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23 de janeiro de 2014

Ninfomaníaca - Volume 1



A meu ver, Ninfomaníaca – Volume 1 (Nymphomaniac, 2013), novo filme de Lars Von Trier é bem menos subversivo e chocante do que se esperava. Bem, esta é minha opinião, a visão de quem se chocou fortemente com outro trabalho do diretor, Anticristo, e estava aguardando algo semelhante na nova obra sexual. Mas tenho que ressaltar que se você não conhece as obras anteriores do cineasta, você provavelmente vai definir Ninfomaníaca como um pornô leve, o que é realmente.

No início do filme já nos demos conta de um trabalho legítimo de Lars, há a tela preta, o barulho singelo da chuva e depois a interrupção abrupta da calmaria pelo som pesado de uma música do grupo Rammstein. Logo vemos Joe (Charlotte Gainsbourg) deitada no chão, ela é socorrida por Seligman (Stellan Skarsgard) que a leva para casa. Não demora muito para a moça contar sobre a sua vida devassa e triste para o recém conhecido. O longa então se divide nas cenas em que os dois conversam e discutem sobre a vida sexual libertina de Joe e nos flashbacks da vida dela.

Libertinagem sem culpa.

Confesso que esse “vai e vem” me decepcionou muito e mostra um didatismo na narrativa que não esperava numa obra do diretor, devido a isso, Ninfomaníaca peca pela lentidão favorecida por esses momentos - um pouco chatos - entre “contadora de história e ouvinte”, quando o que o público quer na verdade é ver a personagem Joe em ação, transando desesperadamente, mergulhada no seu mundo de dramas repleto de constrangimentos. Agora, se a intenção de Lars era criar um paralelo entre a narrativa passiva e a vida vazia da protagonista, daí ele conseguiu louros.

Mesmo que o filme deixe a desejar na forma de contar a história, há muito acertos, destaque para as cenas de sexo despudoradas e realistas, apenas Lars Von Trier sabe filmar cenas de sexo sem parecer pornográficas. As alusões feitas entre o sexo e a matemática, o sexo e o ato de pescar, além de toda a jornada sofrida da tal ninfo, tornam o longa uma experiência enriquecedora acerca da sexualidade humana. Como dizem por aí, uma obra para se discutir por anos a fio.


Ninfomaníaca também é um romance, um filme de amor, com mais sexo que amor, é verdade, pois a protagonista não acredita muito no amor e diz ser um empecilho para as relações sexuais e a vida que leva. Apesar de ser um drama forte com tema controverso, os momentos cômicos estão presentes e são muitos. Uma Thurman tem uma participação engraçadíssima na produção, que por si só, já valem o ingresso. Quanto ao elenco, Shia Labeouf encarna um tipo bem diferente do cara “engraçadinho” que interpretou em Transformers, ainda que sem perder um pouco da comicidade, seu papel aqui é mais sério, destaca a versatilidade do ator e sua desenvoltura nas cenas de nudez.



O Volume 1 desta saga sexual do dinamarquês é bem menos pungente e polêmico do que aparentava ser nos trailers, mais simples e “comportado” que outros trabalhos do diretor, mas é uma obra ímpar, trata a sexualidade de forma aberta e astuta. A Parte 2 estreia em março e parece que os melhores momentos estão nele.


20 de janeiro de 2014

Looking - A promissora e nova série gay da HBO



Finalmente estreou Looking, a nova série sobre o universo gay da HBO, e o primeiro pensamento que tive após o episódio foi: “Mas já acabou?”. E quando um piloto deixa esta impressão de “quero mais” isso é muito positivo.

A TV tem muitos sitcoms e dramas com personagens homossexuais (Shameless, Please Like Me, Glee, Sirens e Modern Family são alguns deles), mas estava faltando uma série que representasse em sua totalidade o mundo gay nos dias atuais, e nada melhor que a HBO para transpor este mundo para a tela de uma forma realista, descolada e aberta.

Agustin, Patrick e Don.

Looking narra o dia a dia de três amigos, Patrick (Jonathan Groff), Don (Murray Bartlett) e o barbudo Agustín (Frankie J. Alvarez) na cidade de São Francisco. No primeiro episódio os amigos se encontram em estágios diferentes da vida, Agustin já está num relacionamento aparentemente estável, Don, o mais “velho” dos três, anda carente e com crise de idade, Já Patrick, 29 anos e que trabalha com softwares de vídeo games, está na busca pelo parceiro ideal, tem perfil em sites de encontros e geralmente se frustra em encontros casuais. Por isso, talvez Patrick seja o personagem que mais represente a geração atual.

O piloto divide bem as cenas entre os três protagonistas, mas é Jonathan Groff quem se destaca no episódio. Groff empresta todo seu carisma ao atrapalhado e sonhador Patrick. De imediato, o público vai se identificar com ele, é uma figura muito fácil de gostar, confesso, já me apeguei ao Paddy. A cena na qual Patrick é repreendido por usar um smile numa mensagem de texto é muito engraçada. O personagem de Don - o garçom com suas crises existenciais - também é interessante e promissor, deve se destacar durante a temporada.

Patrick e um... novo amor?


O primeiro capítulo tem um bom ritmo, é gostoso de assistir, diverte e nos dá uma ideia dos dramas que os personagens viverão nos próximos sete episódios. O piloto foi mais “comportado” do que muitos esperavam, isso não é algo ruim, mas vamos aguardar para ver se a série terá aquele ingrediente “picante” típico das produções do canal. Com o propósito de abordar as frustrações, as crises, desejos, relacionamentos e a procura incessante por alguém especial, entre tantos outros temas levemente pincelados no primeiro episódio, Looking tem muita força para ser sucesso e ter vida longa. 

Veja também: Looking - O fim precoce da série

14 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street



A dupla dinâmica e talentosa Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio retomam a parceria no agressivo e politicamente incorreto O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013). Scorsese conta a história de um fora da lei amoral, mentiroso e ganancioso de Wall Street. Jordan Belfort (DiCaprio) é um corretor de valores que constrói sua reputação e fortuna enganando pessoas vendendo ações baratas a preços exorbitantes.

O filme é baseado em fatos reais e aborda a ascensão e o declínio do corretor, Scorsese aborda a trajetória do personagem com muito humor negro e de forma exagerada, há muitos excessos, como o uso de palavrões, muitas cenas de personagens usando drogas - há mais drogas aqui do que em Réquiem Para um Sonho e Trainsporting juntos - muito sexo e até os próprios personagens são espalhafatosos. Claro, tudo isso é intencional, no entanto, Scorsese exagerou na duração, três horas pareceu longo demais para uma história que dava para ser contada em duas, não à toa minha empolgação na primeira hora do filme se foi no segundo ato e retornou na última hora do filme.

"Show me the money"

Monólogos motivacionais extensos do protagonista e algumas cenas de comédia bem forçadas envolvendo o personagem de Jonah Hill também faz de O Lobo de Wall Street um filme imperfeito, cheio de altos e baixos. Já que mencionei Jonah Hill, bom, seu personagem Donnie, sócio de Belfort, surge como um alívio cômico e até me fez rir no início, mas logo torna-se irritante e Hill se descontrola totalmente na sua atuação. Uma pena.

Mas quem provoca risos mesmo é Matthew McCounaghey, sua presença é breve mas marcante. A cena do restaurante em que seu personagem dá umas dicas de sucesso para Belfort (DiCaprio) é impagável. E se tem algo que faz os defeitos do filme se tornarem irrelevantes ele atende pelo nome de Leonardo DiCaprio. Leo está endiabrado, cômico, devasso, de um jeito que nunca vi. E mesmo que seu personagem seja um “filho da mãe” corrupto e desumano, o espectador vai torcer por ele de qualquer maneira. A cena em que Belfort tem uma paralisia e vai se rastejando até o seu carro, já é a cena mais estranha, hilária e inesquecível do ano, comprovando novamente o talento e a flexibilidade do ator. Para minha felicidade - e de muita gente por aí - DiCaprio levou o Globo de Ouro de Melhor Ator em comédia no último domingo. Será que finalmente ele vai ganhar o Oscar este ano?

Hill e DiCaprio em momento cômico

O Lobo de Wall Street pode não entrar no top 5 dos melhores filmes do diretor, tampouco deve ser ignorado. Permeado por diálogos espertos e técnicas visuais bem criativas como a conversa telepática ou o momento em que o protagonista olha diretamente para a câmera e fala com o espectador, Scorsese conta uma história interessantíssima que merece ser conhecida pelo público e que, quiçá, também vai aprender a vender uma caneta.


NOTA: 7,5

10 de janeiro de 2014

Spring Breakers: Garotas Perigosas



Muitos biquínis, seios e bundas carnudas em câmera lenta, badalação, drogas e uma “homenagem” inusitada à Britney Spears define o drama Spring Breakers: Garotas Perigosas (2013).

O filme explora o fascínio pela criminalidade e a busca de identidade de quatro jovens garotas, interpretadas por rostinhos conhecidos como Vanessa Hudgens e Selena Gomez, outros não tanto como Ashley Benson e Rachel Korine.  O roteiro é um fiapo: cansadas da vida sem graça que levam, as amigas vão passar as férias em uma cidade ensolarada onde as festas não acabam nunca, roupas são dispensáveis e as drogas e o álcool rola descontroladamente.

Harmony Korine (escritor dos polêmicos Kids e Ken Park) sabia da simplicidade da trama e em razão disso tratou de “enfeitar” a sua obra ao máximo, agregando à narrativa um estilo e elementos visuais que impressionam e faz de Spring Breakers muito mais que um filme protagonizado por ex-musas teen da Disney.



Alguns dos pontos fortes do longa são a edição inquieta e desordenada capaz de imergir o espectador numa jornada cheia de cores fortes e contrastes, música eletrônica, corpos desnudos e pegação e torna tudo mais interessante do que realmente é, a trilha sonora ininterrupta e as narrações em off são outros acertos, tais elementos, em alguns momentos, são responsáveis pelo tom dramático da fita garantindo ainda mais a linguagem distinta, ousada e autoral pretendida pelo cineasta.


As meninas estão ótimas em suas performances, mas é James Franco quem surpreende vivendo Alien, um rapper/gangster/tatuado/fã de Britney Spears. Irreconhecível no personagem, Franco acerta no tom, ora é um criminoso perigoso deslumbrado com suas armas e o poder, ora é um homem sensível que canta Everytime, canção chorosa da Brit, no piano. É sério, a cena é memorável, nunca achei que uma sequência um pouco violenta e garotas armadas dançando fosse combinar com a música da estrela pop, o resultado é bizarro e hilário.

Spring Breakers não se preocupa em levantar dilemas morais, dizer quem é bonzinho ou quem é mau, muito menos discutir a atração dos jovens pela vida desregrada, o que importa mesmo é a diversão e a possibilidade de sair do casulo apático de onde se vive e conhecer um mundo cheio de sensações, emoções e cores vibrantes.


NOTA: 8,0

6 de janeiro de 2014

Melhores Filmes de 2013!

Como de praxe, segue a lista - um pouco atrasado, eu sei  - dos meus filmes preferidos do ano que passou. Confere aí:


Gravidade - A obra-prima do ano. Esse drama espacial surpreendeu a todos, saí do cinema transtornado com esta perfeição do Alfonso Cuarón. Ah, e tem Sandra Bullock numa das melhores performances de sua carreira.




Círculo de Fogo - Além de Cuarón, outro cineasta mexicano, Guillermo Del Toro,  presenteou os cinéfilos com outro espetáculo visual. Círculo de Fogo, filme de monstros e robôs gigantes, fez Transformers parecer uma espécie de Power Rangers do cinema.



Os Suspeitos - Atuações intensas de Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, uma trama intrigante e um desfecho inesperado. O suspense de Dennis Villeneuve agradou críticos e público e Jackman bem que merecia uma indicação ao Oscar.




A Caça - Este longa dinamarquês de Thomas Vinterberg não poderia faltar aqui. É um drama pesado sobre um professor (Mads Mikkelsen) acusado de abuso sexual infantil e hostilizado por uma cidade inteira. Perturbador e nos induz à reflexão.




O Lado Bom da Vida - O filme é previsível, verdade, mas é adorável, não tem como não se encantar com os protagonistas excêntricos vividos por Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Uma dramédia cheia de ironias e livre da pieguice.





Blue Jasmine - Woody Allen acertou de novo. Blue Jasmine é um drama focado na vida de Jasmine, uma mulher rica e sofisticada que perde tudo e vai viver com a irmã pobre em São Francisco. O filme é todinho de Cate Blanchett que tem espaço de sobra para brilhar.


  
O Homem de Aço - Era do “jeito Snyder de ser” de que a franquia do Superman estava precisando. Zack Snyder sabia exatamente o que faltava nos outros filmes anteriores do herói e resolveu atribuir ao reboot, o ritmo frenético, ação constante e explosiva, um Clark Kent mais realista e menos bobão e um vilão que não é Luthor e nem usou de kryptonita para destruir o mundo. Aprovadíssimo.



The Kings of Summer -  Essa produção independente juvenil nem chegou nos cinemas, mas não importa. TKS lembra muito o clássico Conta Comigo.  A trama é sobre três amigos que decidem sair de casa em busca da liberdade, para isso, constroem uma casa na floresta e começam a viver lá. Uma comédia com toques dramáticos leves que fala de amizade e amadurecimento sem sentimentalismo.



Invocação do Mal - Uma produção de terror realmente apavorante, como há tempos eu não via. James Wan acertou na escolha do elenco, Vera Farmiga, Patrick Wilson e Lily Taylor, no cenário da casa mal assombrada e na construção das cenas de suspense. O clima é de desconforto durante todo o filme.



Meu Namorado é um Zumbi - Um filme no qual os zumbis tiram sarro deles mesmos. Apesar da premissa não muito original, um zumbi (Nicholas Hoult, de Skins) se apaixona por uma humana, a produção agrada e diverte, as narrações do protagonista sobre a sua condição são hilárias, ponto alto também para a trilha sonora descolada.



Menções honrosas para: The Bling Ring, O Lugar Onde Tudo Termina, Além da Escuridão – Star Trek, A Morte do Demônio, Django Livre, Perigo por Encomenda, Em Chamas: Jogos Vorazes.





É isso aí, um 2014 repleto de filmes ótimos para todos nós que apreciamos a sétima arte!


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