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15 de março de 2012

A Fabulosa Amélie Poulain


 “Sem você a emoção seria pele morta 
de uma emoção do passado”.






 

É por causa dessa atmosfera poética presente em cada frame de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain que o filme nos encanta. É impossível manter-se imune à protagonista de olhos arregalados, à deliciosa trilha sonora e aos efeitos visuais delirantes que também arregalam nossos olhos.



O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux destin d`Amélie Poulain, 2001) é uma obra sobre os pequenos prazeres da vida, sobre aqueles  pequenos gestos ou manias, que gostamos ou não, mas que revelam bem mais que nossas preferências, mas o nosso modo de pensar, agir, sentir, revela o caráter. No início do filme, o narrador de uma forma bem-humorada ilustra bem isso, apresentando o “jeito de ser” dos pais de Amélie, veja:

Raphaél Poulain não gosta:
De urinar ao lado de alguém.
Sair da água e sentir seu calção de banho grudar.
Raphaél Poulain gosta:
Enfileirar seus sapatos e engraxá-los com esmero.
Esvaziar a caixa de ferramentas, desarrumá-la e arrumar tudo novamente.

Amandine Poulain não gosta:
Que seus dedos enruguem quando está no banho.
Que os lençóis marquem sua bochecha de manhã.
Amandine Poulain gosta:
Das roupas dos patinadores.
De esvaziar a bolsa, limpá-la bem e arrumar tudo de novo.

Amélie quando criança no seu mundinho fantástico!

E Amélie? Bom, a menina de olhos expressivos gosta de ir ao cinema e olhar o rosto dos outros para ver suas expressões, adora alguns pequenos prazeres da vida como enfiar a mão no saco de cereais e sentir a maciez dos grãos. É por essa e outras milhares de razões que nos apaixonamos pela personagem principal, ela é autêntica, meiga, e tão doce quanto uma caixa de chocolates da Garoto.

Amélie (atuação inspirada de Audrey Tautou) foi criada em casa, e por isso foi privada do contato com outras crianças, com a morte prematura da mãe e o pouco afeto que recebia do pai, a menina tornou-se uma sonhadora, uma pessoa bondosa, cheia de manias esquisitas (no bom sentido) e sem qualquer ambição de vida.

Amélie e seu interesse romântico!

Sua vida toma rumos inesperados quando ela descobre uma caixa de brinquedos de um morador do prédio, que viveu sua infância há décadas ali. Ela então decide ir à procura do dono. Depois que ela devolve a caixa ao proprietário e se sente feliz e recompensada com a reação do homem, Amélie deixa a sua vidinha sem muitos propósitos e decide ajudar as pessoas que estão próximas a ela.

Um dos momentos mais prazerosos da obra de Jean-Pierre Jeunet é acompanhar a trajetória de Amélie e seu interesse romântico platônico, o Nino, no qual ela cria situações bem criativas e lúdicas para tentar conhecê-lo, mas por culpa de sua criação sem muito contato humano, ela sempre acaba desistindo do “olho no olho” com o pretendente. Enquanto isso, Nino vive o maior mistério da sua vida, que é conhecer uma pessoa que lhe ajuda tanto, e que lhe encanta de maneira tão forte e inédita, mesmo sem nunca tê-la visto.


Uma das sacadas mais divertidas e adoráveis da protagonista é a forma que ela encontra para incentivar seu pai a viver a vida fora das quatro paredes.  Ela rouba o duende de gesso do jardim, objeto de estimação do pai, e o manda “viajar” o mundo, mas nunca se esquecendo de mandar um cartão postal dos lugares mais incríveis que ele, o duende, visitou.

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é fabuloso mesmo, autêntico, nunca monótono, irreverente, sincero, uma caixinha colorida de surpresas, uma sequência de exemplos de pequenos momentos e gestos que podemos (ou não) fazer na nossa vida, um “tapa” para quem acha que a vida não tem muito a oferecer. O filme mostra que a beleza e a felicidade estão nos pequenos atos, como numa conversa descontraída com um amigo,  assistir a O Poderoso Chefão vestido de Don Corleone acompanhado de um charuto e um copo de whisky, ou assar carne na frente de casa com sua churrasqueira portátil comprada no Paraguai.


Esse post foi dedicado a alguém que não é frágil como o cara de ossos de vidro que Amélie ajuda, e por isso pode suportar sim todos os baques da vida, porém não significa que a companhia de uma “Poulain” na sua vida seja dispensável. Essa pessoa...

Não gosta:
- de receber de presente objetos de design duvidoso;
- de alimentar-se em ambientes hostis e com grande quantidade de fenômenos sonoros irritantes, pois considera sua comida bem superior que aquela produzida em grande escala e com gosto artificial destinada aos indivíduos com paladares nem um pouco exigentes;

 Gosta:
- de Kiss, em todas as suas formas e significados, seja a banda de rock ou o simples ato de tocar os lábios de outra pessoa carinhosamente.
- de romper com crenças obsoletas e comportamentos antiquados e desgastados, ou seja, quebrar padrões. Gosta de fazer coisas que a maioria das pessoas não fazem ou não esperam que faça, e o resultado nunca é menos que surpreendente.
- de se embriagar loucamente com Toddy e chá.

6 comentários:

  1. Algo estranhamente me puxa para a leitura deste texto, me fazendo sempre repetir a leitura e saborear o momento. Já o li diversas vezes, nunca me cansei, creio que nunca irei me cansar... parabéns pelas palavras.

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    1. Obrigado pelas palavras. Sim, eu estava muito inspirado quando escrevi esse texto, uma pessoa me inspirou hehehe.

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  2. Adorei o texto... há algo diferente neste (andei lendo várias resenhas neste blog). Parabéns.

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  3. Que bom curtiu o texto, essa resenha foi escrita para alguém especial que adora esse filme hehe. Obrigado pelo carinho, volte sempre! ;)

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