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17 de novembro de 2013

Blue Jasmine



Uma mulher esnobe, instável, neurótica, desesperançosa, mas irresistível de uma forma que não consigo explicar. Seria uma personagem apenas detestável se a personagem não fosse de um filme de Woody Allen. Cate Blanchett é então, esta mulher plural e complexa em Blue Jasmine (2013), nova dramédia do cineasta septuagenário.

Falando em Cate Blanchett, essa brilhante atriz de talento ímpar, é de se esperar que Allen tenha escrito o papel de Jasmine especialmente para ela. Blanchett encarna a personagem com tamanha perfeição e dedicação que é difícil visualizar outra atriz em seu lugar. Jasmine é uma mulher sofisticada, acostumada com o luxo e as festas enquanto vivia com Hal (Alec Baldwin). Após o marido ser preso por fraude, ela perde tudo e tem início a sua decadência social. Sem ter para onde ir, ela vai morar com a meia-irmã Ginger (Sally Hawkins, ótima também) e seus dois filhos em um muquifo desconfortável - para os padrões de Jasmine - numa área não muito nobre da cidade de São Francisco.

Os novos "amigos"  sem glamour de Jasmine.

Sem o requinte da sua antiga vida, Jasmine terá que reconstruir a sua vida em uma nova cidade, arrumar um emprego e viver ao lado da irmã cafona e ter que aguentar seus amigos truculentos. É nesse ambiente que Allen nos mostra o quanto a personagem poderia ser desprezível. Ela critica o estilo de vida, o emprego e os namorados de Ginger, tem crises de superioridade, esnoba os amigos da irmã e tem constantes ataques nervosos. Porém, Blanchett, com sua sutileza e  experiência, humaniza Jasmine de tal jeito que não há como odiá-la totalmente, e tem momentos que realmente torcemos para que ela encontre um homem bem rico e seja feliz novamente.

Blanchett: uma mulher de talento

Blue Jasmine tem um compasso agradável, algo notável em outros filmes do diretor como Meia Noite em Paris e Scoop: O Grande Furo, os flashbacks constantes contribuem para isso. Como de praxe em uma obra de Woody Allen, aqui também estão os diálogos espertos e sarcásticos e a trilha composta de muito jazz,  no entanto, São Francisco não ganha muita força na história, ao contrário do que aconteceu em Vicky Cristina Barcelona e Meia Noite em Paris, em ambas as produções, a cidade e a cultura dos lugares se tornam tão importantes quanto os protagonistas.

Nesse drama, o holofote está mesmo em Cate Blanchett - certamente ela será lembrada nas próximas premiações - e na triste jornada de sua protagonista por um novo sentido na vida. Woody Allen, em seu trabalho mais dramático que suas produções anteriores, mostra que está disposto a experimentar - seja nas escolhas narrativas ou de novas locações - e aos 77 anos, ainda se encontra no auge de sua lucidez.

NOTA: 8,0

  
Woody Allen essencial


Meus filmes preferidos do cineasta:


- Match Point (2005): Um dos filmes mais bem sucedidos e idolatrados do diretor. Este é um thriller demasiadamente sensual protagonizado por Scarlett Johansson e Jonathan Rhys Meyers. Um romance adulto, inesperado e repleto de intrigas, desses que você precisa ver antes  de morrer.

                                 

- Scoop: O Grande Furo (2006): Depois do denso Match Point, Allen optou voltar às comédias românticas e recrutou, novamente, a bela Scarlett Johansson. A loira vive uma jornalista que acredita saber a identidade de um serial killer que tem aterrorizado a cidade. Daí durante a sua investigação ela se apaixona pelo tal suspeito, vivido por um charmoso Hugh Jackman. Engraçadíssimo e divertido filme.


- Vicky Cristina Barcelona (2008): Muita sedução, a apaixonante Barcelona como pano de fundo e um caloroso beijo lésbico entre Penélope Cruz e Scarlett Johansson nessa dramédia acima da média. Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Johansson) estão em Barcelona de  férias  quando conhecem Juan Antonio (Javier Barden) um homem sedutor que vai “sacudir” o mundo  das  duas  amigas.


- Tudo Pode Dar Certo (2009): Uma comédia bem gostosa de ver e que nos ensina tanto. Boris (Larry David) é um senhor meio hipocondríaco e sincero demais. Um dia ele conhece a linda e ingênua Melody (Evan Rachel Wood). Nova na cidade, a garota pede a Boris um lugar para passar a noite. A relação dos dois vai se intensificando até se transformar num casamento. A relação desse casal tão improvável e os diálogos hilários são o ponto forte da fita.



- Meia Noite em Paris (2011): Uma cativante comédia romântica ambientada em Paris e com uma história bastante ousada. Gil (Owen Wilson no melhor papel de sua vida, rs) é um roteirista que visita a cidade da luz com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e  seus pais.  Tudo está muito monótono na vida do rapaz até que, certa noite, ele é transportado para a década de 20. Lá, ele conhece seus maiores ídolos, como Picasso, Hemingway, Fitzgerald, Gertrude Stein, entre outros.  O filme aborda a inevitável insatisfação da época em que vivemos, e assim, sempre pensamos que nascemos na década errada ou que em outros tempos, a vida  era melhor.

11 de novembro de 2013

Como Não Perder Essa Mulher (Don Jon)



O ator Joseph Gordon-Levitt é talentoso, gente boa e tem carisma de sobra, nós sabemos disso, e ainda é dono de uma produtora colaborativa, a Hit Record. No entanto, ele ousou alçar voos mais altos e mostrar a todos outras habilidades. Com 32 anos, o ator se mostra bastante interessado em experimentar novos projetos e não ficar restrito à carreira de ator. Este ano ele decidiu seguir os passos de seus colegas George Clooney e Ben Affleck, resolveu escrever o roteiro e dirigir o seu próprio filme. Como Não Perder essa Mulher (Don Jon, 2013), é seu primeiro trabalho atrás das câmeras. Joseph também estrela a comédia e divide a cena com Scarlett Johansson - mais estonteante que em Match Point - e Julianne Moore.

De forma sucinta, Como Não Perder Essa Mulher é sobre a vida de um mulherengo antes - baladas, mulheres, sexo casual,  academia, igreja - e depois  de  começar um namoro - jantares, filmes românticos, academia, igreja. Porém, Johnny, o Don Jon, tem um probleminha, é viciado em pornografia, prefere muito mais a liberdade fantasiosa que ele tem assistindo e se masturbando com os pornôs do que o prazer de uma transa de verdade, porém limitada.

Scarlett: Uma mulher quase perfeita.

A fase Don Juan do protagonista acaba quando conhece uma loira extremamente atraente e bela - é ela, a Scarlett. Para Jon, é a mulher perfeita.  Mas em poucas semanas, a loira se mostra uma mulher bastante controladora e começa a comandar a vida do rapaz. Não sei se Joseph se inspirou em algum amigo para criar esta história, mas a figura do protagonista me parece muito com algumas pessoas com quem já me deparei na vida, exceto pela parte do vício em pornografia, claro.  Quem não conhece um cara que vive de academia e baladas à noite? O grande barato do filme é que o público vai se familiarizar muito com os tipos que despontam na tela.

Don Jon é uma comédia simpática, divertida, agradável de assistir (principalmente a dois), mas peca por alguns fatores que infelizmente não passam despercebidos. O roteiro didático e previsível e as excessivas repetições de cenas, que a certa altura, atrapalham o ritmo da trama. Mas a primeira experiência de Joseph na direção também tem seus “brilhos”.  Como a edição vertiginosa e o elenco, a sensualidade de Scarlett e uma despretensiosa Julianne Moore, cuja personagem tem uma relação estranha com o Johnny, e quando juntos, resultam em alguns bons momentos da produção. 


O próprio Joseph está muito à vontade vivendo o mulherengo Johnny, sem nenhum resquício de sutileza e com um tom de voz diferente, a sua performance se diferencia e muito de alguns papéis recentes que tem feito. Destaque ainda para os pais engraçados de Jon. O pai, é a versão futura do filho, marrento e pavio curto, já a mãe, está desesperada para que o filho encontre uma mulher e realize seu sonho de ser avó.

Como Não Perder Essa Mulher estreia em dezembro, se não adiarem. E sobre Joseph Gordon-Levitt atuando como cineasta, eu diria que ele se saiu bem, aposto que se houver um segundo trabalho do astro como diretor, certamente o resultado será superior à sua estreia.

PS: Fique atento para a participação hilária de Anne Hathaway e Channing Tatum.    
                 

NOTA: 7,0

Joseph Gordon-Levitt está sempre marcando presença no blog, Hesher, 50% e Perigo por Encomenda, são três filmes imperdíveis protagonizados pelo ator que eu já comentei aqui e que você precisa ver!

5 de novembro de 2013

Following - O primeiro quebra-cabeça de Christopher Nolan



O cineasta mais prestigiado do cinema atual, Christopher Nolan, cuja filmografia não há um risco sequer, Seja de baixo orçamento (Amnésia) ou blockbusters (A Origem, Trilogia Batman), as obras cinematográficas do inglês são todas imperdíveis, impecáveis do ponto de vista técnico e ousadas em termos narrativos.  

Já que estamos falando em narrativas, o primeiro trabalho do diretor, Following (1998), tem como principal atrativo a história, ou melhor, a forma como ela é contada. A trama é desenvolvida de uma forma não-linear, o que mais tarde se tornaria sua marca registrada. Following é uma espécie de “projeto” do seu filme seguinte, Amnésia, porém, é um “esboço” bem elaborado, intrigante e envolvente até o último minuto.

"Eu sigo pessoas".

O homem, que às vezes diz chamar-se Bill (Jeremy Theobald), é um aspirante a escritor, tem uma vida vazia e sua rotina baseia-se em seguir pessoas aleatórias nas ruas.  Para não ser percebido o jovem tem algumas regras, como nunca seguir o mesmo indivíduo mais de uma vez. No entanto, ele quebra essa regra quando Cobb, um dos “seguidos” vai ao encontro de Bill e lhe pergunta por que ele está sendo vigiado. Cobb (Alex Haw) é um ladrão. Ele entra e sai das residências para roubar pequenos objetos, principalmente coisas pessoais. Não demora muito para que os dois comecem a invadir as casas juntos, e a partir daí iniciam os problemas e as traições.

O primeiro longa-metragem de Nolan tem alguns fatos curiosos que são relevantes mencionar. Como vocês perceberam, Cobb também é o nome do personagem de Leonardo DiCaprio em A Origem. Outra coisa, numa determinada cena, há o símbolo do Batman estampado numa porta. Nem preciso falar mais nada né, certamente no final dos anos 90, Nolan, que lutou bastante para finalizar este filme -  as  filmagens duraram quase um ano, pois o elenco só tinha o fim de semana livre para filmar – não imaginaria que  sete anos mais tarde ele estaria lançando Batman Begins, o primeiro capítulo de uma trilogia mais que bem sucedida, e que se transformaria no cineasta mais requisitado e querido do momento.

Clima noir em Following

Como já disse, Following tem como principal triunfo a narrativa não-linear. O longa foi filmado em preto e branco, a produção é modesta, um traço que apenas ressalta a presença das personagens na produção e permite direcionar o nosso olhar exclusivamente para os dois protagonistas – misteriosos e interessantes  demais - e em suas ações, o que é ótimo.

O thriller é um delicioso quebra-cabeça cujas peças são jogadas na cara do espectador aleatoriamente. E elas somente se encaixam no último minuto da fita, desvendando aí um enredo intrincado - que vai e volta no tempo - e tão esperto que dá vontade de rever o filme assim que sobe os créditos. Como a produção tem apenas 69 minutos, uma reprise é bastante tentadora. Assista o trailer.


NOTA: 8,0

31 de outubro de 2013

The Kings of Summer (Os Reis do Verão)



A adolescência não é um período fácil. É aquela fase em que ansiamos desesperadamente tornarmos adultos para gozar da liberdade e da independência que os pais, pensando no nosso bem estar, tentam frear. É sobre esse rito de passagem que trata o elogiado The Kings of Summer (2013). A produção indie tem sido apontada por aí como uma mistura de Na Natureza Selvagem e Conta Comigo, é verdade, mas o longa juvenil também tem sua própria identidade o que o qualifica como um dos filmes mais simpáticos do ano.

Joe (Nick Robinson, da série Melissa and Joey), Patrick (Gabriel Basso, do filme Super 8 e da ótima série The Big C) e Biaggio (Moises Arias, de Hannah Montana) são três amigos que decidem fugir de casa e resolvem construir uma “casa” no meio de uma floresta. Joe está fugindo da severidade  do pai, que ficou mais rancoroso após a perda da esposa. Já Patrick, foge de casa em razão do comportamento excêntrico e super protetor dos pais.


27 de outubro de 2013

O Conselheiro do Crime



Ao término da sessão do novo filme de Ridley Scott, O Conselheiro do Crime (The Counselor, 2013), a única cena realmente memorável que ficou na minha mente é a da personagem Malkina (Cameron Diaz arrasando) em um momento sexual e bizarro em cima de um carro. Não por acaso, é a loira atriz quarentona que surpreende e se destaca na produção composta por um elenco de peso com nomes como Michael Fassbender, Javier Barden, Brad Pitt e Penélope Cruz.

Bom, já que a obra do prestigiado cineasta é tão morna que dá preguiça de escrever sobre a trama, vou falar mais sobre a Cameron Diaz e sua atuação hipnótica, de longe, a melhor qualidade do filme.  Malkina, sua personagem, exala frieza, agressividade e outras impressões negativas desde o primeiro momento em que surge em cena.  Minhas impressões são confirmadas pouco tempo depois, na cena em que contracena com Penélope Cruz, instantes de muita sensualidade e diálogos ambíguos. Um dos bons momentos da fita.

Diaz: sexy e fatal.

Diaz está incrível, ofusca o seu parceiro de cena Javier Barden - bem caracterizado fisicamente mas numa performance sem muito brilho - e seu desempenho como uma mulher complexa e dúbia bem que poderia lhe render ao menos uma indicação ao Globo de Ouro, este seria um bom momento para a atriz desviar um pouco da imagem de comediante e mostrar a todos sua versatilidade.

Com um elenco invejável, obviamente que este não é o defeito do filme. O Conselheiro do Crime peca pela linearidade do roteiro de Cormac McCarthy (autor de A Estrada) e pelo texto rebuscado. Alguns diálogos são maravilhosos, é verdade, mas há outros que soam forçados demais e destoam da realidade ficcional.

Barden e Fassbender em cena.

Sobre a trama, vamos lá, um conselheiro (Fassbender, competente como sempre) decide participar de um negócio ligado a tráfico de drogas a fim de ganhar dinheiro fácil. Sabemos desde o começo que ele vai se dá mal e todos avisam das consequências que está sujeito a sofrer e dos dilemas morais que enfrentará. Daí quando algo sai errado, o roteiro mostra suas fraquezas, e o efeito disso é que o espectador não sente - e não vê - que ocorreu uma "reviravolta" e fica perdido até o último ato. Não sei, talvez estejamos muitos acostumados com os formatos do suspense hollywoodiano com suas reviravoltas mais incisivas, quem sabe a ideia de McCarthy era justamente entregar uma obra que fugisse do "arroz com feijão". Também penso que se a trama fosse não-linear, a exemplo de 21 Gramas, o resultado poderia ser melhor e a jornada infinitamente mais interessante.

No geral, O Conselheiro de Crime tem bons momentos, que funcionam separadamente, mas em um quadro geral, o resultado é frustrante. E desde Hannibal o Sr. Scott ainda continua devendo um bom filme aos fãs.


NOTA: 5,5
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