão Impossível, Zathura e tantos outros, mas ele não decepcionou na função de diretor, Premium Rush é tão divertido e envolvente quanto estes filmes de sucesso. As cenas de perseguição com Joseph pedalando a bicicleta freneticamente são pura adrenalina. Com um roteiro inteligente e sem excessos ancorado por uma narrativa não linear, Perigo por Encomenda mistura humor e aventura de um jeito que não vai deixar você desgrudar os olhos da tela por um segundo sequer. Sente o clima no trailer abaixo:




                                                                                                                                                       
                

12 de agosto de 2013

Círculo de Fogo (Pacific Rim)



Hoje nós vamos cancelar o apocalipse”. A frase já entrou para a história do cinema, assim como “I´m your father”, de Star Wars. Ela é dita pela personagem de Idris Elba no novo filme do inventivo cineasta Guillermo del Toro, Círculo de Fogo, (Pacific Rim, 2013).

Del Toro faz uma belíssima e colorida homenagem aos filmes de criaturas gigantes, e quem conhece os outros trabalhos do cara - Hellboy, O Labirinto do Fauno, entre outros - sabe que ele é especialista no assunto e muito criativo na construção de monstros. E eles estão aqui, em grande escala e muito bem esboçados.  Mais que uma aventura deliciosa e empolgante, Círculo de Fogo satisfaz, principalmente, aquele público que cresceu assistindo séries japonesas como Jiraya, Jaspion, Changeman, e por que não, Power Rangers, a premissa “monstros gigantes versus robôs” do filme, lembra muito estes antigos programas. Assistir a Círculo de Fogo é uma experiência saudosista que ressuscita e atende a nossos anseios mais infantis.

Hunnam e Rinko vão à luta.

Em um futuro distante, robôs colossais de metal são criados para enfrentar monstros gigantescos chamados de Kaiju e que frenquentemente saem do oceano pacífico e vão às cidades causando destruição em massa. Visto como único meio de enfrentar os Kaijus, foram criados robôs, os Jaegers, controlados por humanos. Cada robô é comandado por duas pessoas que precisam estar conectados mentalmente para fazer o Jaeger funcionar e lutar.  É aqui que entra o elemento humano do filme, que mesmo não sendo o principal atrativo no caso de uma produção com ênfase em criaturas gigantes, o diretor faz questão de desenvolver algumas personagens, mesmo que de uma forma não muito aprofundada. 

O elenco mostra competência, Charles Hunnam (Sons of Anarchy), Rinko Kikuchi (Babel), Rob Kazisnky (True Blood), Idris Elba (Luther) e Ron Perlman, o Hellboy,  dão vida às personagens que nos fazem vibrar e roer as unhas nos momentos mais tensos da produção. O arco dramático que envolve a personagem de Rinko,  é o mais interessante, a sequência em que ela, ainda criança, é perseguida por um Kaiju, é assustadora.  Esta cena não poderia faltar em um filme de Del Toro não é, como  eu já havia citado no post sobre A Espinha do Diabo, o cineasta adora colocar crianças em situações aterradoras, e nós espectadores, como consequência, ficamos sempre morrendo de aflição.

Mesmo com uma trama tão fantasiosa, o realismo está presente e fica por conta de uma impecável direção de arte e riquíssima em detalhes,  isso pode ser evidenciada nos cenários sombrios, nas ruas, o galpão dos Jaigers e principalmente os robôs enormes. Eles são pesados, possuem falhas e carcaças enferrujadas, bem diferente dos robôs “limpos”, ágeis e brilhantes de Transformers.



O confronto entre os seres colossais, para quem foi ao cinema apenas por isso, não desaponta em nenhum momento. As cenas de batalhas são grandiosas e incrivelmente arrebatadoras, elas empolgam de um jeito que você vai ficar dando soco no ar dentro do cinema - sim, eu fiz  isso.  Círculo de Fogo é fantástico, um “respiro de originalidade” - na medida do possível - dentre tantas sequências e remakes hollywoodianos que permeiam os cinemas este ano, repletos de clichês e tão amarrados à uma estrutura narrativa já esgotada. 

Guillermo Del Toro está à vontade, sua paixão pela fantasia e por este mundo de criaturas impressionantes e assustadoras é visível em cada frame, em cada ângulo e detalhe, em cada cena elaborada com esmero e que merecem ser contempladas com mais calma em duas ou três sessões. Eis aqui, mais uma obra-prima a acrescentar na sua invejável filmografia.
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