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16 de março de 2014

Ninfomaníaca - Volume 2



Se na minha crítica de Ninfomaníaca Volume 1, eu finalizei o texto todo esperançoso e pensando que a Parte 2 seria mais pungente e bem mais superior que o Volume 1, caí bonito do cavalo (popularmente falando), as expectativas não foram, nem de perto, correspondidas.

Ninfomaníaca Volume 2 (Nimphomaniac, 2014) peca, principalmente, pela ausência das qualidades contidas no primeiro capítulo, parece que parte da identidade do primeiro se perdeu, o tom é outro, não há mais a ironia e as figuras ilustrativas aludidas ao sexo, e até o próprio sexo foi diminuído. Bom, todo essa introdução para dizer que o Volume 1, é mais parecido com um típico filme do Lars Von Trier, é a melhor parte sem dúvida alguma, e se você quiser ver a continuação porque quer saber como a história da ninfomaníaca termina, tudo bem, mas vai com calma, abaixe suas expectativas.

No Volume 1, conhecemos a jornada triste e constrangedora de Joe (Charlotte Gainsbourg, brilhante), seus casos sexuais, sua relação com o pai e a busca pela satisfação sexual a todo custo. Agora, ela tem de lidar com a sua insatisfação involuntária e física, consequência advinda ironicamente de sua intensa e animalesca sede de sexo. Na parte 2, Joe luta contra ela mesma, contra a degradação física e psicológica, e luta ainda contra a sociedade que a rotula de viciada (e não como uma ninfomaníaca) taxando e reduzindo-a a uma marginalizada, dentro de uma minoria incompreendida. “Sou uma árvore disforme em um morro”, diz a própria protagonista.

Sadomasoquismo em vez do sexo

O capítulo 7 resume as melhores partes do longa. É o momento em que Joe abre mão de sua maternidade para priorizar o seu vício. Também é neste capítulo que estão as cenas mais desconfortáveis e agonizantes, as cenas de sexo então são substituídas pelas de sadomasoquismo. Joe se submete a um tratamento não convencional, a “técnica de nós”, perpetrada por P (Jamie Bell, surpreendente) e o resultado é uma sequência de momentos dolorosos - para nós também - no qual assistimos a degradação da personagem.

Já o capítulo final de Ninfomaníaca destoa um pouco da obra de um modo geral, parece outro filme, mas com a mesma personagem. Cansativo e com uma “desculpa" forçada para colocar a personagem no chão ensanguentada, lá na cena que inicia o Volume 1. Ainda que contenha boas ideias, este capítulo se reestruturado, poderia funcionar melhor, mas parece que foi escrito às pressas. No entanto, acho que Lars estava mais preocupado com o fim - e não com o meio – que pretendia chegar e assim, causar um choque no público. Considerando a reputação do diretor, eu até estava esperando algo “fora do comum” no desfecho.

Jamie Bell em participação marcante

Vale destacar também que Seligman (Stellan Skarsgard), tornou-se mais interessante e relevante na trama, que bom o personagem não serve somente de ouvinte para a sua amiga viciada em sexo.  

Com o foco na desconstrução e na reconstrução da personagem principal acerca da sua identidade e sua relação com o mundo, o Volume 2 tem mais falhas que acertos, e unir os dois volumes em um só filme ainda não daria certo, a obra continuaria irregular, com altos e baixos, mas o que vale mesmo é o estudo feito pelo diretor sobre o sexo, o corpo e o olhar da sociedade para pessoas como a Joe, inserida numa posição de minoria, tratada como uma mulher que tem uma doença, mas como a própria personagem percebe, ela é uma ninfomaníaca, foi e sempre será. A questão apresentada neste capítulo é se ela – e não os outros – se aceita assim, ou não.


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