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28 de agosto de 2016

Looking – O fim precoce da série




Em 2011 estreou Weekend, um drama independente de temática gay que arrancou elogios da crítica especializada. A abordagem realista e intimista da relação entre dois homens foi considerada, na época, seu maior acerto (e é mesmo). Três anos depois, estreia na HBO a série Looking, do mesmo criador desse filme, Andrew Haigh. Looking possui muito em comum com Weekend, e isso talvez tenha prejudicado a série, retratar o universo gay com tanta honestidade não deu certo, a comunidade LGBT não apoiou a produção, a audiência caiu e a série foi cancelada com apenas duas (ótimas) temporadas, mas o lado bom é que a HBO produziu Looking – O filme (2016), a fim de dar um desfecho digno às histórias dos protagonistas e, também, não deixar os fãs na mão.

Contextualizando, Looking é ambientada em São Francisco e narra os sabores e dissabores de três amigos gays, Patrick (Jonathan Groff), Don (Murray Bartlett) e o barbudo Agustín (Frankie J. Alvarez). Lá no início da série, cada um deles se encontrava em estágios diferentes da vida, Agustín estava em um relacionamento aparentemente estável, Don, o mais “velho”, vivia carente e numa crise de idade, por fim, Patrick, aos 29 anos, tentava a sorte em aplicativos de encontro (especificamente o Grindr), mas sempre saia frustrado dos encontros casuais.  


No último e fantástico capítulo, testemunhamos o final feliz, otimista e bem novelesco dos três protagonistas. Agustín encontrou o homem de sua vida, mesmo temendo desapontar o parceiro, casou-se com Eddie (Daniel Franzese), tornando o tipo gay que ele tanto criticou durante a série. Don, tardiamente, realizou-se profissionalmente, dedicou-se mais ao trabalho e  menos aos prazeres, mas é claro, ele também se arranjou com um “boy” no final da série.   

Já o sonhador e inseguro Patrick, que se viu envolvido em um triângulo amoroso com o latino Richie (Raúl Castillo) e o seu chefe, Kevin (Russell Tovey), passou um ano fora da cidade e retornou para rever seus amigos e resolver as pendengas de sua vida amorosa. Com ares de comédia romântica – mas com diálogos bem mais inteligentes – Patrick escolheu Richie, mas antes disso, teve que colocar um ponto final na sua relação com o Kevin, na cena mais emocionante, dolorida e verdadeira da série.

Looking era uma série cuja a maior força eram os diálogos espertos, as cenas de sexo surgiam naturalmente, como resultado de ações perpetradas pelos personagens, o sexo nunca era gratuito. Andrew Haigh, diretor e roteirista da série, também apostou na melancolia, na abordagem cautelosa e honesta de questões atuais inerentes ao público gay, mas por ser “comportada” demais, foi criticada (o que também aconteceria caso a série fosse tão extravagante quanto a Elke Maravilha).



Looking foi rechaçada pelo seu próprio público-alvo simplesmente porque eles queriam, não suportaram ver seus discursos hipócritas escancarados na telinha, bem como o preconceito que os gays têm com eles mesmos.

A série também foi acusada de estereotipar os gays, o que não é verdade, a diversidade dos personagens está lá para qualquer um ver: tem o latino cabeleireiro (Richie), o magro baixinho (Agustín), o gordinho barbudo e soro positivo (Eddie), o quarentão (Don) que ainda não se encontrou na vida, o nerd (Patrick) inseguro que busca nos aplicativos o “parceiro ideal” e o bonitão (Kevin) que tem namorado, mas adora uma "relação aberta", pois quer variar o “cardápio” o máximo possível – tipo muito comum e fácil de encontrar por aí. Bem, se isso não é diversidade, não sei o que é.



O trunfo maior de Looking foi transpor para as telinhas questões vividas pela geração atual, como a já citada relação aberta, os encontros casuais marcados por aplicativos, o fato de ser gay aos 30/40 anos, o preconceito dentro do próprio mundo gay, entre outros, mas parece que ninguém entendeu a abordagem intimista do seriado, o que me faz pensar que, se a série fosse mais “picante”, talvez agradasse mais o público, mas daí eu estaria estereotipando esse espectador  e o chamando de superficial. Consegue ver a contradição?

Mas o contraditório mesmo é ter uma comunidade que tanto preza por representatividade, não apoiar a única série que retratava, em sua totalidade, o universo LGBT.  Reclamaram que os personagens não faziam jus à realidade, mas aconteceu o inverso, o público esperou uma visão “romanceada” e “ilusória” do mundo gay, para tentar melhorar a autoestima e “esquecer” por alguns minutos a vida cruel “fora do armário”, ao invés disso, deparou-se com Patrick, Don e Agustín, personagens muito reais, com dramas verdadeiros e comuns.



Entre o fim de Queer as Folk - primeira série totalmente gay e Looking, passaram-se 9 anos, provavelmente outros dez anos vão passar até surgir mais uma série voltada a esse público. Looking tinha ainda muito a dizer, foi um fim precoce e deixará saudades, mas sem dúvida alguma deixou um legado, quer você queira ou não, para a comunidade gay.

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