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16 de fevereiro de 2015

Cinquenta Tons de Cinza




Finalmente estreou a adaptação do best-seller erótico Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, 2015), da escritora E.L. James. Eu não li o livro – não é meu gênero favorito – tampouco fiz campanha para que o casal no cinema fosse vivido por Matt Bomer e Alexis Bledel – ai esses fãs cada vez mais irritantes e enxeridos – e muito menos vi os trailers. Em resumo, não tinha nenhuma expectativa sobre a obra, apenas fui à sala de cinema provido de informações que envolviam comentários negativos de “gente qualquer” e do estrondoso sucesso de bilheteria no mundo todo.


Munido de muita curiosidade e expectativas quase nulas, assisti a Cinquenta Tons de Cinza, saí da sessão bem satisfeito e não com aquela sensação de que perdi tempo ou joguei dinheiro fora, o que já vale muito. A produção dirigida por Sam Taylor-Johnson é surpreendentemente boa, comedida demais para um drama erótico e classificação 18 anos, também nem se compara aos clássicos do cinema sensual dos anos 90 como Instinto Selvagem ou Invasão de Privacidade, ambos com a loira Sharon Stone. Esta sim, sabia ser sensual mordendo os lábios.


Os personagens de Cinquenta Tons de Cinza, Anastasia Steele e Christian Grey, ganharam vida na telona com rostos pouco conhecidos do grande público. Dakota Johnson, que vive a virginal Steele, participou de filmes como A Rede Social e Saindo do Armário. Já o Sr. Grey, é encarnado pelo irlandês Jamie Dornan, que chamou a atenção na série Once Upon a Time e vem fazendo um ótimo trabalho na série The Fall, co-estrelada pela musa Gillian Anderson, de Arquivo X.

 Dornan e Johnson: Sensualidade


Cinquenta Tons de Cinza tem uma trama que passa longe da originalidade, é uma história de amor disfarçada de romance erótico com toques de sadomasoquismo. Anastasia é a típica garota tímida abobalhada e pobre que se apaixona pelo rico e sedutor Christian Grey. Quanto mais se aproxima do rapaz, Anastasia vai descobrindo suas formas peculiares de ter e dar prazer. Mas o longa se encaminha para questões interessantes, para Anastasia, mais perigosa e dolorida que as chicotadas que leva no quarto vermelho é a possibilidade de amar um homem arrogante que não se entrega tanto quanto ela, a submissa da relação.  


A química entre a dupla principal não surge de imediato, causa um desconforto nos primeiros minutos da fita. No entanto, conforme avança a relação entre Christian e Anastasia mais forte torna-se o vínculo entre eles. Se Jamie Dornan encarna bem o papel do milionário intimidador, Dakota Johnson me deixa com incógnitas durante todo o filme, não sabendo dizer se a sua doçura e bobisse é da personagem ou se ela é assim mesmo ao natural. Porém, nos momentos finais, sua personagem se destaca e realmente vislumbramos a sua força na atuação.

 Anastasia sendo despida pelo olhar do Sr. Grey


A diretora, Sam Taylor-Jonhson, tem no currículo o bom O Garoto de Liverpool, produção com o atual marido Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass), mas foi o curta Love You More, sobre adolescentes virgens que tem o seu primeiro experimento sexual que ajudou a cineasta a ser selecionada para comandar esta adaptação. A familiaridade de Sam com o desenvolvimento de cenas de sexo ajudou na construção dos momentos picantes de Cinquenta Tons de Cinza, sem nu frontal, as sequências são bem elaboradas e muito sensuais, sem ser explícitas, embora eu ache que um pouco mais de ousadia não iria desagradar a ninguém. 


Certamente a adaptação cinematográfica decepcionará os leitores mais “assanhados”, que esperavam mais “safadeza” no quarto vermelho, mas convenhamos, o conservadorismo ainda impera nos grandes estúdios de Hollywood. Para quem não leu o livro, o filme pode impressionar. Veja sem culpa, não chega nem a ser um pornô leve. Cinquenta Tons de Cinza não vai redefinir o gênero - diverte e até gera risos nervosos - mas abre espaço para a discussão sobre o sexo, espantosamente ainda um assunto tabu na sociedade.


NOTA: 7,0

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