mãe! – Certamente o filme que mais me
incomodou neste ano, durante semanas. Quanto mais o tempo passava, mais eu
gostava dessa viagem alucinada, polêmica, desagradável e reflexiva de Darren
Aronosky. mãe! é como vinho, fica melhor com o tempo, não é um filme para se entender apenas, mas
para interpretar segundo o seu próprio repertório cultural e social.
La La Land - Cantando Estações – O clássico e o moderno convivem
harmoniosamente nessa obra musical encantadora que faz uma ode ao cinema para
contar a história de dois jovens em busca de seus sonhos. Mágico.
Mulher-Maravilha – Narrativa simples e
ligação emocional com o público, graças ao carisma de Gal Gadot, são os maiores
atributos desse filme de super-herói mais humano que você viu nesse ano.
Fragmentado– James McAvoy interpretando
dezenas de personagens fantasticamente, como ficar indiferente? Impossível. Sua
atuação é o motor desse retorno bem-sucedido de M. Night Shyamalan ao bom
cinema de mistério.
Em julho eu publiquei o post Melhores Séries de 2017 – até agora, em razão da quantidade enorme de boas séries que haviam estreado no primeiro semestre. De julho até dezembro, novas temporadas chegaram e novas séries estrearam superando minhas
expectativas, tornando 2017 um ano formidável para os apreciadores de seriados.
Segue a lista definitiva das melhores séries do ano.
Game of Thrones – Indo sempre na contramão da maioria das séries
que perdem o “fôlego” ao passar dos anos, GOT apresentou uma sétima temporada sensacional, enxuta, dinâmica, cheia de revelações, espetaculosa, do jeito que a gente
gosta e se acostumou, e como é de praxe, tecnicamente impecável. 2019 nunca esteve tão longe!
Dark– A série que eu não estava esperando e pegou todos de surpresa me conquistou já no
primeiro episódio, e acabou de estrear na Netflix. Para fãs de ficção científica
e mistérios, teorias malucas e viagem no tempo, Dark é um deleite, uma
experiência desafiadora, estranha e profundamente sombria.
The Handmaid´s Tale – É
inevitável não nos revoltarmos com o mundo opressivo, preconceituoso e violento
no qual vive Offered (Elisabeth Moss), uma Aia encarregada de prover filhos
para seus patrões. A série mais incômoda e chocante do ano.
Big Little Liars - Nicole Kidman, Reese Whiterspoon, Shailene
Woodley e Laura Dern vivem personagens imersas em uma trama que envolve
assassinato, violência doméstica e confusões escolares. Drama, mistério e humor
bem dosados pelas mãos do talentoso diretor Jean-Marc Vallée.
O homem cujas habilidades excepcionais é capaz de criar
artifícios para transitar entre épocas diferentes, ou seja, viajar no tempo, é
o mesmo que sucumbe à própria desgraça quando sua vida sofre uma reviravolta
infeliz e qualquer noção de racionalidade lhe é tirada. Que ser complexo é o
ser humano, não é mesmo? Essa dicotomia pode ser observada na série alemã Dark
(2017), que estreou no Netflix este mês e já considero uma das melhores do ano,
quiçá da década.
Na lúgubre cidadezinha alemã de Winden, um pai de família tem
sua vida virada do avesso quando seu filho menor desaparece misteriosamente, esta
é uma das tramas de Dark, série que tem sido comparada equivocadamente a
Stranger Things, felizmente, as semelhanças são mínimas e se esvaem já no
primeiro episódio, quando notamos a atmosfera sombria, a densidade e a
complexidade da trama, na qual iremos ficar absortos durante os próximos nove
capítulos.
Criada por Baran bo Odar, Dark explora elementos comuns em
produções de ficção científica como buraco de minhoca, viagem no tempo e
conceitos de física quântica – se você já viu a série Fringe e os filmesCoherence, Interestelar eO Predestinado irá se deleitar com a história, no
entanto, a parte complicada e também o maior trunfo de Dark são as três linhas
temporais que envolvem membros de quatro famílias, é bem fácil você se perder e
não saber quem é quem e não conseguir enxergar a ligação entre os tantos
personagens, uma árvore genealógica das famílias – como essa que a Mundo Estranho elaborou – seria ótimo para consultar enquanto ver os episódios.
Talvez você não saiba, mas o cinema
espanhol tem uma contribuição bastante significativa ao gênero suspense/mistério
e que deveria ser mais prestigiada pelo público em geral, posso citar alguns
exemplares de língua espanhola que compensa qualquer possível trabalho de ter
que procurar tais obras na web, por exemplo, as obras-primas de Guillermo Del
Toro A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno, A Pele que Habito de Pedro Almodóvar,
do diretor Alejandro Amenábar tem os ótimos Tesis – Morte ao Vivo e Preso na
Escuridão (Abra Los Ojos, que ganhou versão péssima com Tom Cruise chamada
Vanilla Sky), o tenso REC e o elogiado El Cuerpo, este último, do promissor Oriol
Paulo, que também é o responsável pelo thriller mais surpreendente que você
verá neste ano, Um Contratempo
(Contratiempo, 2016), disponível na Netflix e objeto principal dessa
crítica.
Graças à sua disponibilidade na famosa
plataforma on-line, Um Contratempo tem ganhado aos poucos reconhecimento e um
público cativo. Não me espanta se o filme espanhol brevemente ganhar um remake “meia
boca” de Hollywood e o diretor Paulo for convidado para assumir outra
refilmagem desnecessária, impedindo o cineasta de trabalhar em projetos
originais e possivelmente mais interessantes.
O Inverno já está quase aí, mas 2017 já nos deu tantas séries maravilhosas e imperdíveis que resolvi listá-las já, antes do final do ano (época das tradicionais listas de melhores e piores do ano)!!!! Confere ai!
The Leftovers – A série intrigante e audaciosa de Damon Lindelof
(Lost), cuja premissa se baseia na
partida repentina de 2% da população, chegou ao fim e, sim, todas as
respostas foram dadas. A forma como se
esclarece o principal mistério da série é inteligente e ousada, causando no
espectador emoções díspares. Com 3 temporadas, cada uma delas com atmosfera distinta, mas sempre com a história do Arrebatamento de fundo, The Leftovers (HBO) tinha como
trunfo os fortes dramas e seus respectivos personagens, como Kevin (Justin
Theroux) e Nora (Carrie Coon), não por acaso, o último episódio centrado nos
dois representa o ápice da jornada vivida por ambos, e como tal, não
poderia ser mais emocionante, mas com um toque de desconcerto.
Big Little Liars – Também da HBO,
esta foi uma das surpresas do ano. Com um elenco feminino poderoso formado por
Nicole Kidman, Reese Whiterspoon, Shailene Woodley e Laura Dern e direção dos
sete episódios por Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas), a minissérie
mistura trama de mistério envolvendo um assassinato com dramas que abarcam
desde violência doméstica e casos extraconjugais até confusões escolares com os
filhos das “perfeitas” mulheres da pacata cidade de Monterey.
The Handmaid´s Tale – Provavelmente
a série mais incômoda e chocante do ano. É inevitável não nos revoltarmos com o
mundo opressivo e violento no qual vive Offred (Elisabeth Moss, prêmios para
ela), uma Aia encarregada de prover filhos para seus patrões. A redução do
papel da mulher a ser reprodutor ou apenas de objetificação, preconceito contra
homossexuais, governo autoritário que usa de religião para cometer assassinatos
e repreensões são algumas das questões abordadas na série, que já aviso, não
é destinada a qualquer um.
Cara Gente Branca – Com muito
humor e sarcasmo, mas sem perder de vista o principal objeto de discussão da
série: o preconceito racial e a forma como ele é tratado na sociedade, esta
série da Netflix põe o dedo na ferida, contorce e afunda mais o dedo sem dó
alguma. A questão aqui é apresentada explicitamente. Chega de subliminaridades. São 10 rápidos e deliciosos episódios discutindo questões sérias e tantas
formas de racismo que, quer queira ou não, estão enraizadas na sociedade. Cara
Gente Branca é um tapa na cara, um despertar para a autorreflexão, a empatia, o
respeito. Uma série obrigatória em tempos atuais.
Precisamos falar de 13
Reasons Why. Quando Tyler (Devin Druid), o fotógrafo que é vítima
frequente de bullying no colégio, abre uma caixa no seu quarto e vemos nela um
pequeno arsenal, repleto de armas de diversos tipos, logo associei esse momento
a obras cinematográficas que tratam de massacres em escolas, tipo de tragédia
que pode surgir nas cenas da próxima temporada da série 13 Reasons Why (2017), novo
hit do Netflix, que aborda temas difíceis como bullying, suicídio, estupro, entre
outros. É como se 13 Reasons Why
narrasse os bastidores, ou melhor, escancarasse as causas desse tipo de
incidente que, de tempos em tempos, acontece, principalmente, em alguma escola
americana, e que já foi retratado em dois filmes que expõem duas diferentes
perspectivas sobre episódios violentos envolvendo adolescentes. Antes de falar
da série, é importante fazer esse link com outras obras.
O filme Elefante, de Gus Van
Sant, é baseado no massacre de Columbine, que ocorreu em 1999. A produção
acompanha a rotina dos alunos na escola até a chegada de dois alunos, munidos
de metralhadoras, eles causam um banho de sangue atirando para todos os lados e
depois se matam. Já o drama Tarde Demais (Beautiful Boy)retrata a situação através das lentes dos pais de um garoto, que aqui já não é
a vítima, mas o assassino que mata 17 alunos e se suicida logo após. O filme concentra-se na vida dos pais, que
tentam buscar respostas para o ocorrido e refletem se o papel deles, como pai e
mãe, foi falho em algum momento.
Violência física, psicológica e
sexual podem sim ocasionar tragédias como essa de Columbine, bem como o
suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford), e quando se está no Ensino Médio,
os problemas parecem ser maiores do que realmente são. E no caso de 13 Reasons Why, eles são mesmo. A série vai além de questões acerca do
bullying e do suicídio, trata também de famílias disfuncionais (a do Justin,
principalmente) de relações sociais baseadas em interesse, de ser invisível
para outros, de amizades passageiras e frágeis, mentiras, machismo, e como esses
fatores podem acarretar não apenas crises existenciais (isso é sério), mas
atitudes extremas em um adolescente.
O terror de viver no meio de uma
guerra, tendo de conviver com explosões e mísseis caindo na vizinhança, parece
até fazer parte da rotina de mãe e filha, no entanto, a possibilidade de estar
vivendo com “espíritos” na sua própria casa torna o dia a dia muito mais
aterrador do que o “clima de pânico” lá fora. Unindo o realismo e o
sobrenatural, os dois cenários aterrorizantes, juntos, amplificam a sensação de
desconforto e tensão e este é um dos maiores acertos do filme Sob a Sombra
(Under The Shadow, 2016), que entra na lista de uma das melhores e mais
originais obras de suspense do cinema recente.
Sob a Sombra é um filme iraniano,
e tem um estreante na direção, Babak Anvari, que também roteirizou a obra.
Ambientado em Teerã, em 1988, durante a guerra entre Irã e Iraque, a história inicia
quando Shideh (Narges Rashidi) é impedida de voltar a estudar medicina por
causa de suas ações políticas nos anos anteriores. Com sentimentos de revolta,
tristeza e impotência, ela faz do lar um lugar de estresse, favorecendo a
entrada de espíritos ruins e malignos chamados djinns, que são os demônios da
religião islâmica. Com a ida do marido para trabalhar na guerra, Shideh e sua
filha Dorsa (Avin Manshadi) ficam sozinhas em casa.
Westworld – Antes de sua estreia, já se esperava que esta série
teria o "selo de qualidade HBO" com o qual estamos acostumados, e que tendo
Jonathan Nolan como um dos roteiristas, Westworld prometia um enredo, no
mínimo, audacioso e desafiador. Mesmo
assim, a série superou as expectativas do público em todos os sentidos, desde o
roteiro bem amarrado e minucioso, o afiado elenco, à magnífica trilha sonora
reproduzida em uma pianola. Faltam palavras para adjetivar essa produção.
Stranger Things – A série que faz uma ode à cultura oitentista
também foi uma das grandes surpresas do ano. A história de mistério envolvendo
quatro crianças agradou o público, surpreendeu e trouxe um sentimento de
nostalgia a quem conviveu com as pedaladas dos quatro amigos deConta Comigo e E.T. e se
maravilhou com as “luzes que falam” deContatos
Imediatos de 3º Grau.
Game Of Thrones – Eis aqui uma série que caminha para a sétima
temporada e nunca para de nos surpreender. A sexta temporada foi antológica,
repleta de momentos inesquecíveis – “Hodor, hold the door” – e mais grandiosa que os anos anteriores. A Batalha dos
Bastardos, por exemplo, tornou-se a sequência mais cara da história da TV,
ademais, é uma sequência belíssima e perturbadora ao mesmo tempo.
Uma moça vai num estabelecimento
e pede um café e biscoitos. Ela nem está com fome, o pedido feito serve mais
para postar a foto do “lanche” na sua rede social e conseguir alguns “likes”,
a atenção de seus “seguidores”. Ah, e aquele momento entre a postagem e a
primeira “curtida” hein, é angustiante, não é mesmo? Quem nunca fez isso? Eu já fiz.
Me arrependo? Não. Me considero frívolo, por isso? Não. Apenas há momentos.
A descrição do fato acima faz
parte do nosso cotidiano, mas eu me refiro a uma das cenas do
primeiro episódio da nova temporada de Black Mirror (2011 - ?). O que leva à
questão: Fiquei assustado ao me identificar com uma situação vista em uma série?
Sim, com certeza, e devemos. Motivar esse tipo de reflexão é justamente o grande trunfo dessa
série inglesa, que estreou a terceira temporada nesta semana, na Netflix.
O homem e a sua dependência crescente
da tecnologia sempre foi o cerne de Black
Mirror, seriado que estreou em 2011, e do qual eu já tinha feito um post anos atrás, clique aqui. Os novos seis episódios de Black
Mirror tratam do mesmo tema, e continuam sombrios, cínicos, incômodos e
trágicos, e o pior, as histórias apresentam um universo muito próximo da nossa realidade
e isso é assustador.
Em tempos em que os filmes de ação se resumem basicamente a
filmes de super-heróis e de agentes (Kingsman, Jason Bourne), é reconfortante saber
que, fora do mainstream, tem gente no
cinema trabalhando para trazer inovação a esse gênero tão subestimado e
oferecer ao público uma obra desafiadora, ousada e diferente de qualquer filme de
ação que você tenha visto ultimamente, é o caso de Hardcore: Missão Extrema
(Hardcore Henry, 2015), do estreante diretor russo Ilya Naishuller – que também
roteirizou o longa – e protagonizado por Sharlto Copley (Distrito 9, Elysium).
Sabe esses vídeos em que uma pessoa com uma câmera GoPro
atrelada à cabeça realiza perigosas aventuras de bike ou esportes radicais e
nos deixam tontinhos, parece até que estamos ali com ela? Pois então, Hardcore: Missão Extrema utiliza esse
recurso de uma maneira bastante eficiente durante todo o filme, colocando o
espectador sob a perspectiva do personagem principal Henry.
Há cinco anos, J. J. Abrams homenageou
Steven Spielberg e os clássicos juvenis dos anos 80 com o suspense Super 8, cuja trama era propositalmente semelhante a
E.T., O Extraterrestre. Ontem, estreou a excelente série de ficção e
suspense Stranger Things, produção original da Netflix, que também é uma ode à
cultura pop oitentista.
Stranger Things “respira” anos 80 até nos mínimos detalhes (pôsteres
de Tom Cruise e de filmes clássicos como A
Coisa e Evil Dead enfeitam os cenários); a “viajante” trilha repleta de sintetizadores da abertura lembra a
ficção Tron, clássico lançado em 1982; o hit Shoul I stay or should I go, do
The Clash, é presença constante na série; sem falar nos elementos spielberguianos inspirados –
descaradamente – por filmes como E.T., Os Goonies e Contatos Imediatos de Terceiro
Grau, como por exemplo, a turma de garotos caminhando em uma linha do trem ou
andando de bicicleta, que se envolve em uma trama de mistério e tenta resolvê-lo por conta própria.
O silêncio pode ser assassino,
para a protagonista do suspense Hush – A morte ouve (Hush, 2016), para o
espectador, o silêncio que permeia praticamente todo o filme representa uma
agonia, uma tortura psicológica. Lançado exclusivamente pela Netflix – já
disponível nessa plataforma –, Hush – A morte ouve pode ser considerado um dos
melhores filmes de suspense do ano, ao lado de A Bruxae Boa Noite Mamãe.
Com direção competente de Mike Flanagan
(O Espelho), a trama de Hush é bem
simplória, cabe em duas linhas: uma escritora surda e muda mora sozinha em uma casa
afastada da civilização, sua rotina pacata se transforma em um “filme de terror”
quando um mascarado serial killer (John Gallagher Jr.) surge na sua porta. Apesar da premissa “mascarados invadem casa”
ser bem batida – lembra de Os Estranhos? –, essa pequena obra tem seus
diferenciais.
É muito reconfortante quando
descobrimos obras cinematográficas que se destacam pela originalidade ou trazem
um certo “frescor” a gêneros muito suscetíveis a clichês, como o suspense e os
filmes de ação, isso nos faz pensar que as melhores histórias não estão nas
superproduções, mas no cinema independente, em pequenas obras-primas que quase
ninguém viu. The Guest (O Hóspede, 2014), por exemplo, é uma dessas pérolas imperdíveis
e surpreendentes, nunca foi lançada no Brasil (até agora).
Com direção de Adam Wingard,
responsável pelos filmes de terror Você é
o próximo e V/H/S, The Guest é uma mistura de filme de ação,
suspense e ainda “pega emprestado” a atmosfera das obras de terror dos anos 80
para contar uma história que te seduz do início ao fim.
Já é um fato. Sense8, nova série da Netflix, já pode ser
considerada a redenção das irmãs Lilly e Lana Wachowski, que desde o fim da
trilogia Matrix, vem colecionando desastres cinematográficos em termos de
crítica e bilheteria, como o ruinzinho O Destino de Júpiter. Ousada,
libertadora, intrigante e envolvente, Sense8 é incomparável e mostra que as
diretoras sabem construir uma história apoiada em personagens fortes sem
precisar de pirotecnias e efeitos especiais, marca registrada da maioria de
suas produções, além dos já citados acima, incluo ainda o morno A Viagem e o estonteante Speed Racer.
Em se tratando das Wachowski nada é tão simples assim, sempre
em seus projetos há um pouco de rebeldia, um desejo de fazer algo inovador e de
sempre superar um projeto anterior. Em Sense8, a ambição não está nos efeitos
visuais, mas na múltipla narrativa, que envolve oito personagens, cada um deles
em um canto do mundo e sem relação alguma. É claro que todos eles terão suas
vidas unidas em algum momento, pois eles têm algo em comum. E aí reside o
desafio das cineastas, contar uma história ambientada em locações reais de diversas cidades ao redor do mundo. Imagine o trabalho de logística que tiveram.
Um ator mexicano que esconde um romance amoroso. Uma coreana
executiva que luta vale tudo. Uma DJ islandesa. Um arrombador de cofres alemão.
Uma indiana farmacêutica com o casamento arranjado. Um motorista de van e fã do
Van Damme em Nairóbi. Um policial em Chicago. Uma transexual em São
Francisco. Todos eles são sensates, uma
espécie evoluída de seres humanos que tem o dom de compartilhar sentimentos,
lembranças e habilidades entre eles.
Sense8, como se pode perceber, é uma série multicultural e
uma das principais qualidades do seriado é a abordagem honesta e sem exageros
de tantas culturas distintas. Não vou me ater à história, veja por si mesmo,
mas digo que os oito personagens são apaixonantes e cada um deles tem uma
história que nos envolve profundamente. Me encanta a trama da transexual
Nomi e a caliente narrativa do astro de ação, Lito.
Além das Wachowski, que dirige a maioria dos 12 episódios da
primeira temporada, os cineastas Tom Tykwer (Corra Lola, Corra) e James
McTeigue (V de Vingança) também colaboram na direção. Com um roteiro das irmãs
em conjunto com J. Michael Straczynski (Guerra Mundial Z), Sense8 tem momentos
inesquecíveis, alguns catárticos e violentos – como todas as sequências de luta
que envolve Sun ou o motorista de Nairóbi, a cena de Lito “evocando” o Neo de
Matrix numa cena destruidora de ação, outros incrivelmente picantes, como o
sexo “grupal” entre alguns sensitivos e ainda há aqueles momentos emocionantes
e inexplicáveis, como o karaokê coletivo com a música What´s Up, clássico da 4 Non
Blondes - veja a cena abaixo - e o nascimento dos sensitivos ao som de uma ópera.
Sense8 é ambiciosa e ao mesmo tempo simples, seu enredo flui
de forma orgânica, sem reviravoltas grandiosas e incoerência. A questão
principal aqui são os personagens, os assombros do passado, o medo do futuro
desconhecido e incerto e a “descoberta” da necessidade de ajudar um ao outro.
Lito e Wolfgang: vai uma ajudinha ai?
O elenco é quase totalmente desconhecido, exceto por Naveen
Andrews de Lost e Daryl Hannah de Kill Bill. Miguel Ángel Silvestre (Lito) foi
visto em Os Amantes Passageiros; Doona Bae (Sun) esteve nos filmes A Viagem dos
Wachowski e em O Hospedeiro; Aml Ameen (Capheus) participou de Maze Runner:Correr ou Morrer; Jamie Clayton (Nomi) esteve na série Transform Me; Tina Desai
(a inidiana Kala) atuou em O Exótico
Hotel Marigold 1 e 2; Brian J. Smith (Will Gorski) tem o currículo mais
extenso, participou de séries como Defiance, The Good Wife, Gossip Girl e SGU
Stargate Universe; Tuppence Middleton (Riley) esteve em O Destino de Júpiter e
O Jogo da Imitação; entre todos esses, o mais conhecido para mim é o alemão Max
Rielmet (Wolfgang), eu já o tinha visto no intenso drama Queda Livre (Freier Fall), no qual vive um romance
homossexual tórrido.
Os 8 "sensates"
Sense8 é perfeita, a melhor obra das Wachowski em anos, digna
de todo o reconhecimento da crítica e do público, é hora de nos esquecermos de
todos os tropeços que as irmãs cometeram no passado, Lana e Lilly reencontraram
o tom e a “inspiração” na telinha. Acho que este é o momento de darem um tempo das
megaproduções cinematográficas. Por fim, a
sensação que fica após ver toda a primeira temporada de Sense8 é que a
série da Netflix é a materialização das ideias de seus criadores em sua forma
mais pura e cristalina.