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31 de março de 2014

Um Drink no Inferno - A série



Um Drink no Inferno, filme trash do diretor Robert Rodriguez e protagonizado por George Clooney e Quentin Tarantino nos anos 90, ganhou uma promissora adaptação para a TV neste mês de março. A série é exibida aqui no Brasil pelo Netflix e nos EUA pelo canal El Rey Network. Após dezoito anos da estreia do filme, a série é tão dedicada aos fãs saudosistas da obra de Rodriguez quanto ao público que desconhece o original. Acredito que há mais chances de agradar a um novo público, pois é uma opção diferente de programa, Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 2014) é uma série com estilo próprio, uma mescla de western, filme policial e com toques de sobrenatural.

O primeiro episódio se baseia nos primeiros dez minutos do filme. Os acontecimentos são idênticos, mas novos personagens e ingredientes foram adicionados à trama para sustentar toda a temporada. D.J. Cotrona e Zane Holtz dão vida aos irmãos criminosos Seth e Richie Gecko, papéis que foram antes de Clooney e Tarantino. O piloto se passa integralmente numa pequena loja de beira de estrada chamada Benny´s World of Liquor. É onde os irmãos, já fugitivos da polícia, passam para comprar umas coisinhas e terminam sendo protagonistas de um verdadeiro banho de sangue. Ah, antes disso, há um prólogo muito desconcertante no qual uma mulher é jogada numa tumba cheia de cobras. A cena por si só, já me fez querer ver a temporada completa.

Os irmãos Gecko: Assassinos instáveis.

O policial Freddie Gonzalez (Jesse Garcia) é um dos personagens novos, seu trabalho será ficar no encalço dos irmãos e se vingar pela morte do parceiro, vítima no tiroteio da loja de bebidas. Outra novidade na adaptação de TV é que Richie está mais insano que no filme, além de assassino e instável, o cara ainda ouve vozes e tem visões de criaturas horripilantes.

Enquanto o piloto se concentra na ação dentro da loja de bebidas, o segundo episódio apresenta pela primeira vez a família que viaja em um trailer, personagens que a qualquer momento vão se deparar com os Gecko. Harvey Keitel e Juliette Lewis faziam parte desta família na produção original, na série, Jason Patrick (o T-1000 de Exterminador do Futuro 2) interpreta o pastor que perde a fé e “sequestra” seus filhos para uma viagem sem rumo.

Robert Rodriguez dirige os dois primeiros episódios, aqui ele pisa no freio em relação às cenas de ação e no sangue – não parece nada o cineasta que conduziu filmes como Sin City – porém, esses primeiros momentos da produção evidencia a criatividade presente no roteiro que possibilita estender o universo mostrado em um filme de 100 minutos numa série de 10 episódios, até agora, tudo está funcionando de forma coerente, bem cuidadosa e sem situações forçadas.

Esse olhar e o pescoço à mostra diz muito né?

No obra cult, há uma reviravolta surpreendente que divide o filme em duas partes distintas, então confesso que estou com altas expectativas para este “momento” na série, o tom sobrenatural da trama é o que mais me fascina. No segundo episódio, este “mundo fantástico e perigoso” já aparece em uma cena breve e reveladora e que faz uma leve conexão com a cena do ritual cheio de cobras lá do início do piloto.


A série Um Drink no Inferno já foi renovada para uma segunda temporada. Rodriguez é um cara criativo, então as minhas expectativas são as melhores possíveis, o elenco está ótimo – principalmente os atores que vivem os irmãos Gecko – e o roteiro tem tudo para impressionar e se a série se aprofundar na parte sobrenatural da trama, algo que o filme apenas deu uma pincelada, daí esta pode ser uma grande surpresa para a TV este ano.  Mas nem tudo é perfeito, o seriado conta com um ritmo moroso e pouca ação, e isto pode afastar aquele que não conhece a obra original. Exceto isso, Um Drink no Inferno é uma série estilosa, despretensiosa e merece atenção.

19 de março de 2014

Um Drink no Inferno



Onde você estava no ano de 1996? Muitos de vocês, leitores, nem tinham nascido, né verdade? Neste ano estreava o sangrento Um Drink no Inferno (From Dusk till Dawn), filme protagonizado por Quentin Tarantino e George Clooney, mas que aqui no Brasil não fez muito barulho, o que dificilmente não aconteceria se fosse hoje, mas era uma época diferente e muita coisa mudou desde então, inclusive as carreiras do cineasta e do ator.

Tarantino, em 1996, ainda era considerado um cineasta “alternativo demais” para Hollywood, escreveu o roteiro de Um Drink no Inferno numa época em que estava colhendo os frutos de um de seus primeiros sucessos, Pulp Fiction. Já George Clooney era o galã da série E.R. – Plantão Médico, estava longe ainda de se tornar um ator/diretor de primeira linha do cinema. O mesmo digo de Tarantino, atualmente um dos caras mais influentes e requisitados da indústria cinematográfica, e olha, quem diria, seus filmes são sinônimos de boa bilheteria e indicações ao Oscar.

Tarantino e Clooney: dupla perigosa

Ao longo do tempo o filme foi ganhando fãs e se tornou um cult, um clássico que será revisitado a partir deste mês numa adaptação para a TV.  Um Drink no Inferno, a série, estreia no canal El Rey nos EUA no início do mês, no Netflix chega no dia 19 março. O “gancho” perfeito para eu falar um pouco sobre esta pérola do cinema, que mesmo 18 anos após seu lançamento continua divertido e surpreendente.

Robert Rodriguez, diretor de Sin City, Machete e Planeta Terror, comanda  Um Drink no Inferno. Tarantino (se aventurando na frente das câmeras) e Clooney interpretam os irmãos Richie e Seth Gecko, dois criminosos fugitivos que espalham sangue e violência por todos os lugares que passam. No caminho, eles sequestram uma família e partem para o México, onde os irmãos receberão uma quantia alta de dinheiro de um mafioso chamado Carlos. Mal sabe eles que o bar marcado para o encontro é um “inferno”, e a partir daqui, o filme toma uma reviravolta inesperada e surpreendente. Bem, considerando que você não sabe nada, nada mesmo, sobre a história do cult movie.

Salma Hayek sendo estonteante

É um filme atípico, com duas partes distintas. O início soa mais como um road movie violento e  “sério”, no estilo Tarantino, já a segunda parte, é um trash nojento típico de Rodriguez  e que convenhamos, ele sabe fazer muito bem.

As muitas qualidades do longa, além do roteiro, é ver George Clooney interpretando um  cara violento, sem sorrisos largos. Sua relação com o irmão, os diálogos irônicos, dão o tom cômico na película. Importante notar também a desconstrução do personagem de Clooney ao longo do filme, que passa de vilão a mocinho no final, mas sem deixar em nenhum momento de ser um tipo fácil de gostar.

A produção também foi um divisor de águas para Salma Hayek, sua aparição breve mas muito sensual, lançou a atriz latina aos holofotes de Hollywood. Para quem admira o trabalho de Tarantino hoje e do astro de Onze Homens e um Segredo, Um Drink no Inferno continua sendo uma obra imperdível, divertido, violento, despudorado, para curtir sem grandes expectativas e não levar muito a sério.


NOTA: 8,5

16 de março de 2014

Ninfomaníaca - Volume 2



Se na minha crítica de Ninfomaníaca Volume 1, eu finalizei o texto todo esperançoso e pensando que a Parte 2 seria mais pungente e bem mais superior que o Volume 1, caí bonito do cavalo (popularmente falando), as expectativas não foram, nem de perto, correspondidas.

Ninfomaníaca Volume 2 (Nimphomaniac, 2014) peca, principalmente, pela ausência das qualidades contidas no primeiro capítulo, parece que parte da identidade do primeiro se perdeu, o tom é outro, não há mais a ironia e as figuras ilustrativas aludidas ao sexo, e até o próprio sexo foi diminuído. Bom, todo essa introdução para dizer que o Volume 1, é mais parecido com um típico filme do Lars Von Trier, é a melhor parte sem dúvida alguma, e se você quiser ver a continuação porque quer saber como a história da ninfomaníaca termina, tudo bem, mas vai com calma, abaixe suas expectativas.

No Volume 1, conhecemos a jornada triste e constrangedora de Joe (Charlotte Gainsbourg, brilhante), seus casos sexuais, sua relação com o pai e a busca pela satisfação sexual a todo custo. Agora, ela tem de lidar com a sua insatisfação involuntária e física, consequência advinda ironicamente de sua intensa e animalesca sede de sexo. Na parte 2, Joe luta contra ela mesma, contra a degradação física e psicológica, e luta ainda contra a sociedade que a rotula de viciada (e não como uma ninfomaníaca) taxando e reduzindo-a a uma marginalizada, dentro de uma minoria incompreendida. “Sou uma árvore disforme em um morro”, diz a própria protagonista.

Sadomasoquismo em vez do sexo

O capítulo 7 resume as melhores partes do longa. É o momento em que Joe abre mão de sua maternidade para priorizar o seu vício. Também é neste capítulo que estão as cenas mais desconfortáveis e agonizantes, as cenas de sexo então são substituídas pelas de sadomasoquismo. Joe se submete a um tratamento não convencional, a “técnica de nós”, perpetrada por P (Jamie Bell, surpreendente) e o resultado é uma sequência de momentos dolorosos - para nós também - no qual assistimos a degradação da personagem.

Já o capítulo final de Ninfomaníaca destoa um pouco da obra de um modo geral, parece outro filme, mas com a mesma personagem. Cansativo e com uma “desculpa" forçada para colocar a personagem no chão ensanguentada, lá na cena que inicia o Volume 1. Ainda que contenha boas ideias, este capítulo se reestruturado, poderia funcionar melhor, mas parece que foi escrito às pressas. No entanto, acho que Lars estava mais preocupado com o fim - e não com o meio – que pretendia chegar e assim, causar um choque no público. Considerando a reputação do diretor, eu até estava esperando algo “fora do comum” no desfecho.

Jamie Bell em participação marcante

Vale destacar também que Seligman (Stellan Skarsgard), tornou-se mais interessante e relevante na trama, que bom o personagem não serve somente de ouvinte para a sua amiga viciada em sexo.  

Com o foco na desconstrução e na reconstrução da personagem principal acerca da sua identidade e sua relação com o mundo, o Volume 2 tem mais falhas que acertos, e unir os dois volumes em um só filme ainda não daria certo, a obra continuaria irregular, com altos e baixos, mas o que vale mesmo é o estudo feito pelo diretor sobre o sexo, o corpo e o olhar da sociedade para pessoas como a Joe, inserida numa posição de minoria, tratada como uma mulher que tem uma doença, mas como a própria personagem percebe, ela é uma ninfomaníaca, foi e sempre será. A questão apresentada neste capítulo é se ela – e não os outros – se aceita assim, ou não.


12 de março de 2014

Believe - A série de Alfonso Cuarón



Quem viu Gravidade (e Filhos da Esperança), vai reconhecer na primeira cena de Believe (2014), uma característica marcante do oscarizado cineasta Alfonso Cuarón, as tomadas longas e sem cortes. No início da série, apenas uma câmera passeia pelo carro e mostra os três personagens dentro do veículo segundos antes de um acidente, a engenhosa sequência - sem cortes - é daquela que merece até replay, eu fiz isso.

Cuarón dirige o primeiro episódio, além de ser criador da série ao lado de Mark Friedman (The Forgotten). J.J Abrams também é um nome que chama a atenção nos créditos do seriado, mas ele é produtor executivo, ou seja, é o cara da grana que “banca” a série e não participa muito da parte criativa.

Na trama, Tate (Jake McLaughlin, de filmes como Selvagens e Protegendo o Inimigo) é um prisioneiro condenado à morte que é recrutado para cuidar de uma garota com poderes especiais. Bo (Johnny Sequoyah) é a garota com dons extraordinários, habilidades estas que até ela mesma desconhece. Com a ajuda de Milton Winter (Delroy Lindo) e Channing (Jamie Chung), Tate deve evitar que a menina caia nas mãos de um misterioso homem, que obviamente, só quer explorar os poderes de Bo a seu favor.

Bo está em perigo.

O piloto empolga, é bem sucedido na apresentação dos personagens e nas muitas cenas de ação, no entanto, o tom dramático e tocante no fim do episódio me lembrou a horrível Touch, série melodramática protagonizada por Kiefer Sutherland. Não será bom se Believe se habituar a mostrar Bo usando seus poderes em prol de estranhos, com o intuito apenas de provocar (forçadamente) lágrimas na audiência. Isso não deu certo com Touch, por que daria agora? Bom, ao menos Bo é uma personagem esperta e carismática, já acostumada com a sua vida atribulada e perigosa, ao contrário do garoto irritante da série finada.

 Não se sabe ainda que estrutura a série vai apresentar - a estreia ocorreu na semana passada -  mas o foco deve ser no interessante relacionamento entre Bo e Tate e como eles vão agir para se esconder da polícia e de sequestradores, e considerando apenas este plot, Believe já possui bastante potencial. Se o programa vai decolar ou não, apenas o tempo vai dizer, por ora, eu gostei do piloto e estou curioso para saber o que vem a seguir.

A série estreia este mês na Warner Channel.


5 de março de 2014

Robocop (2014)



O perverso filme de Paul Verhoeven, Robocop (1987) é ainda um filmaço, infelizmente muitos ainda têm preconceito contra a obra, pensando que ela nada mais é que uma fita de ação oitentista descerebrada, pelo contrário, é um filme inteligente, ousado, com um texto ácido e crítico acerca da sociedade, e por fim, violentíssimo, uma qualidade de alguns filmes do cineasta. O que quero dizer é, mesmo que você confira o novo Robocop (2014), dirigido por José Padilha, também deve assistir a versão clássica, pois são duas obras completamente diferentes, exceto, o próprio protagonista, o policial do futuro.

O Robocop do Zé têm muito em comum com as suas obras anteriores, os dois Tropa de Elite, como a câmera nervosa, o subtexto político e principalmente o protagonista Alex Murphy. O cara é um policial incorruptível e um pouco “esquentado”, assim como o Capitão Nascimento. E por essas e outras razões, a nova versão não pode ser chamada de remake, pois se assemelha mais à Tropa que a obra original de Verhoeven.



O roteiro é original, mas a premissa é a mesma, um policial sofre um atentado e fica inválido, a única maneira de mantê-lo vivo é torná-lo uma máquina. A ênfase na relação de Murphy e sua família após tornar-se o Robocop, a tentativa da esposa em continuar tendo o marido por perto é característico da versão de Padilha, assim como a preferência do diretor em se concentrar na vingança pessoal do protagonista e dar menos enfoque ao trabalho diário do policial do futuro nas ruas. Se isso foi uma boa ideia, eu penso que sim, o roteiro de Joshua Zetumer é inteligente, dinâmico e difícil de prever as ações, exceto, pela parte final, boba e previsível.

Quanto aos temas sociais debatidos, Padilha usa Pat Novak, personagem de Samuel L Jackson (um Datena da vida) para arremessá-los na tela. Além de abordar a relação homem x máquina e o uso desta última em benefício dos humanos, se discute também uma gama de temas, o papel da mídia tendenciosa (incluso o próprio programa de TV de Novak), corrupção na esfera pública, ganância corporativa e outras questões moldam o enredo, que é intrincado demais para um filme de ação, e a meu ver, ficou devendo cenas de ação mais empolgantes.


O Robocop realista do cineasta brasileiro tem inúmeras qualidades, um elenco de renome e inspirado (Jackson, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish e Joel Kinnaman, escolha certeira de Padilha para viver o policial, eu já gostava do ator na série The Killing), sequências bem produzidas como o tiroteio ás escuras e o momento (engraçado até) em que Robocop captura “oficialmente” o seu primeiro criminoso durante a sua apresentação ao público. Padilha estreou muito bem em Hollywood, isto é motivo para nos orgulhar. Mas no término da sessão, fiquei com uma sensação de que “faltou algo”, além da vontade de rever o original.



NOTA: 7,5
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