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5 de junho de 2016

Deus Branco (White God) revigora os “filmes de cachorro”





Uma garota pedala pelas ruas desertas de Budapeste, quando surge atrás dela centenas de cães avançando rapidamente, furiosos, e aparentemente sedentos por vingança contra todos aqueles que os maltrataram. É dessa forma, que inicia o surpreendente Deus Branco (White God, 2014), pela cena inicial já percebemos que esse não é um “filme de cachorro” comum, do tipo que é exibido na Sessão da Tarde, a obra do húngaro Kornél Mundruczó é forte demais em comparação aos bobos dramas caninos que passam na telinha (os quais não tenho a menor paciência), mas já pode ser considerada a obra-prima desse subgênero.


Já no começo do longa, numa cena que demonstra uma relação bem fria entre as personagens, a garota Lili (Zsófia Psotta) é deixada pela mãe aos cuidados do pai, que deve ficar com ela por um tempo. Lili traz com ela, o Hagen, o seu cachorro. O pai, que não suporta o cão, obriga a filha a deixá-lo na rua. Eis aqui, mais uma cena tocante e incômoda. 



A metade do filme se concentra em duas narrativas paralelas, a do Hagen (“interpretado” muito bem por dois labradores gêmeos, o Luke e o Body), passando por maus bocados pelas mãos de homens inescrupulosos, e a de Lili, que tenta ter uma vida normal de adolescente, enquanto procura pela cidade o seu cachorro. 


O último ato de Deus Branco é o melhor de todos, o drama ganha ares de suspense hitchcockiano, repleto de momentos brutais e sequências protagonizadas por cachorros agindo como “humanos” de um jeito nunca visto no cinema, é nesse ato que 200 cachorros  saem pelas ruas furiosos e vingativos (vale ressaltar, são cães de verdade, não são computadorizados, o que torna a experiência ainda mais impressionante) causando uma revolução canina e provocando histeria e pânico na população humana. 



Deus Branco pode ser um filme “cruel” demais para quem está acostumado com os “Marley e Eu” da vida, mas nada é em vão, há muita crítica social e política embutida na história, a questão de superioridade de raça também é explicitamente abordada no enredo, criticando o homem pela sua hostilidade para com os cachorros, quando não os usam para fins condenáveis, relação desenvolvida principalmente com aqueles animais que não são de raça. Não por acaso,  a maioria dos personagens “humanos” no filme possui atitudes duvidosas. 


Mas apesar de conter cenas fortes, há também muita poesia na história, a cena final é um exemplo disso, impactante e belíssima ao mesmo tempo. Deus Branco, além de revigorar os “filmes de cachorro”, ser um produto de entretenimento de qualidade, ganha mais relevância por motivar a discussão acerca da relação homem x animal. Se o diretor e o elenco conseguiram estabelecer uma relação de cooperação entre raças para filmar essa obra, então é possível que homem e cão possam viver em harmonia, sem julgamentos, violência e senso de superioridade. Assista ao trailer!


Obs.: Não só o filme foi premiado nos festivais afora, os labradores que interpretam o Hagen, também foram laureados com o prêmio de melhor atuação canina em um filme. Merecidíssimo.



NOTA: 9,0

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